Amor em dobro

11/08/17 - 10:24

O casal de jornalistas Marina Torres e Marcelo Paiva, ela da Embrapa Milho e Sorgo e ele da Câmara Municipal de Sete Lagoas, completou recentemente um ano de "nova vida". Ou melhor: novas vidas. São pais dos gêmeos Melissa e Mateus. Uma gravidez complicada, que o pai de primeira viagem resolveu contar em um blog publicado há cerca de quatro meses. 

 

Até o momento, são 13 textos onde Marcelo conta sobre a gravidez de Marina, as experiências, medos e expectativas. "A cada mês escrevia sobre o desenvolvimento dos dois e as providências relacionadas com a casa, enxoval, ansiedade e tudo o que envolve a chegada de duas crianças na família", conta o jornalista. Por serem prematuros, os bebês ficaram no hospital após o parto, ocorrido em Belo Horizonte, e Marcelo fez diariamente a "via crucis" Sete Lagoas - Beagá - Sete Lagoas durante os pouco mais de 30 dias em que esposa e filhos - ela na casa da mãe e eles no hospital - ficaram por lá. Quer saber mais? Acompanhe a entrevista a seguir ou leia em paidegemeos.wixsite.com/paidegemeos

 

Como surgiu a ideia de criar o blog?

Criei o blog para divulgar minha experiência como pai depois de perceber que ainda existem pais que nunca trocaram uma fralda ou deram um banho quando os filhos eram bebês. Não sabem o que perderam. Escrevi os textos sem a intenção de divulgar. O objetivo, no começo, era guardar as memórias para mostrar para os pequenos no futuro. Tanto que criei o blog e divulguei os textos quando Melissa e Mateus completaram um ano.

 

E como tem sido a receptividade dos leitores?

Divulgo o blog basicamente nas redes sociais. Um retorno que chamou minha atenção foi de uma mãe que lamentou o marido nunca ter ido a uma consulta do pré-natal do filho. Um momento único na vida do casal. É realmente lamentável porque é a hora em que nossas esposas precisam mais de companheirismo e de se sentirem seguras e o pai não está presente. 

 

Na lateral do seu blog há três mantras: "Compartilhe suas experiências", "Busque sempre viver com qualidade" e "Os filhos nos tornam pessoas melhores". O que essas frases significam para você?

Muito, porque quando a gente compartilha nossas experiências com outras pessoas que vivem a mesma situação, a gente cresce muito, aprende e se sente mais seguro. É um mundo completamente novo que estamos experimentando e precisamos compartilhar momentos para ter mais segurança mesmo. Tudo o que acontece ao longo do dia a gente leva para casa no fim da tarde, por mais que busquemos nos desligar, é inevitável. Quando temos filhos, precisamos de tempo com qualidade para eles. Por esse motivo busco, a cada dia, em todos os setores da vida, viver com mais qualidade para mim e, consequentemente, para a família. Os filhos nos tornam pessoas melhores porque queremos que eles sejam melhores que a gente. No trânsito, em casa, no trabalho ou em qualquer lugar, tento ser uma pessoa melhor do que eu era. Apesar de os dois terem apenas um ano, já se espelham e repetem o que fazemos. Acho que é automático a gente buscar ser melhor do que era quando os filhos chegam. Hoje me acho uma pessoa melhor do que era antes da chegada deles.         

 

Você diz no blog que homens são mais restritos ao contar suas expectativas sobre a gestação da mulher entre amigos. Por que acredita nisso?

Porque no meio em que convivo meus amigos não falam abertamente sobre medos, angústias e expectativas durante a gravidez das esposas. Talvez meu ciclo de amizades não seja tão legal assim (risos). Com os filhos nossas amizades também mudam um pouco. Acho que é natural conviver e conversar mais com casais que estão em momentos parecidos. Mas os grandes amigos sempre ficam.  

 

Tem uma frase que diz que "quando nasce um filho, nasce um pai". Quando você olha para o Marcelo Paiva antes e depois da paternidade, o que mais mudou em você?

Quase tudo (risos). A maneira de ver e viver a vida muda muito. E no dia-a-dia mesmo tudo o que a gente faz, das coisas mais simples a tomadas de decisões mais importantes, é preciso pensar que tem duas pessoinhas que dependem da gente. A visão sobre a vida e as atitudes são as coisas que mais mudaram. A gente passa a entender melhor os nossos pais e nossas relações familiares também melhoram, amadurecemos muito com a prole.

 

Vocês fizeram pré-natal compartilhado em Sete Lagoas e em Belo Horizonte. Como avalia os dois atendimentos?

Foi um desafio grande encontrar um profissional que nos passasse a segurança que a gente precisava por ser uma gestação de gêmeos e até de risco, por um dos bebês ter ficado com a placenta prévia. Tanto aqui como em Belo Horizonte fomos bem atendidos, mas acredito que faltam aos médicos em geral um atendimento mais humanizado. Muito se fala nisso hoje em dia e é verdade, não generalizando, é claro. Mas é preciso sim que os médicos tenham mais atenção e cuidado com cada paciente.

