Entrevista: Dalton Andrade - A Câmara merece nota 4, o nível foi muito baixo

26/10/16 - 10:20

O vereador Dalton Andrade conclui no fim deste ano seu segundo mandato consecutivo na Câmara Municipal. Agora com 864 votos, foi o primeiro da coligação PT/PC do B e não conquistou a reeleição por falta de legenda. Ele aponta como um dos principais fatores de sua derrota o desgaste do PT, partido que tem sua total fidelidade. Defensor de causas culturais e ambientais Dalton Andrade vê poucas possibilidades de seu trabalho ser levado a frente por vereadores considerados assistencialistas. Sua avaliação da Câmara que fez parte é ruim já que uma “onda de denuncismo prejudicou o trabalho pela cidade”. “Foi uma luta política por posições, uma onda de denuncismo. Criaram CPI que não chegou a lugar algum. Foi aquela orquestração que limitou o diálogo e os debates para a cidade. O nível foi muito baixo, pautado pela oposição ao Marcio Reinaldo”, dispara.

 

Você poderia destacar ações de seus dois mandatos como vereador?

 

Dalton Andrade - De maneira geral coloquei em prática uma engrenagem na área cultural da cidade. Fizemos inventários das Guardas de Gongo, cartilhas e apoiei diretamente as manifestações da cultura popular. Colocamos em prática vários projetos neste sentido e tudo teve um ganho. Fizemos o projeto da Escola Milton Campos. Uma lei que não posso deixar de citar é a da Promoção e Igualdade Racial, uma demanda social importante dado a intolerância e o preconceito na cidade que fez muito sucesso. Outra boa coisa foi criar o pagamento por serviços ambientais para produtores rurais que preservaram as matas ciliares fundamentais para manter as nascentes em nossa região.

 

Qual foi o papel do PT em seu mandato?

 

Dalton Andrade - O PT sempre foi muito colaborativo. O partido estava no poder e, por isso, conseguimos muitas emendas e recursos. O deputado Miguel Correa destinou verba para a obra da Praça Cristina Leão França, que ficou sensacional. O vereador Renato Gomes fala que o mérito é dele, mas não foi. Conseguimos colocar em prática um projeto de arborização em larga escala da cidade. Criamos o projeto “Juntos na Praça”. Acompanhamos bem a questão ambiental, inclusive, com a realização de audiências. Além de tudo, nossa prestação de contas sempre foi muito boa. Mostramos trabalho, com menos assistencialismo. Não posso esquecer do deputado Reginaldo Lopes que liberou verbas para construção de creches e foi um grande parceiro do meu mandato.

 

Você acredita que algum vereador do próximo mandato deve assumir esta posição em prol da cultura da cidade?

 

Dalton Andrade - Não sei. Dos 11 vereadores que permaneceram, talvez o Renato Gomes tenha esta inclinação. Talvez com minha falta ele demonstre interesse. Como ele é mais ético deixou esta atenção para o meu mandato. Diferentemente do Padre Décio que comprou alguns dos meus cabos eleitorais. Pessoas que eram ligadas a mim. Mas para trabalhar por esta área o vereador tem que gostar, entender as tradições, estudar para saber o significado de tudo.

 

O perfil dos vereadores atuais é assistencialista?

 

Dalton Andrade - Tirando o Cláudio Caramelo, a base de todos é assistencialista. Na região central da cidade isso não interfere muito, mas na periferia a questão é absurda.

 

O desgaste do PT em todos os níveis prejudicou a sua reeleição?

 

Dalton Andrade - Muito. A situação do PT ficou complicada. Isso ocorreu em várias cidades. Fica claro o antipetismo e a revolta contra as políticas de esquerda. Comparam petistas como se fossem algum tipo de criminoso. A situação do país não está boa e o PT fez por merecer. Quando se está no poder e as coisas não dão certo, é lógico que ele seria fustigado. Espero que entendam que tirar o PT,  tirar as pessoas de esquerda, é ceder à política de direita.

 

Você pensou em deixar o partido como fez o vereador Caramelo para fugir deste desgaste e conseguir a reeleição?

