Carla Alves revela que seu interesse pelo Jornalismo é nato. A profissão, segundo ela, nasceu do gosto pela leitura e das boas histórias. A escolha foi acertada e ainda teve um pouco de sorte. Logo no início da faculdade conquistou um estágio em uma das maiores rádios do Brasil, a Itatiaia. A formação acadêmica, aliada à dedicação e disciplina no local de trabalho, colocaram Carla Alves no topo do Jornalismo mineiro. Atualmente, ela comanda o jornal de maior circulação no país, o Super, que, garante, apesar do apelo popular, é sério e mantém o compromisso com os leitores.
Conte um pouco de sua história pessoal em Sete Lagoas: nome dos pais, nome dos irmãos, morou em qual bairro, estudou em qual escola.
Carla Alves - Nasci em Sete Lagoas, na rua Ouro Preto, e, aos 8 anos, logo após a morte de meu pai Carlos Alberto, eu, minha mãe Maria das Graças, a Dadá, hoje professora aposentada do colégio Industrial, e meus irmãos fomos morar na rua Presidente Kennedy. Nesse endereço vivi a parte mais marcante da adolescência. Era de lá que saía todos os dias bem cedo para estudar no Colégio Industrial e depois, no ensino médio, me transferi para o Colégio Regina Pacis. Foi lá que me preparei para o vestibular de jornalismo.
Quais as principais lembranças da infância e juventude você guarda de Sete Lagoas?
Carla Alves - Tenho ótimas lembranças da noites na orla da lagoa Paulino, onde reuníamos a turma nos bares. Sinto muita saudade de todos os professores da minha época de Regina Pacis. Tínhamos uma relação de respeito tão grande com os mestres, mas ao mesmo tempo de muita confiança e descontração. Sinto falta disso.
Com surgiu seu interesse pelo Jornalismo?
Carla Alves - Considero que meu interesse pelo jornalismo é nato. Não tenho nenhum jornalista na família, mas sempre adorei escrever. Acho que a curiosidade pelas histórias é outro fator que me levou para o jornalismo. Ainda hoje sou fascinada por boas histórias.
Você chegou a trabalhar em Sete Lagoas?
Carla Alves - Não. Minha iniciação profissional já se deu em BH. Ao fim do primeiro semestre na faculdade comecei a trabalhar na rádio Itatiaia, onde fiquei até a conclusão do curso. Foi uma experiência ótima. Ainda hoje tenho excelentes amizades construídas na época da rádio. Além disso, tenho enorme gratidão por dois grandes profissionais: Marcio Doti, ex-diretor de Jornalismo, e Emanuel Carneiro, dono da rádio e uma figura maravilhosa.
Você encontrou muitos obstáculos na trajetória profissional?
Carla Alves - Tive uma enorme sorte de já no primeiro período de faculdade ter o contato com a rádio Itatiaia. Ela foi minha grande escola no jornalismo. Com meu interesse e disciplina em aprender, aproveitei todas as oportunidades e de lá para outras redações foram conquistas que vieram com muito trabalho, mas também muita dedicação. Não digo que tive sorte. Acredito que soube aproveitar bem as oportunidades, sem nunca perder a humildade em aprender.
Hoje, você trabalha na retaguarda da redação, mas você já trabalhou fazendo reportagens?
Carla Alves - Minha trajetória foi toda ligada à cobertura de Cidades. Em Cidades encontramos de tudo um pouco: dos factuais de polícia até matérias de educação, ciência, comportamento e assuntos que interferem no cotidiano do cidadão como trânsito, por exemplo.
Trabalhar em jornais de grande circulação cria uma grande responsabilidade. Como você lida com esta pressão diária?
