Anacronismo e modernidade

23/02/18 - 08:56

A sociedade sete-lagoana reagiu e se mobilizou contrariamente à solução de péssimo gosto que a Prefeitura adotou para controlar e sinalizar o trânsito reaberto a veículos, ao lado da Catedral. Há diversas postagens nas redes sociais sobre isso com comentários, em ampla maioria, também críticos aos tais pórticos que foram instalados. Mais: está correndo uma petição pública requerendo a sua retirada. O argumento central recorre a uma compreensão moderna de preservação patrimonial, que vai além do edifício em si, no caso a igreja, e o =considera dentro da paisagem urbana que está sendo poluída e fragmentada pelos elementos utilizados.

 

Curiosamente, essa mobilização social rompe com certa tradição local de não apenas se desinteressar pelos bens de valor histórico, como também de ridicularizar, de taxar de anacrônicos os poucos cidadãos que, corajosamente, se expõem na defesa de edificações de valor cultural, muitas delas postas ao chão.

 

Essa dualidade entre anacronismo e modernidade precisa ser pacificada. Afinal, defender o patrimônio é uma atitude anacrônica ou moderna? ‘Casas velhas’ vão contra o progresso ou a sua preservação, assegurando a existência de certa identidade urbana, aponta para o futuro?

 

Esse posicionamento esquizofrênico perpassa vários temas de interesse público. Quem não se lembra do quanto foram ridicularizados aqueles que, no cumprimento da lei, ousaram questionar a derrubada de pés de pequi para a instalação de uma nova indústria? Foram taxados de anacrônicos contra a marcha do progresso.

 

Quando essa mesma indústria, com ou sem razão, passou a ser responsabilizada pelo uso excessivo de água do subsolo e de praticamente extinguir uma de nossas lagoas, a defesa da lagoa, pelos mesmos defensores do corte dos pequis, passou a ser vista como algo esclarecido e moderno.

 

Essa conduta social de ora ir para um lado, ora para o oposto, a mim me parece ser própria de nossa falta de um projeto de cidade. Não sabemos se queremos ser uma cidade preservada e com qualidade de vida ou se é melhor abraçarmos a ilusão de sermos um ‘balneário industrial’ com inevitável perda de um estilo, agradavelmente, mais interiorano. Dúvida cruel!

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