 

Imagino que voltar para a casa sem os filhos, por conta da prematuridade, seja uma sensação horrível. Como foi esse período sendo pai sem estar com os filhos e com a esposa?

Realmente não era fácil ver as coisas deles em casa sem eles comigo. Mas a convivência com outras famílias que passavam pela mesma situação durante as visitas na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) nos fortaleceu e fez entender a necessidade de eles ficarem lá. Até falava com Marina que cada dia na UTIP dava um livro por conta de cada uma das histórias das famílias que estiveram conosco. Por isso falo que compartilhar experiências nos faz crescer. Conhecemos, no hospital, um casal com filhos gêmeos que convivemos até hoje. Foi um mês de muito aprendizado que serviu para fortalecer nossa fé. 

 

No início, óbvio, deve ter sido barra pesada cuidar de dois bebês de uma vez, ainda mais sendo pais de primeira viagem. Quem mais ajudou?

Põe barra pesada nisso. Minha sogra ficou um mês na nossa casa e até hoje nos socorre quando precisamos. Minha mãe também deu plantão, fora os tios, amigos e familiares. A presença das nossas famílias foi fundamental no início porque os primeiros meses foram os mais difíceis pela prematuridade. São muitas recomendações médicas e a atenção de todos foi fundamental para que déssemos conta. No início, dia ou noite, de três em três horas impreterivelmente, tínhamos que alimentar os dois. O “staff” ajuda no que pode, mas a mãe é quem mais “sofre” no começo. Por isso é importante um pai sempre presente para apoiar e ajudar mesmo.  

 

O blog ficou um tempo "ocioso" após o nascimento dos gêmeos, só voltando a ser atualizado no mês passado. Aposto que tem muitas histórias pra contar desse período... Serão pauta de posts também?

Na verdade, os textos já estavam prontos desde o nascimento deles. Só decidimos divulgar depois de um ano. Já contei lá sobre o primeiro ano de vida deles. Mas vou sim contar mais da vivência de Mateus e Melissa lá. 

 

Se pudesse apontar a principal vantagem e a principal desvantagem em ter gêmeos, quais seriam?

A principal vantagem é a de criar duas crianças ao mesmo tempo, sem ter que iniciar todo o processo depois de um tempo, para quem opta por um segundo filho. E a desvantagem, se é que a gente pode dizer assim, é que o trabalho vem em dobro. Quem tem um filho é só imaginar tudo em dobro (risos). Definitivamente não é fácil, mas acompanhar o desenvolvimento deles é muito prazeroso, além de dar a certeza que estamos dando conta do recado.  

 

É fato que a parte mais pesada, óbvio, é da mãe, tanto durante a gestação quanto nos primeiros meses (pra falar a verdade, a vida toda, não é?). Na sua opinião, como o pai pode ajudar a mãe, mesmo tendo que dividir o dia com o trabalho, tendo em vista que a licença paternidade é de apenas cinco dias úteis?

É sim da mãe a parte mais pesada, mas o pai pode, e acho que deve ajudar com todas as atividades, a exceção de amamentar, é claro. Dar banho, trocar fralda, colocar o bebê para amamentar, dormir e tudo mais que for possível. Todas as mães que conheço, e acho que todas as que não conheço também, devem ser assim, se sentem culpadas por algum motivo. Nessa hora que o apoio do pai é importante e necessário. Nenhuma mulher precisa de mais cobrança nos primeiros meses de vida de uma criança, além de já se cobrar o tempo todo por ter que manter uma criança viva, digamos assim. É novidade para todos na casa e não é fácil para ninguém. E uma coisa importante na troca de fraldas e nos banhos é que quem ganha mais com isso são os pais. Nesses momentos você cria vínculos afetivos com seu filho que são impressionantes. Os pais que não trocam fraldas e que não dão banhos não sabem o que estão perdendo, isso é muito sério porque quando a criança cresce não adianta mais.

 

Pouco mais de um ano depois, você consegue identificar características nas personalidades deles mais parecidas com você ou sua esposa? Sabe se um prefere mais o pai ou a mãe?

Preferências entre pai e mãe acho que não têm, mas as personalidades são bastante diferentes, a gente já percebe. Quem acha que porque são gêmeos são parecidos em tudo, está enganado. Melissa é mais contida em algumas situações, já Mateus é agitado e não para um minuto. São engraçados demais, duas figuras.     

 

Pretende continuar com o blog? Acha que dá pra virar um livro?

Pretendo sim, quero que eles leiam e saibam tudo o que aconteceu até a chegada dos dois. Sobre um livro não tinha pensado ainda, mas, quem sabe?

 

Quer deixar uma mensagem para o Dia dos Pais?

Eu sempre quis me tornar um pai e está sendo uma aventura e tanto. Criar e educar uma criança é o maior desafio na vida de uma pessoa. Por mais que lemos e estudamos, quando chega a hora de pegar no colo nunca estaremos preparados, mas cada dia vale a pena e temos que aproveitar cada um deles porque não sabemos o que acontecerá amanhã.     

 

Por Marcelo Sander

 

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