Carla Alves - Aprendo a cada dia. Aprendo principalmente a perceber o quanto o jornalismo é a voz do cidadão. Isso é o que me norteia. Penso muito no leitor, no que ele espera do jornal que compra nas bancas todos os dias. No Super, não posso negar que a pressão é grande. Somos líder no mercado mineiro e é um jornal que depende da venda nas bancas ou nos pontos. Ou seja, se a capa não estiver boa, se as matérias não estiverem atendendo aos anseios do leitor, o jornal não vende. Mais que um jornalismo popular, fazemos um jornalismo de compromisso com o cidadão, de prestação de serviço. Diariamente temos que dosar isso na nossa edição: o esporte, o noticiário policial, os bastidores do mundo das celebridades e prestação de serviço. O jornalismo que fazemos diariamente com o Super é um jornalismo sério, direto e com a voz do cidadão.
Com a força de mídias sociais, a agilidade na divulgação de fatos é enorme. Como lidar com esta situação para que o leitor não perca o interesse pelo jornal, principalmente o impresso?
Carla Alves - Felizmente, pelo nosso cuidado e olhar atento ao leitor, sabemos que a internet é uma ferramenta ótima, mas ela não anula o impresso. O hábito de ler o Super, por exemplo, só se fortalece e isso nos motiva muito. Hoje, aqui no jornal, trabalhamos num núcleo integrado: rádio, portal e impresso. Todos se completam.
Você acredita que esta divulgação dinâmica até certo ponto é um indicativo de que a notícia estaria sendo tratada de maneira superficial?
Carla Alves - De forma alguma. Vejo que as pessoas querem cada vez mais rapidez na informação. Mas o impresso existe para oferecer ao leitor um conteúdo ainda mais aprofundado, isso sem perder o dinamismo.
Você poderia recordar uma reportagem que te emocionou e dificilmente vai sair da memória?
Carla Alves - Geralmente as matérias que envolvem crianças são as que mais me emocionam. Nesses 20 anos de jornalismo tenho um bocado de lembranças boas e ruins. Talvez a mais triste e que dificilmente sairá da minha memória foi a morte de crianças da mesma família soterrados num deslizamento de terra no Morro das Pedras, em BH. Esse caso é emblemático. Os pais sobreviveram, mas todos os filhos (acho que tinham primos também) morreram soterrados. Na verdade, te confesso que talvez, pela idade, eu esteja ficando mais emotiva ainda. Antigamente casos que eu sabia lidar com certa sobriedade hoje me tiram o chão. Sofro muito e quase sempre só uma boa sessão de terapia ajuda a reerguer a cabeça.
Qual a sua visão sobre a Sete Lagoas da atualidade?
Carla Alves - Quando penso em Sete Lagoas só me vêm à cabeça os buracos que encontro na cidade. Me preocupo e me indigno em ver uma cidade tão próspera e rica sofrer de problemas tão primários. Confesso que, nas vezes em que estive aí com amigos de fora, me envergonhei com tanto abandono. Acho que a palavra é essa: abandono.
Como você mata a saudade dos amigos e familiares que estão em Sete Lagoas?
Carla Alves - Infelizmente vou muito pouco à cidade. Tenho um grupo de amigas do Regina Pacis que, por enquanto, tem se restringido ao grupo de WhatsApp (risos).
Você pretende realizar algum trabalho em Sete Lagoas futuramente?
Carla Alves - Isso não está nos meus planos.
Quem é Carla Alves
Sete-lagoana, 43 anos. Filha de Maria das Graças (Dadá) e Carlos Alberto (in memoriam). Em Sete Lagoas estudou nos colégios Industrial e Regina Pacis. Jornalista formada pela Fafi-BH, atual Uni-BH. Foi casada com o também jornalista Hamilton Gualberto e mãe de Nilo. Trabalhou na Rádio Itatiaia, TV Record e, desde 1998, está no grupo da Sempre Editora, que edita os jornais O Tempo e Super. Começou como produtora/apuradora na editoria de Cidades, passou pela coordenação de pauta, foi subeditora do Super e também subeditora do caderno de Política. Em junho deste ano passou a comandar as edições diárias do Super.
Renato Alexandre