Flávio de Castro: Marielle

23/03/18 - 09:00

Ainda que não fosse natural, era previsível que a execução da vereadora carioca Marielle Franco suscitasse uma disputa de narrativas entre os que respeitam a sua trajetória e apoiam a sua luta e aqueles que se opõem a ela. O inaceitável é que as críticas de seus opositores tenham chegado a nível tão baixo e desrespeitoso.

 

As ideias que se resumem na frase bandido-bom-é-bandido-morto vão ganhando uma dimensão brutal na sociedade. Até onde se sabe, Marielle era uma lutadora contra a violência no Rio, em suas várias manifestações: a violência contra favelados, contra negros, contra pobres, contra policiais e por aí afora. Uma das bases dessa sua luta era a defesa dos direitos humanos. No Brasil, entretanto, para esse grupo de pensamento fascista, a defesa dos direitos humanos ganhou uma conotação de defesa de bandido. Isso é inacreditável! A declaração dos direitos humanos não foi inventada no Rio, nem no Brasil. Ela é universal. É a base da constituição da ONU. Negá-la significa negar um estágio civilizatório conquistado, significa uma aposta na barbárie. Ainda que seja assim, é de assustar o número de pessoas teoricamente bem informadas que andam caminhando nessa direção, como se a barbárie fosse gerar segurança. Não, barbárie gera barbárie e mais insegurança.

 

Para além da tentativa de desmerecer Marielle ao colocá-la, maldosamente, como defensora de bandidos, o desrespeito alcança níveis ainda mais assustadores com a divulgação de notícias falsas a seu respeito. Mesmo que o mapeamento de fluxos na internet informe que esses comentários não representam mais de 7% do total, é um absurdo que seus principais difusores sejam pessoas que, por dever de ofício, como deputados, delegados de polícia e desembargadores, devessem ter mais reserva com as palavras. Ao contrário, deles vieram as piores infâmias, de que Marielle havia sido financiada pelo tráfico, que foi casada com traficante e um tanto mais. Criminoso isso!

 

Numa sociedade em que o ódio na política foi tão longe, é inútil esperar que todos guardem as diferenças ideológicas, de visão de mundo, no território da civilidade das ideias e prestem aos adversários, vivos e mortos, democraticamente, o que eles merecem: respeito!

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