Nossa Gente Pelo Mundo: O ‘sorrisão’ que conquistou o Brasil

17/07/17 - 09:30

 

Quem é

Lipe Borges

 

Lipe Borges nasceu e cresceu em Sete Lagoas na década de 80. Se graduou em Publicidade e Propaganda na Faculdade Promove onde teve os primeiros acessos a câmeras fotográficas analógicas e todo o processo de revelação de filmes. Desde então, se apaixonou pela fotografia, até que em 2012 resolveu transformar o hobby em profissão. Fundou o Estúdio Colmeia, empresa especializada em fotografia de Família e Casamentos e o Ensino Fotografe, a primeira escola de fotografia de Sete Lagoas. Possui projetos de fotografia documental, atua como fotógrafo de casamentos e faz parte do Projeto Sonhar, um grupo de amigos e ativistas sociais da cidade que utiliza a figura do palhaço para contribuir para a transformação social. Atualmente mora em Mariana.

 

Uol, Terra, Exame, Catraca Livre, Veja, Record, Band News, Estadão, Zero Hora (RS), Globo.com... e contando... O fotógrafo sete-lagoano Lipe Borges viveu uma semana eufórica por conta de um post seu no Facebook. Nele, Lipe conta que foi ao Detran renovar a carteira de motorista e foi impedido de sorrir na foto. Sem en+tender o motivo, ele pediu explicação, tendo como resposta que, por se tratar de documento, não poderia sorrir. Ele então insistiu: “Por que não?”. Foi quando outra funcionária interveio, alegando que a norma estaria em um estatuto. Mais uma vez, o fotógrafo retrucou, pedindo para ler o documento e explicando tecnicamente que antigamente era fácil borrar a foto quando se mexia o rosto, mas que as câmeras atuais conseguem captar bem mesmo com pequenos movimentos faciais. A funcionária ligou para o órgão que regulamenta a emissão da CNH. Para sua surpresa, a resposta foi: “Moço, acabei de ligar lá e eles me informaram que você pode tirar a foto do jeito que quiser”. O caso aconteceu no dia 28 de junho no Detran de Sete Lagoas. Até o fechamento desta edição, o post (bit.ly/sd-sorrisao) contava com quase 30 mil compartilhamentos, 17 mil comentários e 125 mil curtidas. Lipe falou ao SETE DIAS. “Fico feliz em, de alguma forma, ter participado de uma transformação que foi criada a partir de regras arcaicas.”

 

De onde partiu a ideia de fazer a foto sorrindo? Já tinha visto alguma?

 

Na verdade há muito tempo esta ideia ronda pela minha cabeça. Há uns cinco anos tirei uma foto 3x4 sorrindo, mesmo depois de ser alertado pela fotógrafa que eu não poderia utilizar esta imagem para documentos. Acabei não utilizando, mas ainda hoje tenho estes retratos. Existe um curta metragem chamado Validation, que pode ser encontrado no You Tube (bit.ly/2uiQH63), que me influenciou bastante. Sempre passamos este filme para nossos alunos.

 

Diante da recusa inicial da funcionária, pensou em voltar atrás?

 

Sim. Após argumentar e ser orientado a escrever um documento alegando a minha responsabilidade pelo sorriso da fotografia, bateu um desconforto. Quando eu estava saindo do exame, antes da proprietária da clínica me dizer que estava autorizado pelo orgão responsável, eu pensei na burocracia que eu iria enfrentar caso eu assinasse o termo. Como moro em Mariana, eu teria que vir a Sete Lagoas para fazer um novo retrato e minha carteira já estaria vencida, correndo o risco de ser multado nas rodovias.

 

Acredita que sua explicação técnica influenciou no posicionamento das funcionárias do Detran?

 

Acho que deixou a proprietária com uma pulga atrás da orelha, fazendo com que ela procurasse mais detalhes sobre as normas do Detran.

 

Quando postou o caso em seu Facebook, esperava essa repercussão toda?

 

De forma alguma, foi uma surpresa muito grande. Pensei em postar algo que pudesse informar as pessoas sobre estas regras e seus fundamentos e da importância do questionamento. Na hora do post, também pensei que poderia ser algo para descontrair as pessoas do meu círculo de amizades.

 

Até agora em quais veículos online seu caso já apareceu?

 

Perdi completamente o controle desta informação. Mas sei que já rodou em todos os estados do Brasil.

 

Parece que agora as TVs também têm te procurado, certo? Como está sua agenda de entrevistas?

 

Certo. Recebi convite para entrevistas na ETV e na TV Band Minas. Recentemente fiz uma entrevista para o Jornal da Record TV também. O programa Encontro da Fátima Bernardes também entrou em contato, mas não conseguiram encaixar na programação, por enquanto.

 

Você acredita que, a partir de agora, mais pessoas passarão a sorrir nas fotos de documentos?

 

Não tenho dúvidas disto. Muita gente me chamou em conversas privadas para dizer que a partir de agora vai sim sorrir em seus documentos. Da mesma forma que outras pessoas mandaram dizendo que já fizeram isto em outros estados e não enfrentaram o mesmo problema que eu. Os comentários na postagem, que já ultrapassam 17 mil, também revelam que muitas pessoas irão adotar a mesma postura a partir de agora. Fico feliz em, de alguma forma, ter participado de uma transformação que foi criada a partir de regras arcaicas.

 

Sabe se algum veículo internacional chegou a noticiar o caso também?

 

Sim. A Rádio Nacional dos Estados Unidos entrou em contato para uma entrevista logo depois do post ter viralizado.

 

Na sua opinião, qual a importância de um sorriso?

 

Meu pai é dentista, e desde muito pequeno escuto ele dizer: “Você tem 32 bons motivos para sorrir”. Minha mãe e meus irmãos têm um sorriso maravilhoso, do qual me orgulho muito. Difícil não reconhecer o sorriso deles. Entre um dos projetos de fotografia documental que participo, existe um com o médico e palhaço Patch Adams que acontece anualmente na Selva Peruana e reúne palhaços do mundo inteiro para levar alegria em uma zona de extrema pobreza. Umas das frases que é atribuída ao Patch é a de que rir é o melhor remédio, apesar dele afirmar que esta frase não é dele. Um sábio que acredita que a revolução do mundo só será possível através do amor.

 

Renato Alexandre

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