por Celso Martinelli
A decisão, ainda que não seja definitiva, de Cruzeiro e Atlético não jogarem no momento na Arena do Jacaré, já repercute na cidade. Na verdade, no bolso de quem pode lucrar diretamente com a bola rolando em Sete Lagoas com os maiores da capital em campo. Investimentos foram feitos, mas o retorno ainda está muito aquém do esperado. A prefeitura avalia que o fluxo de pessoas que vem de Belo Horizonte diminui, o que compromete o consumo de produtos e serviços. Apesar disso, considera que o município ainda tem condições de ser uma subsede da Copa de 2014.
O Democrata perde a chance de lucrar com o estacionamento e pode rescindir contrato com a empresa que foi contratada para administrar o serviço. Para o presidente do Conselho Gestor do Jacaré, Flávio Reis, o prejuízo é inevitável. “Terceirizamos o estacionamento e a qualquer momento a empresa que ficou responsável pode rescindir o contrato, já que os grandes jogos é que geram lucro. Mas o prejuízo maior é emocional, pela expectativa gerada junto à população”, considera. Para Flávio, Cruzeiro e Atlético vão voltar atrás. “Após analisarem, fizerem alguns jogos fora, vão perceber que a logística para se jogar em outros estádios é complicada e mais cara”, acredita.
Comerciantes da região também investiram. É o caso de Carlos Antônio, proprietário do bar Mais 1. Ele conta que vendeu casa, carro e moto para acelerar as obras de construção do seu estabelecimento, e hoje não vê retorno para tanto dinheiro aplicado. “Vendi alguns bens para terminar o bar antes do início dos jogos. Foi alto o investimento, já que o bar foi preparado para receber torcedores e imprensa, tudo com material diferenciado. Acho que a Prefeitura deve agir para reverter a situação, oferecer vantagens para se jogar em Sete Lagoas. Não podemos deixar um estádio desse porte virar um elefante branco”, lamenta.
O turismo também perde. O gestor do Circuito das Grutas, que tem sede em Sete Lagoas, Marcos Alain, afirma que o torcedor família – de Belo Horizonte e região metropolitana - vai fazer falta. “Muita gente que veio ver os poucos jogos realizados na Arena do Jacaré, principalmente as famílias, aproveitou para conhecer a Gruta Rei do Mato, Serra de Santa Helena e atrativos da região. O prejuízo é grande para o turismo e o que nos propomos a fazer. É um fluxo de pessoas que consome bastante”, considera. A entidade Circuito das Grutas foi idealizada por representantes dos municípios de Lagoa Santa, Matozinhos e Pedro Leopoldo em maio de 1998, com o objetivo de planejar, estruturar e fomentar a atividade turística na região.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Eder Bolson faz uma análise da atual situação. Para ele, sem os jogos Sete Lagoas deixa de ganhar um movimento maior de pessoas da grande BH e municípios vizinhos. “Essas pessoas sempre acabam consumindo produtos e serviços locais”, considera.
Outro aspecto observado é que as delegações de Atlético e Cruzeiro não estavam se hospedando em hotéis da cidade, mas na região, como o Águas do Treme, em Inhaúma, e o Maquiné, em Caetanópolis. Bolson admite que a rede hoteleira local tem muito o que melhorar. “A nossa rede ainda não atende a realização de médios ou grandes eventos. Temos cerca de 1.300 leitos. Para acomodar um fluxo maior de turistas de esportes, lazer e negócios precisamos pelo menos dobrar essa disponibilidade de leitos”, avalia. O secretário cita como ações nesse sentido, dois hotéis em construção no centro da cidade e a expansão do JN Resort, que agora conta com 61 aptos de categoria superior.
Apesar dos problemas, Bolson afirma que Sete Lagoas pode ser sim, uma sub-sede da Copa de 2014, e tem vantagens sobre as cidades concorrentes. A decisão temporária de Cruzeiro e Atlético não tira o otimismo do secretário. “São situações e eventos completamente diferentes. Nenhuma cidade de Minas Gerais tem condições tão favoráveis quanto Sete Lagoas para acolher uma seleção que vai jogar em Belo Horizonte. A Prefeitura vai continuar trabalhando para que a cidade seja subsede”, finaliza o secretário.
