Novos vereadores, velhas práticas

09/03/17 - 10:51

 

 

Paulo de Tarso tem duas frases, aparentemente antagônicas, atribuídas a si. Ao que parece, os vereadores da atual legislatura preferem seguir o “tudo posso naquele que me fortalece” a “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Mal assumiram seus cargos e os vereadores recém-empossados em Sete Lagoas seguem fielmente a cartilha dos mais antigos: gastar o máximo possível o dinheiro público da verba indenizatória a que têm direito, no valor máximo de R$8.500, mesmo sendo janeiro mês de recesso parlamentar. As planilhas de gastos dos gabinetes do mês de janeiro, disponibilizada no Portal da Transparência da Câmara Municipal de Sete Lagoas às vésperas do Carnaval, mostram que os novatos da atual legislatura Gilson Liboreiro, Gislene, Zé do União e Rodrigo Braga, juntos, gastaram mais de R$6 mil com as reformas de seus gabinetes.

 

CONSULTORIAS

Dr. Ronaldo João e Beto do Açougue não apresentaram notas sobre gastos com reforma de gabinetes, mas o médico usou quase metade da verba, R$4 mil, com “consultoria e assessoria jurídico/parlamentar” paga a Kelly Cristina de Oliveira Soares, enquanto Beto do Açougue gastou R$2.480 somente com materiais de escritório. Rodrigo Braga foi outro que contratou os serviços de consultoria jurídica, porém, por um valor mais módico: R$2.500, pagos a Jonathan Freitas de Vies.

 

CARTÕES  DE VISITA

Apenas o vereador Gilson Liboreiro gastou a bagatela de R$3.470 com a confecção de cartões de visita na JG Gráfica. O SETE DIAS fez contato com a gráfica para orçar o milheiro. “O mais comum sai por R$80 enquanto o mais caro, com laminação fosca e verniz localizado, custa R$160”, informou a atendente. Logo, com o valor gasto pelo vereador seria possível imprimir quase 22 mil cartões de visita do modelo mais caro ou 43 mil cartões da versão mais barata.

 

JÁ COMEÇAM BEM RODADOS

Outro tipo de gasto dos novatos que chama a atenção é o de combustíveis. Apesar do recesso parlamentar de janeiro, os vereadores dirigiram por milhares de quilômetros como se fosse “mês útil”. Dos seis novos vereadores, apenas Gilson Liboreiro e Zé do União não apresentaram demonstrativo de gastos dessa natureza, apesar de Zé do União já ter dois veículos alugados no valor mensal de R$2 mil cada das proprietárias Samira Mayra Santos e Sônia Maria da Costa. Já Gislene, Ronaldo João, Rodrigo Braga e Beto do Açougue, juntos, consumiram R$6.530 em combustíveis, o suficiente para rodar por mais de 17 mil quilômetros, considerando o litro a R$3,84 em um veículo com consumo de 10 km/l, o equivalente a duas viagens de ida e volta para Manaus pela BR-364. 

 

Se acrescentarmos os gastos com o mesmo produto dos demais vereadores, a conta sobe para R$24.423, o suficiente para rodar por mais de 63.600 Km, quase uma vez e meia a circunferência da Terra, que é de 40 mil Km. Em janeiro Ismael Soares, pela primeira vez, aparece em primeiro lugar no ranking de maior gasto de combustível, com R$3.239 (suficiente para rodar 8.500 Km). Amargou o segundo lugar Euro Andrade, até então invicto no pódio, com R$ 2.905. O terceiro lugar ficou com Renato Gomes, deixando mais de R$2.700 na bomba do posto. Ismael também lidera os gastos com água mineral, R$95 há dez meses seguidos, o suficiente para mais de dez galões de 20 litros cada.

 

REVISÃO

Janeiro é mês de revisão e alguns vereadores, dando o exemplo, se mostraram bastante preocupados com esse item. Fabrício Nascimento R$460), Marcelo Cooperseltta (R$400) e Marli de Luquinha (R$1.090) deram uma geral em seus veículos adquirindo peças e contratando serviços de manutenção veicular. Entre os gastos de “manutenção veicular” de Marli de Luquinha, inclusive, constam R$65 na CRM Insulfilm.

 

HAJA FOME

Os servidores do gabinete do vereador Milton Martins foram muito bem alimentados em janeiro. O parlamentar pagou R$1.405 em alimentos a uma padaria e a uma lanchonete. Fazendo um paralelo, em 2012 o vereador de Belo Horizonte Léo Burguês teve o mandato cassado por pagar uma média de R$1.500 à mercearia de sua madrasta, tendo sido inclusive tema de uma marchinha de carnaval. A verba indenizatória dos vereadores pode ser consultada em bit.ly/sd-verbacamara

 

Outras curiosidades da prestação de contas da verba indenizatória de janeiro:

 

  • Beto do Açougue aluga dois carros por R$870 e R$580 dos proprietários Jarbas Geraldo de Oliveira e João Amâncio de Carvalho, respectivamente. São alguns dos aluguéis mais baratos entre os edis, além de Rodrigo Braga, que aluga um Uno de Paulo Henrique Santos Valadares por R$563.
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  • O hoje secretário de Esportes e Lazer Marcelo Cooperseltta também aproveitou bem sua verba durante o recesso às vésperas de deixar o Legislativo. Aproveitou tanto que extrapolou o limite de gastos e saiu devendo R$16,54.
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  • Entre os seis novos parlamentares, dois já começaram suas atividades extrapolando o teto: Zé do União (R$126 além da cota) e Rodrigo Braga (R$568 acima do limite permitido). 
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  • Os mais econômicos foram Ronaldo João (R$4.697) e Gislene (R$4.572), com pouco mais de metade da verba gasta.
 

Marcelo Sander

 

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Respostas

 

Após publicação da matéria na versão impressa do jornal SETE DIAS, edição 1.309, de todos os vereadores citados, apenas Milton Martins (PSC), Gilson Liboreiro (PSL) e Ronaldo João (PDT) justificaram seus gastos. 

 

Segundo Milton Martins, o gasto total de R$1.405 com alimentos não foi integralmente utilizado com funcionários de gabinete, apenas R$735, em uma padaria. Os demais R$670 foram pagos exclusivamente a um restaurante para a alimentação do próprio vereador.

 

Já Gilson Liboreiro detalhou que, dos R$3.470 gastos na JG Gráfica, na verdade R$1.250 foram para a impressão de 20 mi cartões de visita e o restante, R$2.220, custearam a confecção de envelopes. Porém, a prestação de contas do vereador no Portal da Transparência especifica apenas cartões de visita e não cita envelopes. Para isso, será necessário distribuir uma média de 14 cartões por dia, incluindo sábados, domingos e feriados.

 

Para a advogada de Ronaldo João, Kelly Cristina de Oliveira Soares, a mesma que recebeu quase metade da verba de gabinete em janeiro, o SETE DIAS atingiu "a imagem e a honra" do vereador, requerendo por isso "direito de resposta", indicando inclusive a página do jornal a ser publicada a resposta na íntegra. Na nota, a advogada pede que o valor gasto com combustível seja individualizado, e não o somatório dos vereadores. Também registra que Ronaldo João devolveu R$3.802,81 da verba indenizatória (informação subentendida no final da matéria, quando menciona que o vereador foi um dos mais econômicos, gastando R$4.697 dos R$8.500 a que tem direito). Ronaldo João gastou R$697,19 com combustível, de fato o menor gasto entre os edis.

 

Confira as íntegras das notas enviadas pelos parlamentares AQUI.

 

Marcelo Sander

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