COLUNISTA CONVIDADO: Cláudio Busu - Seria o Nazismo um movimento de esquerda?

08/04/19 - 16:28

O uso político dos termos esquerda e direita é referenciado na Revolução Francesa, em 1789, quando os liberais girondinos e os extremistas jacobinos sentaram-se respectivamente à direita e à esquerda no salão da Assembleia Nacional.

 

Os direitistas pregavam uma revolução liberal, a abolição dos privilégios da nobreza e estabeleceram o direito de igualdade perante a lei somente. Já os esquerdistas também defendiam o fim dos privilégios para nobreza e clero, mas eram favoráveis a um regime centralizador que promovesse a igualdade de fato e não somente de direito conforme a lei.

 

Existe um consenso acadêmico, ou seja, o consenso entre os historiadores, é de que o nazismo era um movimento localizado na extrema-direita do espectro político. A argumentação dos historiadores utiliza a análise do discurso do próprio Hitler e da ideologia do Partido Nazista, bem como dos fatos históricos e dos grupos de apoio aos nazistas, que eram grupos políticos e paramilitares de direita.

 

Afirmar que o nazismo era um regime da extrema-direita não significa negar que existiram movimentos ditatoriais da extrema-esquerda, como foi o caso do governo de Stalin, na União Soviética, ou de Pol Pot, no Camboja.

 

No caso do nazismo, a conceituação vigente entre os maiores historiadores do mundo é de que se tratava de um regime de extrema-direita, pois, como mencionado, a sustentação do partido ocorreu por meio do apoio de grupos conservadores e paramilitares da direita alemã. Com uma análise minuciada das características do Partido Nazista, é possível identificar melhor essas questões.

 

Uma característica central da ideologia nazista eram os ataques ao marxismo e ao comunismo soviético. O desprezo ao comunismo era um elemento central da ideologia nazista. O temor ao comunismo, inclusive, é levantado pelos historiadores como um dos fatores que alavancaram o nazismo na Alemanha.

 

Na Alemanha durante as décadas de 1910 e 1920, as ideias comunistas eram muito influentes e possuíam muitos adeptos. A respeito dessa questão, o historiador Ian Kershaw menciona o fato de que os escritos de Hitler denotavam que ele não havia estudado marxismo e ainda que Hitler almejava ser o destruidor do marxismo.

 

O resultado dessa busca de Hitler pela destruição do marxismo, representado no comunismo soviético, deu origem a uma geração de alemães que, a partir de uma extensa doutrinação, via no comunismo e nos judeus duas coisas que deveriam ser destruídas, como evidencia o historiador Max Hastings.

 

O antimarxismo dos nazistas ecoava em parcela com o antissemitismo. Isso se explica pelo fato de que os nazistas acreditavam que o comunismo soviético era parte de um plano dos judeus de dominação internacional. Essa ideia conspiracionista em relação aos judeus foi fortemente influenciada na época por uma publicação anônima chamada Os Protocolos dos Sábios de Sião.

 

No caso do antimarxismo, podemos citar também os freikorps, os grupos paramilitares que apoiavam o nazismo durante a década de 1920 e promoviam ataques contra os seus opositores ideológicos. Assim, foram comuns casos de grupos paramilitares que perseguiam e agrediam social-democratas (centro-esquerda) e marxistas/comunistas (esquerda).

 

Na questão da economia, há muita confusão, sobretudo pelo fato de o nazismo ter sido um partido antiliberal. Isso porque Hitler só aceitava uma economia capitalista que estivesse sob o poder do Estado, negando que o desenvolvimento capitalista acontecesse no livre mercado. De toda forma, o direito à propriedade privada era garantido dentro do Estado nazista e, conforme pontua Ian Kershaw, Hitler distinguia “capital industrial” de “capital financeiro”. O primeiro era visto de maneira positiva, e o segundo, de maneira negativa, uma vez que estava supostamente nas mãos dos judeus, o grupo visto como o responsável por todo o mal que a sociedade alemã enfrentava.

 

Outro ponto importante está na confusão acerca do nome do partido: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Essa nomenclatura fazia parte da propaganda do partido para atrair pessoas. Nesse sentido, utilizavam-se termos de dois movimentos bastante populares à época: o nacionalismo e o socialismo. Ambos os movimentos tinham inúmeros adeptos na Alemanha da época.

 

Até as cores do partido foram pensadas por Hitler como forma de atrair pessoas para o nazismo. Esse tipo de propagandismo a partir da nomenclatura foi utilizado por outros partidos ao longo da história. Um exemplo que é amplamente considerado atualmente é o caso da República Democrática da Coreia ou, simplesmente, Coreia do Norte, que, apesar do nome, sabemos que não tem nada de democrática.

 

Por fim, é importante especificar que esse debate de o nazismo ser de esquerda não existe entre os meios acadêmicos, uma vez que a sua legitimidade nos fatos históricos não é comprovada pelos estudos feitos sobre o tema.

 

Conforme citamos acima,  a esquerda busca a igualdade de fato e não somente de direito entre as pessoas, variando principalmente no grau de interferência do Estado na sociedade.

 

Enquanto isso, temos na direita temos o estado apenas existindo para garantir a igualdade legal, sendo que compete a cada individuo de forma individualizada buscar o seu desenvolvimento e conquista de seu espaço.

 

Esse conceito é radicalizado no nazismo, ao incluir o elemento racial, pregando inclusive a destruição de outros povos e nações em detrimento da raça ariana e do povo alemão.

 

Por este ponto fundamental é que podemos concluir que o Nazismo não um movimento de esquerda, pois não pactua com a igualdade de fato entre os homens e combate principalmente a construção de uma comunidade internacional que integre todos os povos, sendo este fator uma afronta direta ao nacionalismo de Hitler.

 

Cláudio Ribeiro Figueiredo

Advogado Especialista em Direito Público

 

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