A vida de quem depende de seu salário na Prefeitura de Sete Lagoas não tem sido nada fácil nos últimos meses. Os sucessivos atrasos de pagamento, decorrentes, segundo o Executivo local, da falta de repasses do Governo Estadual (já se aproximando dos R$ 125 milhões), tem comprometido o sustento de várias famílias e acumulado prejuízos não somente para os servidores, mas também para todo o comércio, em um círculo vicioso: sem salário, servidores não compram. Sem vender, comércio demite. E segue a bola de neve.
No último mês, orientados pelo Sindicato dos Servidores Públicos de Sete Lagoas (SindSel), servidores têm feito paralisações e reduções na jornada de trabalho em protesto, além de reuniões com o Executivo. "Temos cobrado constantemente do Executivo uma resposta quanto aos atrasos. Apresentamos várias propostas que poderiam amenizar a crise.Fomos à Câmara Municipal, Assembleia Legislativa, enfim, pressionamos de todas as formas. Neste momento, acreditamos que temos que somar esforços e nos unir em prol do bem coletivo", afirma a presidente da entidade, Aparecida Gomes (Mazinha).
Dificuldades
Enquanto isso, os servidores vêm se virando como podem, até mesmo realizando empréstimos em financeiras. É o caso do vigia escolar Wagniton Antoniel, lotado na Escola Municipal Padre Tarcísio e concursado desde 2003. "Meu salário já é pouco e eu já vinha de alguns empréstimos feitos em anos anteriores. Agora fiz mais empréstimos para ver se conseguia pagar as contas. Pelo menos a de luz, que a gente não pode ficar sem", diz o servidor, que acredita ter uma dívida atual em torno de R$ 20 mil. Casado e com um filho de seis anos, Wagnitom conta com a ajuda da esposa, que trabalha como babá. "Em dezembro minha esposa pagou as contas. Minha situação está difícil, mas não tão ruim igual a outros servidores onde toda a renda da família depende da Prefeitura", contemporiza.
Quem passa por essa situação é a servidora Maria das Graças Oliveira Santos, concursada desde 1995 e atualmente lotada na Secretaria de Saúde como assistente administrativa. "Fica difícil porque a gente trabalha por questão de necessidade, temos nossas despesas ", informa. O marido de Maria das Graças também é servidor público municipal, o que faz com que o problema seja dobrado. "Ele é eletricista, então presta serviço como autônomo nos fins de semana. É o que tem nos salvado", lembra a servidora.
Prefeitura
Segundo o secretário municipal de Fazenda, Cássio Marcílio de Almeida, atualmente a Prefeitura deve folhas referentes a dezembro e ao 13º Salário de 2018. A folha líquida de dezembro equivale a R$ 16,9 milhões, já o 13º salário fica em R$ 14,1 milhões, totalizando R$ 31,1 milhões. "Ressaltando que a diferença no 13º refere-se ao acordo de compra em supermercado da cidade utilizando até 30% do benefício por cada servidor", informa Cássio. A folha de janeiro a ser paga em fevereiro venceu nesta quinta-feira, 7.
Ainda de acordo com Cássio, a Prefeitura quitou no último dia 1º o restante da folha de novembro e, no dia 29 de janeiro, pagou o salário do mês a todos os servidores da Educação (R$ 3,7 milhões) de maneira antecipada. "Foi necessário fazer este replanejamento porque os recursos do Fundeb que entram este ano não poderão ser utilizados para acertos referentes a 2018", explica. "Em novembro contemplamos quem recebe menos. Todos com vencimentos de até R$ 1.200 líquidos receberam no dia 2 de janeiro. Em seguida foram feitos dois rateios, a pedido dos sindicatos e, por fim, finalizamos o pagamento com um aporte maior de recursos ", explica.
A Prefeitura tem atualmente 6.472 servidores (efetivos e inativos). Mas, segundo Cássio Almeida, o número deve aumentar, tendo em vista que será necessário completar o quadro técnico da Educação em função do retorno das aulas.
Marcelo Sander
