Dra. Morgana Kummer - A dor e o luto após um aborto espontâneo

08/05/20 - 14:19

Durante a minha experiência como ultrassonografista, tenho lidado com mulheres que têm sua gestação interrompida e sou eu quem tem que dar essa notícia tão difícil. Não é nada fácil dizer para uma mulher que aquele sonho que estava se gerando dentro dela não existe mais… 

 

A gravidez, quando sonhada e desejada, ou mesmo aquelas que nos pegam de surpresa, vem acompanhada de muitos desejos, motivações e expectativas. É uma montanha russa de sentimentos. Mesmo que ainda seja um pequeno embrião, a sua perda causa uma dor emocional difícil de amenizar. 

Quanto mais tempo de gravidez, maior é o laço emocional da mãe com o seu bebê. Ela sente os enjoos, as cólicas, os chutes. Descobre-se o sexo, dá-se um nome, planeja-se um quartinho e o sonho vai crescendo junto com a barriga. Só quem realmente sofre uma perda sabe como é. Os familiares e amigos nem sempre conseguem dar o apoio que a mulher precisa naquele momento, muitas vezes dizem coisas do tipo “não se preocupe! Logo você engravida de novo!” ou “não precisa chorar, isso acontece!” ou simplesmente as pessoas desaparecem por não saberem como lidar com a situação.

Nenhuma gravidez substitui outra. Simplesmente não é assim que funciona. A mulher pode ter muitos filhos, mas vai sempre se lembrar daquele que, um dia, ela perdeu.

 

A perda de algo tão especial requer um certo tempo de lágrimas e dor. O luto é isso: elaborar a perda gradativamente para continuar vivendo a vida. Freud dizia que “O luto é um processo lento e doloroso, que tem como características uma tristeza profunda, afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre o objeto perdido, a perda de interesse no mundo externo e a incapacidade de substituição com a adoção de um novo objeto de amor.”

 

A família em volta consegue elaborar a perda com mais facilidade, mas para mãe o processo é lento e não tem tempo definido para terminar. A mulher precisa se entristecer, sentir a perda, chorar, pois é lado a lado com a dor que se consegue elaborar tudo e dar lugar à saudade. A mãe precisa falar e se expressar, tudo no tempo dela, para conseguir sair dessa tristeza de maneira psicologicamente saudável. Ela precisa nesse momento é de empatia (não é tentar ser simpático, é se colocar no lugar do outro, sem julgamentos), de pessoas que compreendam seu sofrimento sem tentar anulá-lo. É ser o ombro amigo para ouvir, não pra tentar achar saídas. É oferecer o colo ou simplesmente chorarem juntos.

 

Quantas vezes eu escutei: “doutora, que foi que eu fiz de errado?”. A mulher tenta de todas as formas encontrar uma razão em que possa colocar toda a culpa. 

Então, se você sofreu isso ou está passando por isso agora, espero sinceramente que seu luto seja real e bem elaborado. Chore, fale, ponha pra fora aquilo que te angustia com alguém de sua confiança, amigo ou terapeuta, para que você, em breve, possa estar aberta pra vida e para as coisas maravilhosas que ela ainda tem a te oferecer!

 

Dra. Morgana Kummer

Especialista em Ultrassonografia Geral

 “Clínica de Ultrassom Dra. Morgana Kummer”

(31) 3177.0212 e (31) 9 9391.0212

http://dramorgana.com.br

 

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