Coluna Católica

Coluna Católica - Sair do Automático

12/04/19 - 16:59

Por Padre Warlem Dias

Ramos nas mãos, tapetes ou desenhos no chão. Um grito de Hosana, a aclamação de um “rei”. Vamos a Jerusalém eterna! 

 

É Semana Santa. Tempo sagrado, de ir à “igreja”, viver ou assistir as dores de Maria e trazer consigo o choro e a paixão; predispor-se à confissão, à oração, ao Jejum e fartar-se com todos os ritos e as cenas das procissões à via crucis. Cantamos: “ao morrer crucificado, teu Jesus é condenado, por teus crimes pecador”.  Este é um imaginário popular, de reminiscências fortes e que permeia o nosso universo devocional. 

 

Subamos a Jerusalém Eterna! 

Hosana! Um ramo numa mão, a pedra escondida na outra. 

Silêncio! Oitenta tiros num carro. Ouve-se choros e gritos. É morte! Não era “bandido” para comemorar. Silêncio no Planalto.

 

Moçambique chora seus filhos. Ciclone. Beira devastada! Sede, fome e infecção do cólera. Agora, o mar devolve-lhe seus corpos! Silêncio! Rezemos!

 

Silêncio! Brumadinho ainda chora! Lá, o Jesus crucificado é o enlameado e desaparecido.

Subamos a Jerusalém eterna! Eterna nas contradições e disputas de espaço e poder.

Quarenta dias vivemos esta travessia — das cinzas ao deserto, da montanha à conversão, o Pai nos cobriu de beijos, com mão materna e paterna, fez festa, por fim nos chamou a defender os indefesos, sem jogar-lhes pedra. 

 

Celebrar a Semana Santa é fazer memória do evento fundante da nossa fé: morte e ressureição de Jesus, rumo a cruz, que se eterniza em meio a tantas dores e cruzes de nossa casa comum. 

 

Ramos é estar com Jesus, despido de todas as armaduras de poder e violência. Por isso, monta-se o jumento e entra em Jerusalém, como Rei, numa afronta à ordem estabelecida, política e religiosa, econômica e social.

Subir a Jerusalém é participar da solidariedade de Jesus com a humanidade, em todas as suas paixões e mortes. 

 

Ir a Jerusalém é descer a Jerusalém interna, escondida em cada um de nós, cheia das contradições, com gritos de rei e de crucifica-o. Não dá para ir a Jerusalém sem tomar partido. Tem que sair do automático para chegarmos a Páscoa.

 

Warlem Dias 

diaswarlem@gmail.com 

 

Padre Warlem Dias

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