Coluna Católica

Coluna católica: In god we trust - Em Deus nós confiamos

22/07/19 - 10:07

Por Padre Warlem Dias

Há trinta anos, lá nas margens do rio Jequitinhonha, a mulher lavadeira chorava e cantava: “Oh, rio malvado traz de volta o meu amor”.  

 

O meu amor, bicho homem, não foi levado pela correnteza. Ele completou dezoito anos, concluiu o ensino médio e com a saúde de seus braços, a confiança em Deus e sonho do “dólar”, migrou dos vales e das margens do Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce para a AMÉRICA. 

 

Ao situar estes três vales mineiros, desde o meu olhar e nos relatos de amigos valadarenses de Boston, compartilho a saga migratória desta perigosa travessia.  

 

Lembro-lhes que os migrantes tornaram missão e coração do Papa Francisco. Portanto, é missão da Igreja, não a partir do Papa, mas imperativo na Palavra de Deus:  Dt, 10,19 — “não só acolhe, mas ama o migrante”, ou Mt 25, 36.43 — “era forasteiro e me acolhestes e era migrante e não me recolhestes”.  

 

Partir é vocação humana. Ir e vir são conditio sine qua non da vocação à liberdade. Os movimentos migratórios são históricos e permanentes. Enriquecem e embelezam a cultura do outro.  Por vezes são tratados “bárbaros” e colocados sob suspeita. De fato, eles rompem a realidade e genética local. 

 

Os amigos valadarenses, há trinta anos, partiram atrás de melhores dias. No sonho de liberdade, no encanto e na beleza do “dólar”. Emprego, salário justo e a confiança em Deus, inscrita no dólar. Deixaram a terra, a língua, famílias, amigos e o amor. Muitos conseguiram arrancar tudo até as raízes. Outros deixaram um pouco. Alguns conseguiram voltar, outros jamais. Alguns querem voltar, outros nunca mais. "Viver é perigoso... Porque aprender a viver que é o viver mesmo". Lapidados nesta travessia, na coragem resistiram: as inúmeras negações do visto; as tentativas de outros caminhos; dívidas e até a falsificação de documentos para a entrada; amor que é forte vai ao encontro do amado, mesmo no porão do navio, não chora, resiste. Por lá, tem gente há 26 anos sem poder voltar e ainda diz:  “a América é boa!”. 

 

Trabalharam tanto de chegar só metade em casa. Suas casas foram nichos de acolhida de outros tantos brasileiros. Muitos lhes são gratos porque, por meio deles, outros tantos chegaram lá. 

 

Em busca de dias melhores para os filhos, que são cidadãos americanos, outra geração se constrói por lá. Na certeza de que In God we trust.

 

Warlem Dias

diaswarlem@gmail.com

 

Padre Warlem Dias

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