ENTREVISTA: Juca Bahia - 'Normalização do abastecimento pelo rio Paraopeba pode levar até 10 anos'

15/04/19 - 09:36

Prefeito Juca Bahia em uma das visitas ao leito do rio Paraopeba. Foto Ascom Prefeitura
Prefeito Juca Bahia em uma das visitas ao leito do rio Paraopeba. Foto Ascom Prefeitura

Prefeito de Paraopeba, Juca Bahia, fala sobre o impacto da tragédia da Vale na cidade

 

Ela leva o próprio nome do rio não é à toa. A cidade de Paraopeba é margeada pelo rio homônimo. Por isso mesmo, depois de Brumadinho, obviamente, o município foi o mais afetado, juntamente com Pará de Minas, pela tragédia do rompimento da barragem de rejeitos de minério da Vale, em 25 de janeiro deste ano. A lama chegou à Paraopeba cerca de duas semanas depois.

 

O prefeito Juca Bahia (PSDB) se viu, de uma hora para outra, tendo que evitar a falta de abastecimento de água potável na cidade. Se reuniu com representantes da Copasa e da Vale e chegou inclusive a sobrevoar de helicóptero toda a extensão do rio, de Brumadinho a Paraopeba. Mais de dois meses depois da tragédia, o impacto ainda é sentido no município, sem data para voltar a ter seu abastecimento normalizado com a água do rio. Ele falou ao SETE DIAS.

 

Entre as cidades da região, Paraopeba foi a mais impactada pelo rompimento da barragem de Brumadinho?

Com certeza, excluídas as cidades atingidas diretamente como Brumadinho, Paraopeba e Pará de Minas foram as duas cidades mais afetadas, devido ao fato de que tinham o abastecimento de água captado do Rio Paraopeba.

 

Até o acidente, que percentual do abastecimento da cidade vinha do rio Paraopeba e quais são as outras opções de abastecimento?

Antes do acidente 100% do abastecimento da cidade vinha do Rio Paraopeba, após o acidente, estamos captando no Córrego do Cedro e poços artesianos.

 

Assim que soube da tragédia, quais foram suas primeiras ações?

A primeira foi me inteirar do acontecido. Percorri todo o rio até o local da tragédia e começamos de imediato a buscar fontes alternativas de abastecimento, pois não sabíamos até quando poderíamos captar água do Rio Paraopeba.

 

Chegou a temer pela falta de água potável no município, assim como ocorreu em Montes Claros e outras cidades na época do acidente em Mariana?

Com certeza, foi uma grande preocupação, pois nos ofereceram abastecer com caminhão pipa, mas como iríamos abastecer 25.000 pessoas com caminhão pipa? Era totalmente inviável. Assim, agimos de imediato, juntamente com a Copasa, para viabilizar fontes de abastecimento alternativas.

 

Você chegou a sobrevoar de helicóptero a região de Brumadinho. O que mais te impactou do que viu?

Sobrevoei, sim. Foi terrível ver aquela cena e depois ver o rio morrendo nos locais afetados pela lama.

 

Nas reuniões que teve com a Copasa e representantes da Vale, o que ficou acordado?

Que a Vale daria toda a assistência necessária para viabilizarmos o abastecimento para a cidade.

 

Há previsão de quando o abastecimento pelo rio Paraopeba será normalizado?

Ainda não. Há muitas informações contraditórias variando entre três meses a 10 anos, e isto dificulta ainda mais o planejamento.

 

É possível calcular o impacto financeiro para o município?

Calcular totalmente certo é muito difícil, como por exemplo, o córrego que estamos captando água fica a 20 km do Rio Paraopeba e antes do local de captação existem irrigações com pivô. Durante o período de seca, se a água do rio não estiver liberada, provavelmente teremos que proibir essas irrigações, pois o nível do córrego abaixa muito. Assim mesmo, a mais de 20 km de distância do Rio Paraopeba, este prejuízo está ligado a esta tragédia. E como este exemplo, existem muitos outros, o que dificulta o cálculo exato do tamanho do prejuízo.

 

Como a Prefeitura tem orientado os produtores rurais que margeiam o leito do rio?

Primeiramente não usar a água do Paraopeba. Posteriormente fazer um levantamento das urgências com o abastecimento de água e os prejuízos causados.

 

Como tem sido feito o monitoramento da qualidade da água? Já é possível ver alguma melhora? A pesca, por exemplo, já é possível?

O monitoramento é feito pela Agência Nacional das Águas (Ana) e o (Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), mas a Copasa também faz e a própria Vale. Aparentemente há melhoras, mas nada conclusivo ainda.

 

O que fica de lição dessa tragédia?

Que temos que aprender com os erros cometidos para que nunca mais aconteçam tragédias como esta, principalmente quando há perdas do nosso bem mais valioso, que é a vida.

 

Marcelo Sander 

 

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Hidrelétrica de Juatuba antes e três dias após o rompimento da barragem.

 

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Prefeito sobrevoou a região de helicóptero

 

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