Por Élida Gontijo
Crônicas
Élida Gontijo - Junho
Junho chega trazendo o cheiro de pipoca quentinha , o sabor de uma deliciosa canjica, o barulho dos foguetes saudando os santos do mês. Faz lembrar do tempo de criança em que pulava fogueira para mostrar coragem, momento de rezar terço, sentir na pele a chegada do frio, avistar as férias que chegariam logo, logo e possibilitaria o encontro dos primos na fazenda dos meus avós maternos, sinto um gosto de saudades.
Primeiro chega Santo Antônio, padroeiro da cidade, santo casamenteiro segundo a crendice popular, quem quiser casar tem que pedir pra ele ajudar, mas na verdade ouvi uma senhora minha amiga, a linda vó Dirce, na verdade era avó de uma amiga e adotei como minha avó também ,pois avó nunca é demais. Segundo ela o ideal era roubar o menino que Santo Antônio traz nos braços, se dependesse disto morreria solteirona. Depois adquiri mais informações ou melhor crendices, fiquei sabendo que o ideal era rezar para São José, o protetor da família, achei bem razoável a sugestão .Sinceramente casei sem pedir ajuda pra eles, meu pedido era sempre que Deus me enviasse um bom companheiro para dividir meus dias e fui atendida.
Despedindo de Santo Antônio, logo chega São João, santo que sempre fiquei encantada vendo em folhinhas antigas sua imagem estampada, lindo, com um carneirinho nos braços, aquele cabelo cheio de cachinhos me fascinava, meu cabelo no tempo de criança era bem grande e muito liso. Meu pai não deixava cortá-lo ,tinha uma vontade imensa de ter um cabelo bem curtinho, quem sabe se cortasse anelaria igual de São João? Doce ilusão de criança! Com o passar do tempo fui presenteada ,vocês irão rir por chamar o episódio de presente, peguei piolho na escola, junto com os colegas. Ficava pensando quando alguém falava que pegou piolho: será que teríamos de correr atrás de uns bichinhos tão pequenos? Após esse episódio meu pai liberou o corte do cabelo, todos achavam que eu era um menino, bem comprido e magrinho, já que meninas tinham cabelos enormes. Não fiquei triste, pelo contrário , amei ser diferente das outras meninas , ter outro estilo . Até hoje adoro cabelos curtos e variar os cortes. São João trazia também as simpatias em busca de maridos, falavam que na noite véspera do seu dia a moça que quisesse descobrir o nome de seu futuro marido, deveria escrever em pequenos papéis nomes de três rapazes e colocá-los em uma bacia com água e depois no sereno , no outro dia o nome do almejado marido estaria aberto.
Muitas vezes não abria nenhum e as moças casamenteiras pensavam que apareceriam novos candidatos , como uma forma de negar a frustração. Muito divertido relembrar tudo isto, só sei que era a noite mais fria do ano, ótima para esquentar fogueira, guardei comigo o nome João e resolvi juntá-lo com outro santo ,Pedro, o filho que teria quando casasse chamaria João Pedro. Mas Deus me provou que as surpresas são bem melhores e me deu duas lindas filhas que logicamente não quis que chamassem Joanas ou Pedras, quem sabe ganho um neto com este nome? Acho melhor deixar esta decisão por conta delas.
Fechando o mês vem São Pedro, tinha um respeito especial por ele, sempre tive medo de trovões e relâmpagos e tenho até hoje, herança da minha mãe que morre de medo também .Mas em criança me falavam para não ter medo , que aquele barulho era São Pedro arrumando sua casa lá no céu, pensava que estava dando aquela faxina, imaginava se os outros santos ajudavam na limpeza ou seriam os anjos? Tinha em minha cabeça a imagem dos anjos como crianças lindas, de grandes bochechas rosadas e muito levadas. Pensava que sobrava trabalho pra eles ,pois sempre sobram alguns castigos para crianças bagunceiras .Imaginava São Pedro com uma imensa chave nas mãos abrindo as portas do céu para as visitas, quando me falaram que seria possível visitá-lo só depois de morto, achei melhor adiar este passeio.
Que delícia voltar no tempo! Viajei novamente na minha escrita, no meu bordado com as palavras, elas me fazem esquecer um pouco a pandemia, a tristeza por tantas manobras políticas, tanto desrespeito, tantas mortes .Encerro meu texto saudando os três santos :
_ Viva Santo Antônio!
_ Viva São João !
_ Viva São Pedro !
Élida Gontijo – junho de 2020.
Élida Gontijo
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