 

Dalton Andrade - Carrego mais o PT e não conseguiria realizar esta manobra. O PT é um partido importante e muitas coisas que consegui foram por meio dele. Não teria como parar no PRB, por exemplo, como fez o vereador Caramelo. Inclusive todas as coisas que ele conseguiu estão ligadas ao PT. Ele foi muito bem atendido. A derrota seria completa se eu fosse para a direita e ainda perdesse a eleição. Perderia a eleição e a identidade, seria uma catástrofe.

 

A decisão do PT em fazer parte do governo Marcio Reinaldo no último ano foi acertada?

 

Dalton Andrade - Estávamos sendo marginalizados pelo PT estadual e o PMDB. Acreditamos que o Marcio Reinaldo estava fazendo um bom papel e todos os nossos opositores estavam no PMDB. Foi uma necessidade naquele momento de sobrevivências senão ficaríamos à reboque, à mercê da ligação do PT com o PMDB no Estado. De minha parte não me arrependo desta aliança.

 

Você conseguiria apontar os motivos da derrota do Marcio Reinaldo?

 

Dalton Andrade - O Marcio Reinaldo perdeu a política por um desgaste pessoal com setores como funcionalismo e transporte alternativo. Além de tudo, ele sofreu ataques diários na Rádio Musirama. Fazem uma leitura errada do Marcio Reinaldo, ele venceu vários desafios que seus oponentes não conseguiram. Ele deixa uma perspectiva boa para a cidade.

 

De maneira geral qual avaliação você faz deste mandato da Câmara?

 

Dalton Andrade - Este mandato foi marcado por um denuncismo vazio. Não concordar com alguns vereadores significaria que você passaria a ser atacado. Usavam meios de comunicação para fazer estes ataques diariamente. Houve um domínio do plenário por esta mídia (Rádio Musirama) que é um verdadeiro partido político.

 

Você leva alguma mágoa desta convivência na Câmara? Tem algum vereador que você não vai nem cumprimentar?

 

Dalton Andrade - Tem pessoas ali que, normalmente, nem cumprimentaria. Convivi com eles porque estava na Câmara. Dessas pessoas você não pode esperar nada. Não dá para ter mágoa delas porque não são do bem. Elas lutam com tanto desespero por interesses pessoais, não têm plano de cidade. É lógico que conviver com elas é incômodo. É muita falsidade e jogo o tempo todo. Apesar de tudo não carrego mágoas.

 

Qual nota você daria para a atual Câmara Municipal?

 

Dalton Andrade - Merece um 4. Não houve espaço para o debate, uma questão fundamental para a vida parlamentar. Foi uma luta política por posições, uma onda de denuncismo. Criaram CPI que não chegou a lugar algum. Foi aquela orquestração que limitou o diálogo e os debates para a cidade. O nível foi muito baixo, pautado pela oposição ao Marcio Reinaldo.

 

Ninguém merece uma nota melhor?

 

Dalton Andrade - Reconheço os trabalhos do Gilberto Doceiro e do Caramelo. Pessoas de visão que trouxeram recursos para Sete Lagoas. Também me incluo neste perfil. Formos três vereadores que tiveram alguma organização política e a responsabilidade para tocar projetos.

 

Como será sua vida a partir do próximo ano?

 

Dalton Andrade - Na política esfriamos devagar. Tenho que avaliar como vou manter alguns projetos. É muita coisa e, mesmo sem mandato, é preciso manter os interesses nas coisas públicas. Retornarei ao meu cargo de historiador na Prefeitura e de lá posso fazer muita coisa.  Outras coisas deverão ser coordenadas por um instituto e demandarão patrocínio. A vida cultural esteve ativa nos últimos anos e temos que manter muita coisa. Vou estar no meio ajudando de alguma forma.

 

E quanto ao futuro político?

 

Dalton Andrade - Não sei. Sou da área pública e, pelo menos, tenho que saber quem estará do meu lado. Tenho que saber quem é da esquerda aqui em Sete Lagoas. Temos que saber se o caminho da sociedade será este que foi desenhado ou isso não vai dar em nada. É preciso criar um ponto de questionamento, talvez não exista outra saída senão reorganizar a esquerda na cidade.

 

Renato Alexandre

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