Descendentes e imigrantes alemães mantêm tradições em Sete Lagoas

14/10/16 - 10:07

 

Alguns deles estão em Sete Lagoas há alguns anos. Outros nasceram aqui, mas têm em comum a mesma ancestralidade e ajudam a manter vivas as tradições e costumes de seus antepassados. São descendentes de alemães ou mesmo alemães que, além do gosto pelas cervejas - uma das marcas do povo germânico - cultivam o gosto pela culinária e por eventos de seu povo. 

 

A colonização alemã na região teve início antes da Primeira Guerra Mundial. Um dos primeiros imigrantes foi Carlos Preisser (lê-se 'Práizer'), bisavô por parte de mãe do tecladista Vinícius Preisser. "Ele veio com um grupo de imigrantes para o Brasil com oito anos de idade e se alojou na sede (Núcleo João Pinheiro), na estrada que vai para Baldim e Jequitibá. Depois veio para Sete Lagoas com a família. Trabalhava com temperos e corantes. Ele que doou o terreno onde hoje funciona o Colégio Industrial", conta Vinícius. Outra família dessa leva foram os Flister. "Meus bisavós Max e Doroteia Flister vieram para o Brasil em 1909 e viveram em uma colônia de alemães que se instalou no Núcleo João Pinheiro", recorda a professora da Fumep Juliana Flister. 

 

Outros sobrenomes como os Schreiber, Marx Bohler e Schroeder, entre outros, foram chegando juntamente com italianos, portugueses e outros imigrantes ajudando a formar toda a multiculturalidade de Sete Lagoas. "Como já sou a terceira geração no Brasil, não temos muita influência de costumes alemães em casa. Mas estamos buscando a dupla cidadania e juntando a documentação", conta Preisser. 

 

Novos alemães

Nas últimas décadas, porém, outros alemães escolheram a cidade dos lagos encantados para viver (e reviver) as tradições da terra da cerveja, do chucrute e do salsichão. "Eu sempre cozinho sopa de lentilha, todos adoram a receita da minha querida Oma (avó) Anna", comenta Camilla Raem, mãe brasileira e pai alemão, vindo de Duisburg. "Viemos para o Brasil diretamente para Sete Lagoas quando eu tinha dois anos, em 1984. No final de 2010 voltei para a Alemanha, em Köln, onde morei até o início de 2014", diz Camila, que mantém lembranças de personagens como o Pumukel e o Sand Mädchen, além dos deliciosos chocolates e doces como o gummibärchen. "E também as férias na casa da Oma", claro.

 

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Camila Raem, como boa alemã, gela sua cerveja na neve, em Köln.

 

Um alemão bem "sete-lagoano" é o empresário Thomas Aurbach. Ele conta que mudou para o Brasil em 1963 e que somente em 2005 passou a viver em Sete Lagoas. Sobre as tradições que gosta de manter, ele menciona a preparação de pasta de ricota com ervas e também cebolas em conserva. "Combina mais com o clima quente de Sete Lagoas", acredita. "Na Páscoa decoramos a casa como ovos pintados artisticamente. No Natal fazemos biscoitos do tipo Spekulatius, receita típica de Natal, em família", conta Thomas, que nasceu em Bad Godesberg, cidade próxima a Bonn. As memórias do país de origem também são vivas para ele. "Me lembro de uma viagem que fiz para passar o Natal com meus avós na Alemanha quando tinha cinco anos, com direito a homem de neve e muitas descidas numa colina com trenó", recorda.

 

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Thomas Aurbach (direita) em 1985, quando trabalhava no Hilton Hotel de Munique e fazia um city tour para hóspedes. "Fizemos o passeio em um bonde fretado e decorado à caráter, servindo cerveja à vontade ao som de uma banda típica da Bavária", conta.

 

Outro alemão "recém sete-lagoano" é Sebastian Kummer. Natural de Querfurt, lugarzinho de cinco mil habitantes próximo a Halle/Saale, ele morou no Brasil de 1991 a 1996 e depois retornou em 2006, já em Sete Lagoas. "Passei minha infância na Alemanha e pode imaginar que foi bem diferente. A principal diferença (para mim) são as áreas de lazer e recreação (parques) disponíveis. Como na Alemanha grande parte do tempo é frio e ruim, o povo aproveita qualquer possibilidade de sair de casa e passar o tempo 'lá fora'. Em BH já tem algumas opções como o Parque Ecológico da Pampulha. Opções assim ainda estou sentido muita falta em Sete Lagoas", diz.

 

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Sebastian Kummer visita plantação de lúpulo em sua cidade natal.

 

Entre as principais lembranças culinárias, segundo Sebastian, estão as variadas opções de pães, sobretudo os integrais e de centeio. "Tem algumas coisas que gosto de preparar em casa, como o repolho roxo com maçã, Gulasch (tipo de carne de panela) e às vezes uma Currywurst. Do bagaço do malte (sobra da fabricação de cerveja) faço pão, que ainda está longe do alemão, mas é gostoso", assegura. Assim como Thomas, Sebastian também celebra a Páscoa da forma tradicional alemã. 

 

"Natal no Brasil nunca funcionou muito bem para mim. Natal precisa ser frio e de preferência ter neve. Estou esperando meus filhos crescerem mais um pouco para passarmos um 'natal legitimo' no frio", brinca. Sebastian conta que também decora ovos de galinha com os filhos. "Na Alemanha eles são pendurados em galhos de Forsythia ou Salgueiro que nessa época começam a florescer, representando o fim do inverno e o começo da primavera", conta. Sebastian revela que ainda não conhece outros alemães ou descendentes em Sete Lagoas. "Em BH tem uma comunidade alemã maior. Devo conhecer uns 20 alemães. Em Sete Lagoas ainda não encontrei nenhum. Talvez isso mudará com o OktoberSete", deseja.

 

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Ovos de galinha decorados em galho de árvore. Tradição alemã de Páscoa.

 

Festa

Neste sábado, tanto os Preisser quanto os Flister, os Schreiber, Marx Bohler, Schroeder, Raem, Kummer, Sander e outros descendentes terão a oportunidade de matar a saudade dos pais, avós e bisavós germânicos durante a Oktobersete, festa alemã que acontece pela primeira vez na cidade (SAIBA MAIS). O evento - aberto ao público, na orla da Lagoa do Boa Vista, a partir das 10h - contará, além das cervejas especiais, com petiscos alemães, campeonato de trajes típicos e shows. "Prosit!"*

 

* À sua saúde (brinde).

 

Marcelo Sander

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