Visitantes indesejados podem ser retirados da orla da lagoa

05/10/17 - 09:14

Pássaros que habitam o entorno da Lagoa Paulino deixam a calçada, principalmente na avenida Coronel Altino França, com um excesso de excremento (fezes) que, além de incomodar, pode oferecer risco à saúde de quem passa pelo local. A situação atingiu tal ponto que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) prepara uma operação especial para retirar as aves do local. 

 

Os moradores indesejáveis que durante a noite ocupam as imensas palmeiras são os chamados biguás. A espécie se alimenta de peixes utilizando suas habilidades de mergulho e deixa um rastro de mau cheiro na calçada. “Adoro fazer caminhada na orla da lagoa, mas neste trecho não dá. Prefiro dar a volta e passar pela avenida Emílio de Vasconcelos”, comenta a servidora pública Amanda Carvalho. “Além do odor insuportável, as fezes deixam o piso escorregadio”, reclama o aposentado Augusto Silva. 

 

O secretário municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Nadab Abelin, ainda coloca como risco o pó oriundo das fezes secas que são constantemente pisoteadas por pedestres. “As pessoas respiram aquele pó e, talvez, isso seja prejudicial à saúde”, completa. 

 

O biólogo Ramon Lamar (leia entrevista abaixo) recorda que, na administração do ex-prefeito Marcio Reinaldo, foi apontada uma solução que não foi colocada em prática pela Prefeitura “por falta de orçamento”. O plano era baseado em três ações. A primeira seria a redução da copa das árvores e palmeiras frequentadas pelas aves.  “Inclusive já dispomos, a nível nacional, de uma norma técnica para a poda de palmeiras que permite a remoção das folhas (fronde) num ângulo abaixo de 45 graus em relação ao plano horizontal”, explica. A segunda seria incomodar os pássaros com holofotes que seriam direcionados para as copas das árvores no sentido de forçá-las a mudar para outros locais. E a terceira, em caso extremo, seria o uso de fogos de artifício para provocar o incômodo. “Com isso elas se veriam obrigadas a procurar abrigo em pontos mais afastados ou na periferia da cidade”, explica. 

 

Agora, a Semas caminha neste sentido para tentar afugentar os biguás.  O plano envolve instituições como Instituto Estadual de Floresta (IEF), Ibama, Fundação Estadual de Meio Ambiente e Polícia Ambiental e faz parte de um projeto de recuperação da Lagoa Paulino. A expectativa é que as ações sejam colocadas em prática em janeiro de 2018. O primeiro passo será a poda das árvores e, em seguida, serão instalados equipamentos sonoros para afugentar os pássaros. “No Aterro Sanitário já funciona um sistema sonoro e ainda temos um da Elma Chips que emite o som de um pássaro predador e afugenta as aves de maneira natural”, comentou o secretário da Semas.

 

Entrevista

 

Qual espécie de ave que, normalmente durante a noite, habita palmeiras na orla da Lagoa Paulino?

São várias as espécies que procuram as palmeiras à noite para se abrigarem. As principais são espécies de garças brancas, socós e biguás.

 

A lagoa é o principal atrativo para estas espécies?

Quando a lagoa encontra-se muito rasa (como está acontecendo agora na Lagoa da Boa Vista), passa a ser sim um atrativo para as garças. Os biguás já preferem as águas um pouco mais profundas pois são excelentes mergulhadores e pegam os peixes dessa forma. Socós geralmente são vistos pescando nas margens. Mas a questão ali não é de “atrativo” ou “de alimentação”. A questão é mais de abrigo.

 

Algum desequilíbrio ecológico estaria trazendo estas aves para o ambiente urbano?

Sim. Temos assistido uma diminuição das árvores que poderiam servir de abrigo noturno para essas aves ao redor da cidade. Muito desmatamento e muitos em regiões que possuem ambientes propícios para as aves se alimentarem durante o dia. Com esse desmatamento vem também a agressão às aves que é feita de todas as formas, de pedradas a tiros. Com isso, ao que tudo indica, as aves passaram a procurar as árvores e palmeiras do centro da cidade onde estão livres desse tipo de agressão.

 

Existe algum risco de doença caso haja contato com este tipo de excremento?

É sempre bom evitar contato com fezes de animais e isso vale muito para as fezes de aves silvestres. Na verdade, nem sabemos que tipo de contaminação esse contato pode trazer para a saúde humana. É amplamente conhecido o problema da psitacose, grave doença causada por um tipo de clamídia (bactéria) que pode ser transmitida pela poeira de fezes principalmente de papagaios e pombos. Sem ser alarmista, convém lembrar também de outras doenças como a gripe aviária. Portanto, a exposição às fezes é no mínimo um risco.

 

Renato Alexandre

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