Moradores se unem e revitalizam espaços públicos

16/07/19 - 15:22

Grupo de moradores varre a Praça do Carmo. Foto Geraldo Magela
Grupo de moradores varre a Praça do Carmo. Foto Geraldo Magela

Uma prova de que, quando os próprios vizinhos de uma comunidade se unem em prol de um mesmo objetivo, sem depender exclusivamente do setor público, é possível realizar benfeitorias que melhoram a qualidade de vida de todos ao redor é o recente movimento de reforma, limpeza e até construção de parque infantil em duas praças da cidade: a Praça Clarindo Cassimiro (pracinha do Carmo) e o entorno da Lagoa do Cercadinho.

 

Tudo começou quando o produtor cultural Geraldo Magela Pontes (o Geraldinho do Caldo da Lua, como é conhecido) publicou em seu perfil do Facebook, no final de março, uma aflição e, ao mesmo tempo, uma convocação. "Me preocupa muito ver nossas crianças preencherem o seu tempo, na maioria das vezes, quando não estão na escola, sozinhos diante das TVs ou com celulares e tablets. Estão perdendo uma grande oportunidade de desenvolver outras capacidades motoras e oportunidades de convívio e interação social através de atividades lúdicas que uma praça pode oferecer", lamentou.

 

"Acho frustrante e inaceitável morar perto de uma praça e não podermos proporcionar para as nossas crianças a oportunidade de brincarem, de se inteirar com outras crianças. Importante considerar também que a praça é uma vitrine do comércio local. O seu visual, somado a uma boa gastronomia, se transforma em um potencial ponto de encontro familiar e turístico", escreveu Geraldo Pontes.

 

Diante da constatação de que a praça Clarindo Cassimiro estava praticamente abandonada pelo poder público, com mato, lixo e um parque infantil em condições precárias de uso, a ideia do produtor, então, foi realizar um abaixo assinado reivindicando reforma da praça, a criação de uma comissão de moradores, a realização de mutirões de limpeza com apoio dos moradores e comércio local, levantamento de preços das reformas dos brinquedos, além da pintura e poda de árvores e mato pelo setor público.

 

De lá para cá, foram várias reuniões e mutirões, contando com a parceria de moradores, alunos do Mexa-se, voluntários do Observatório Social e também com apoio da Prefeitura na limpeza e capina. A segunda etapa, agora, é a reforma do parquinho infantil e a volta do Programa Mexa-se à praça. A iniciativa privada também participa. "A Gerdau tem um projeto em que a empresa ajuda com mão de obra e alguns materiais", conta Geraldo Magela.

 

Lagoa do Cercadinho ganha parque infantil

Aprovando a ideia, um grupo de moradores do bairro Mangabeiras se uniu para construir um parque infantil no entorno da Lagoa do Cercadinho, no bairro Panorama. Alguns moradores deste bairro também se juntaram à causa. "Fizemos um orçamento inicial e vimos que a obra ficaria em torno de R$3.800, com sete brinquedos. Daí partimos para a sensibilização dos moradores. Foram mais de 50 doadores, alguns deles até sem filhos e netos, pelo prazer de ajudar, cada um ajudando com R$70", conta o morador Daniel Fernandes. 

 

Enquanto os moradores entraram com o dinheiro, a Prefeitura fez sua parte cedendo alguns funcionários para a montagem dos brinquedos. A associação Cooperlíder também ajudou financeiramente com uma parte das obras. Madeiras, correntes, cordas, pregos, ferragem e cimento. Em menos de duas semanas, mesmo antes da conclusão da montagem, já era possível ver crianças e pais se divertindo. "Adorei o parquinho. Quero vir aqui todo dia", comemora Marcela Andrade, de seis anos.

 

Mais gente que cuida

Geraldo Magela e Randolfo Pontes são apenas dois dos vários exemplos de moradores que, com ou sem apoio do poder público, resolveram sair de suas zonas de conforto (ou desconforto) e agir por suas localidades. Outros casos não faltam. No início do ano a empresa JG Gráfica adotou a reforma da praça do bairro Esperança, próxima à Apae. No bairro Canaan, desde 2014 o senhor Erb, de 84 anos, varre e retira as folhas secas da praça Martiniano de Carvalho. 

 

Outro idoso, conhecido como "Sô Jusa", de 94 anos, fez sozinho um canteiro na av. Prefeito Alberto Moura, próximo à Paróquia do Divino Espírito Santo, no bairro Montreal, com plantas medicinais e árvores frutíferas, em abril deste ano. Outro aposentado, senhor Marcelo, conhecido como Pica Pau, de 79 anos, também morador da mesma avenida, cultiva várias plantas em volta do córrego alguns metros abaixo. Alunos-atletas dos núcleos de Sete Lagoas do projeto Conexão Sk8 e uma equipe da Associação Natividade, idealizadora do projeto, revitalizaram esta semana a pista de skate do Parque Náutico do Boa Vista, para a 1ª Copa Conexão Olímpica de Skate, neste sábado, 13. 

 

"Aos poucos estamos percebendo uma reação silenciosa e pacífica da sociedade no sentido de resgatar os espaços públicos. Vimos isso na Serra de Santa Helena, na Praça do Carmo e, agora, também na Lagoa do Cercadinho. Belo exemplo que poderia expandir para outros espaços da cidade como, por exemplo, a Praça Tiradentes e a própria Praça da Prefeitura, tão carentes e abandonadas", afirma o presidente da Associação dos Moradores do Mangabeiras (Ascoman), Juarez Fernandino.

 

Xará ainda cuida da praça

Enquanto isso, do outro lado da cidade, no bairro São Pedro, o aposentado Randolfo Pontes, conhecido como Xará, lamenta o que foi feito pela Prefeitura com a praça Inilta Reis Campolina, conhecida como "Praça do Xará". Em setembro do ano passado, atendendo a uma recomendação do Ministério Público, a Secretaria Municipal de Obras destruiu várias benfeitorias feitas no local por Randolfo, como uma mini-biblioteca com mais de 700 títulos, fogão a lenha, um parquinho infantil, um mini lago com peixes, viveiro com patos e galinhas e a supressão de várias árvores frutíferas. 

 

Depois de meses abandonada, com mato alto, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente realizou um paisagismo no local, com plantas ornamentais. "Ficou bonita, mas ninguém vem mais aqui. As crianças sumiram", lamenta Xará, que recebia excursões de várias escolas da cidade, além de famílias com crianças nos finais de semana. Nem a academia ao ar livre, localizada no meio da praça, é mais utilizada. "Mesmo eu tendo uma dívida no SAAE de R$80 mil, venho aqui todo dia regar as plantas", afirma. Saudoso dos tempos em que a praça era frequentada, ele não pede muito do poder público. "Podiam pelo menos fazer um passeio em volta da praça e também melhorar a iluminação. De noite fica muito escuro".

 

 

Marcelo Sander

 

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Novos brinquedos fazem a alegria da meninada na Lagoa do Cercadinho. Foto Marcelo Sander

 

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Sô Juça (esquerda) e o senhor Erb cuidam, respectivamente, de um canteiro central na Av. Prefeito Alberto Moura, e da praça do bairro Canaan. Exemplos! 

 

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Xará lamenta ausência das crianças que antes brincavam na praça. Foto Marcelo Sander

 

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