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Flávio de Castro: Uma pequena mão de balas amarelas

13/12/18 - 18:41

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A cidade estava estranha. Muito estranha. Havia gente demais na rua. Havia carros demais na rua. Não era véspera de feriado, não era nada, não parecia haver uma razão. Era apenas um começo de semana qualquer. Mas a cidade estava cheia. Muito cheia. Na porta da lotérica, para agravar a situação, o prêmio acumulado gerava filas monstruosas, calçada afora. Outra fila, um pouco menor, mas não menos desafortunada, organizava-se na porta do banco. Foi quando, naquele início de tarde, o céu escureceu, abruptamente.

Anoiteceu! O tempo virou, esfriou e invernou. Tempestade! Em questão de segundos. Pessoas desprevenidas. Pessoas molhadas. Pessoas apinhadas sob as marquises da avenida. Corpos úmidos, corpos desconfortáveis. Rotinas interditadas. A água suja acumulada na poça, a camionete branca indiferente, a onda de água sobre os pedestres desprotegidos. Um palavrão ou outro. Olhares absortos para o céu. Olhares para o nada. Aquele tempo escuro às três da tarde. Aquela espera inesperada. Aquela melancolia no ar. Chuva, chuva, chuva.

Chuva sem fim. Foi quando me dei conta de que já era dezembro. Mais um dezembro. Mais um dezembro fora de hora. Na vitrine da loja, o cartaz exaltava a maior festa da família, a maior festa da cristandade. O bom tempo superlativo do cartaz não condizia com o mau tempo nos rostos rotos das pessoas, com o mau momento do lado de fora do mundo. Vai e vem de guarda-chuvas no passeio estreito. Nova onda de água suja sobre os transeuntes, lançada por um carro preto, fechado, desabitado. Vidas em conflito. Horas em conflito.

Expressões, expressões vagas. Fim do toró, segue a chuva interminável. Impacientes, as pessoas se movem, desajeitadamente. Pessoas, lotações e enxurrada, aos trancos, disputam a sarjeta. Indiferentes a tudo, invisíveis, duas crianças, duas meninas – as mesmas que há pouco mendigavam na esquina – sentam-se na porta do bar, por trás das pernas da multidão, e dividem uma pequena mão de balas amarelas. Riem, às gargalhadas. Beleza e tristeza. Sinal doloroso de que o Natal não demora.

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