Coluna Católica

Presépio: os afetos não são recalcados!

17/12/23 - 09:00

Por Padre Evandro Bastos

A preparação para o Natal é considerada pela Igreja um tempo de conversão. Uma oportunidade de rever os rumos da vida e encontrar um caminho novo. Uma proposta bastante libertadora com objetivo claro: dar significado para o que está sendo vivido, buscando as transformações necessárias para a real felicidade. Muita gente se perde apenas nas luzinhas e consumismo, e não consegue aproveitar melhor esse tempo.

Os elementos culturais desta época costumam ser os encontros em família, as confraternizações, os balaços do ano e planejamentos para o ano seguinte. Mas o grande símbolo, criado pela história de um dos grandes místicos da Igreja, São Francisco, é o presépio. A representação da família excluída e sem lugar, que na cidade, cheia de preocupações, não reconhece o humano e deixa passar o essencial, o desejo, o sonho, a verdadeira busca de sentido.

Sempre gostei de admirar o presépio pela possibilidade inclusiva que ele traz. Entrar na cena descontextualizada e atemporal, permite uma visão mais realista do nascimento que chamamos “evento salvífico”: a humanização de Deus que, encarnado, vem fazer parte da nossa história. Diante deste dado é possível sentir as emoções mais intensas e uma aproximação que transcende nossa frágil condição. Sugiro inclusive, colocar algo da sua caminhada, da sua vivência, da sua realidade no presépio.

Quando contemplo um presépio e mais, quando posso entrar na gruta e tocar a imagem de um Deus menino, tenho um sentimento que não pode ser recalcado. A diferença está no fato de que muita coisa do natal é apenas sintoma da nossa carência. Isso mesmo: consumir para não se angustiar com a falta, comer para suprir o vazio de sentido, presentear para pedir atenção. Entretanto, o gozo real é conseguir ENCONTRAR-SE na revelação possível de uma humanidade que pode se superar, que é capaz de SER.

 

Padre Evandro Bastos

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