Engenheiro agrônomo ensina como diminuir danos do frio sobre a lavoura

Conheça possíveis soluções que amenizam os efeitos da geada e o frio extremo na produção agrícola

01/06/22 - 13:00

Com o frio, apesar de mais ameno nos últimos dias, o engenheiro agrônomo, agricultor e produor de cachaça Aurélio Lopes Filho dá importantes dicas de como o agricultor pode se prevenir dos danos das baixas temperaturas ou geadas, com o objetivo de não perder toda a lavoura. Em Agronomia, entende-se geada como fenômeno atmosférico que provoca a morte das plantas ou de suas partes (folhas, caule, frutos, ramos), em função da baixa temperatura do ar, que acarreta congelamento dos tecidos vegetais, havendo, ou não, formação de gelo sobre a planta.

 

Segundo ele, a proteção de plantas contra os efeitos letais causados pela geada é problema considerável na agricultura, especialmente para as lavouras de alta rentabilidade. “Esses fenômenos são perigosos porque podem danificar os tecidos vegetais, prejudicando a produtividade e em casos mais graves levando à morte das plantas.  Os danos causados pelas baixas temperaturas durante a ocorrência de geadas são uma consequência da formação de cristais de gelo dentro das plantas. Essa formação de gelo pode ser intercelular, ou seja, no espaço entre as células, ou dentro das próprias células”, explica.

 

A geada leva ao desequilíbrio do potencial químico da água dentro da estrutura das plantas, levando a um fluxo contínuo da solução intracelular para a solução extracelular, o que leva à morte das células e, em consequência de partes da planta ou da planta toda. “Outra consequência, por exemplo, é o congelamento da seiva das plantas, o que leva ao rompimento dos vasos condutores e à necrose dos tecidos”, completa Aurélio.

 

Mas, se o clima é algo que o agricultor não pode controlar diretamente, como proteger a lavoura das baixas temperaturas e dos efeitos da geada? O engenheiro agrônomo responde: “- As plantas têm uma certa resistência às temperaturas baixas, mas, quando ocorre a geada, é comum que a temperatura caia abaixo do limite considerado letal para elas. Na nossa região, as lavouras que podem ser mais afetadas são as hortaliças, pois são sensiveis a baixa temperatura, principalmenteas folhosas. Para amenizar, recomenda-se manter aspersores ligados no dia em que a geada ocorre, até o nascer do sol. Isso porque a água tem temperatura maior em relação ao ambiente”, justifica.

 

Segundo Aurélio é levado em conta que -2ºC seja a temperatura crítica mínima abaixo da qual se iniciam os danos nas plantas de espécies menos resistentes, como banana, mamoeiro e arroz. Para as espécies mais resistentes, como o cafeeiro, cana-de-açúcar e citrus, o limite é de -4ºC. Os danos serão mais graves e extensos quanto maior for a queda de temperatura abaixo desse limite.

 

“Para evitar o efeito da geada, podemos colocar tambores ao redor das lavouras e fazer fumaça para amenizar o efeito das baixas temperaturas. É comum em regiões de café, o uso do “nebulizador” nas plantações para proteger as plantas. Quando a geada desce, a fumaça desce junto e a película fica em volta da folhas da cultura. Com o produto, que se forma com essa fumaça mais a névoa que desce, o nível de congelamento tem que ser muito mais baixo que zero grau, para pejudicar a planta. O manejo nutricional é um grande aliado na diminuição de danos por geada”, considera Aurélio Lopes Filho.

 

Além disso, técnicas como o uso de coberturas protetoras ou a irrigação da cultura com água durante a noite da geada, ajudam a minimizar os efeitos desse fenômeno. Isso em áreas irrigadas. “Entretanto, o manejo nutricional também pode fazer a diferença na hora de evitar que as baixas temperaturas gerem muitos prejuízos. O potássio, por exemplo, é um macronutriente essencial para as plantas e entre as suas funções está justamente a amenização de estresses abióticos, como o frio. O potássio ajuda a reduzir o ponto de congelamento da seiva, mitigando os efeitos negativos da geada na planta”, ensina o agricultor.

 

Contudo, não é somente o potássio que pode ajudar na proteção da lavoura contra os prejuízos causados pelas baixas temperaturas e pelas geadas. O papel do enxofre e do silício no aumento da resistência das plantas ao frio. “O enxofre é um nutriente que faz parte do grupo dos macronutrientes secundários. Entre as suas muitas funções no desenvolvimento das plantas, o enxofre está envolvido em processos metabólicos de substâncias importantes”, explica.

 

Assim, pensar na nutrição com o enxofre na hora de planejar o manejo agrícola é importante para que as plantas tenham mais resistência em épocas de baixas temperaturas e geadas. Já o silício é um elemento que é reconhecido como benéfico para as plantas. Isso quer dizer que, embora ele não seja essencial para o seu desenvolvimento, ele traz benefícios importantes para elas:

 

- O ácido monosilícico [forma pela qual as plantas absorvem o silício], depois de absorvido pelas plantas, é depositado principalmente nas paredes das células da epiderme, contribuindo substancialmente para fortalecer a estrutura das plantas e aumentar a resistência ao acamamento e ao ataque de pragas e doenças, além de diminuir a transpiração. Esse fortalecimento da estrutura das plantas é vantajoso para que elas lidem com os efeitos das baixas temperaturas e do congelamento causado pelas geadas, já que o silício ajuda a manter as células das plantas mais íntegras e sem rompimentos. 

 

Segundo Aurélio Lopes, assim que a temperatura volta a subir, a planta consegue voltar à sua atividade metabólica normal, sem grandes danos. “Pensar em estratégias globais e na microbiota do solo são a chave . Em resumo, pensar no manejo nutricional de forma global, incluindo elementos como o silício, o potássio e o enxofre pode ajudar o agricultor a prevenir os danos causados à lavoura pelas baixas temperaturas e geadas.  Desta forma, um bom manejo de solo, plantio direto, cobertura com palhada, uma boa correçã e mantendo os niveis adequados de fertilidade, podem favorecer o desenvolvimento dos microrganismos benéficos do solo, que são importantes para a saúde do solo e para o desenvolvimento das plantas”, finaliza o engenheiro.

 

 

QUEM É

Aurélio Lopes Filho é Engenheiro Agrônomo, formado pela ESACMA, em Machado (MG). Mestre em Biotecnologia e gestão da inovação – FEMM – Sete Lagoas – MG; Pós-graduado em Gestão Ambiental – UCAM – Campos dos Goytacazes – RJ; Consultor Agrícola, produtor rural/agricultor, produtor de cachaça e prestador de serviços mecanizados.

Veja Mais