Médico denuncia falta de pagamento e excesso de plantões na maternidade

07/12/16 - 11:42

Irmandade diz que tem feito todos os esforços enquanto Prefeitura afirma não dever mais nada à instituição
Irmandade diz que tem feito todos os esforços enquanto Prefeitura afirma não dever mais nada à instituição

 

 

 

No fundo do poço. Essa é a conclusão a que chegou o médico ginecologista e obstetra Dr. Rogério Vicente Lima Ferreira a respeito da situação financeira do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), há meses sem pagar salários e pró-labores de médicos cooperados. Esta semana, cansado de realizar plantões sem receber, o médico desabafou com a vereadora Marli de Luquinha (PSC), que levou a situação até a Câmara Municipal na última terça-feira, 29. 

 

Na manhã desta quinta, 1º, uma mensagem assinada pelo obstetra circulou por diversos grupos de WhatsApp. Nela, o Dr. Rogério Vicente, com 25 anos de serviços prestados na cidade, denunciava a "grave crise vivida no último ano e intensificada nos últimos seis meses". De acordo com ele, os plantonistas da única maternidade da região estão há cinco meses sem recebimento de plantões, cumprindo fielmente as atividades. "Estamos vivendo um caos. Hospital Municipal faltando insumos e material médico, fechamento de UPAs, falta de atendimento por profissionais em Postos de Saúde, encerramento de atividade como da Cismicel, possibilidade de perda do cadastramento do serviço de oncologia no Hospital Nossa Senhora das Graças", aponta o médico.

 

Acordo não cumprido

Ao SETE DIAS, ele revelou que o pagamento do pró-labore é verba carimbada e o recurso vem direto do Ministério da Saúde, não podendo ser utilizado para outro fim. São mais de R$ 500 mil de Autorização para Internação Hospitalar (AIH) que não recebemos e descobrimos que o Executivo fez apropriação desse valor", denuncia. Segundo Rogério Vicente, nem mesmo o acordo feito entre médicos e Prefeitura no final do ano passado foi respeitado. "O acordo foi que o pagamento em atraso seria parcelado em dez vezes, mas só pagaram o primeiro mês", lamenta.

 

Falta de profissionais

Com os salários atrasados, outro problema vem ocorrendo. Muitos médicos não querem mais trabalhar. Isso tem feito com que os médicos que persistem tenham que fazer plantões em excesso, causando problemas profissionais, familiares e até de saúde. "Não damos conta de dar mais plantão. Um que fica doente, ninguém consegue substituir. Na noite do dia 12 de novembro a Maternidade do hospital chegou a ser fechada porque dois plantonistas faltaram. Quatro parturientes tiveram que ser encaminhadas para Belo Horizonte. Quem tem condição, vai para a capital. E quem não tem?", questiona. "Mas as equipes são muito comprometidas. Não fosse a residência médica, já tinha fechado de vez (a maternidade)". 

 

De acordo com o médico, são 243 associados à Coopercon, a cooperativa responsável pela gestão dos profissionais da Saúde no município, dos quais 12 obstetras são plantonistas de Sete Lagoas, oito de Belo Horizonte, um de Paraopeba e outro de Curvelo. No entanto, ele tranquiliza a população e descarta paralisações ou falta de infraestrutura na unidade. "Dentro das dificuldades, temos uma maternidade que funciona. Hoje não falta material, mas 85% dos atendimentos são feitos pelo SUS, somos a terceira ou quarta em atendimento de Minas Gerais. Se não resolver essa situação, uma hora vai faltar", prevê. Ele revela ainda que a situação do Hospital Municipal é ainda pior. "Lá faltam luvas e antibióticos. Chegaram a esconder paciente na ambulância do SAMU numa visita do prefeito", diz. 

 

Irmandade se pronuncia

Na manhã de quarta-feira, 30, o diretor técnico do HNSG, Dr. Felipe Massote, e os membros do Conselho de Administração Heber Moreira, Dr. Ivan Viana e Nilo Oliveira receberam a vereadora Marli de Luquinha. No encontro, foi discutida a denúncia apresentada na Câmara. Os membros expuseram a real situação do serviço, que é semelhante ao cenário geral da saúde em todo o país, principalmente no que diz respeito às entidades filantrópicas. "Estamos vivendo uma crise generalizada na saúde e trabalhando para evitar, a todo custo, a falta de assistência", disse Dr. Felipe. Para isso, um plano de contingência está sendo realizado em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde e com a Superintendência Regional de Saúde para garantir o atendimento a todas as gestantes. "Todas as decisões estão sendo tomadas com responsabilidade e obedecendo às normas técnicas, com a ciência e o aval das autoridades competentes, que estão envolvidas nesse plano de contingência", completou o diretor técnico.

 

O presidente da INSG, Heber Moreira, reforçou a informação de que o corpo clínico tem sido um grande parceiro da instituição diante desse momento de crise, e que todos os esforços estão sendo feitos para manter a qualidade assistencial e o atendimento integral aos pacientes. A Maternidade realiza cerca de 380 partos por mês, sendo a metade deles para pacientes de Sete Lagoas. 

 

Saúde se diz em dia

Procurado pelo SETE DIAS, o secretário municipal de Saúde, Cláudio Busu, informou que, com o novo bloqueio feito na semana passada nas contas do Município pela juíza Wstânia Barbosa Gonçalves, da Vara da Fazenda Pública da Comarca de Sete Lagoas, da ordem de R$ 3,7 milhões, de um total de R$ 8,7 milhões bloqueados nos últimos 60 dias, além de um pagamento de R$ 600 mil feito à Irmandade, o Município está religiosamente em dia com a instituição. "A Irmandade não tem mais a justificativa de dizer que deve por causa da Prefeitura. Vão ter que inventar outra desculpa agora", avisou.

 

Dr. Rogério Vicente promete levar um grupo de médicos para a próxima reunião da Câmara Municipal, dia 6 de dezembro, "como forma de denúncia e cobrança da resolução destes graves problemas. De todas as crises pelas quais já passei, essa tem sido a pior. A obra do novo prédio da Câmara vai de vento em popa enquanto o Hospital Regional está parado. Temos que colocar a boca no trombone mesmo", conclui.

 

Marcelo Sander

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