O prefeito e a Covid-19

29/04/20 - 15:00

Nelson Monteiro - Ortopedista e Traumatologista
Nelson Monteiro - Ortopedista e Traumatologista

O Jornal Sete Dias, de Sete Lagoas e que, por coincidência com o nome, é editado de sete em sete dias publicou, na primeira página da edição de 24 a 30 de abril de 2020, em letras garrafais, a manchete “Prefeitura quer investir mais de 15 milhões no combate à Covid-19”. Continuando a chamada, o jornal noticiou que o prefeito informou que “vai pleitear de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões junto ao Governo Federal para vencer a crise provocada pela pandemia do novocorona vírus na cidade. R$ 15 milhões é o custo estimado apenas com o laboratório e o hospital de campanha”. E aí eu pergunto, prá quê? Só Deus sabe, porque nem o Capeta, que é cheio de manha, deu conta de entender o que passa pela cachola de nossos governantes. Ou sabe, e está esperando que cancelem seus CPFs para acertarem as contas. Mas vamos por partes, como dizia o esquartejador.

 

Nossa cidade está, há muito tempo, deficiente de leitos hospitalares, problema sentido principalmente pela população de menor poder aquisitivo, coisa que até o mais bobo entre os bobos já percebeu. Se levarmos em conta que a cidade é referência para as demais da região, aí o bicho pega. Porque quando existem, nas redondezas, são hospitais de pequeno porte, atendendo a no máximo, média complexidade.  Entretanto, esse caos ainda não havia comovido os brios de nossos governantes, que não moveram, até agora, uma palha para corrigir essa deficiência. Temos em operação, no município, dois hospitais atendendo o SUS, o maior, filantrópico de média e alta complexidade, e o do poder municipal que, até há bem pouco tempo institucionalizara a internação em corredores, por falta de espaço nas enfermarias. O terceiro, de propriedade da Unimed, tem pequena capacidade instalada e é direcionado para atender o convênio próprio. O panorama é preocupante e cria uma demanda reprimida, que só não causa maiores problemas por causa da proximidade com a capital, onde grande número de pacientes busca tratamento, muitas vezes por patologias que poderiam ser resolvidas na origem.

 

E é aí que entra a pandemia da covid-19 e sua relevância para a cidade de Sete Lagoas. Segundo o boletim divulgado, dia 23/04/2020, pelo gabinete de gestão de crise, criado pela administração municipal houve, até a data, 676 notificações para a doença, dos quais 535 ainda estão em investigação. Dos seis casos positivos, somente um continua em acompanhamento pela vigilância epidemiológica e os demais estão curados. Outros seis pacientes foram internados com quadro respiratório grave, mas três tiveram exame negativo para o vírus, o mesmo acontecendo com dois óbitos suspeitos. Números pouco expressivos, quando se considera que, só no município, existe uma população de mais de 220 mil habitantes. Como se vê, nada que justifique uma situação de emergência, baseada em uma visão apocalíptica que até o momento não se desenhou.

 

Se a intenção é dotar a cidade de um maior número de leitos ou unidades hospitalares, porque não pedir essa grana para terminar parte do hospital regional, cuja construção se arrasta há anos e já consumiu milhões de reais, sem passar da fase de estrutura. Criando a infraestrutura bastante para a emergência, mas já com vistas em expansões, quando se fizerem necessárias. Custaria o mesmo que um hospital de campanha, que são emergenciais e justificados apenas em épocas de catástrofes, têm utilização por tempo limitado e dele se aproveita pouca coisa, após seu desmanche.

Talvez

Se vivo ainda fosse, Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o autodenominado Barão de Itararé, talvez dissesse novamente: “há qualquer coisa no ar, além dos aviões de carreira”.

 

Nelson Monteiro - Médico / Ortopedista e Traumatologista

Abril de 2020, segundo mês de reclusão força da pelo Coronavirus.

 

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