Valores praticados em posto de gasolina em Sete Lagoas em março de 2020, início da pandemia da Covid-19

O coordenador do Sindpetro/MG, Alexandre Finamori, esclarece oscilação dos preços

01/06/22 - 09:00

Na última semana de abril, os preços da gasolina e do diesel recuaram nos postos de
combustíveis. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, o valor do litro do diesel caiu de R$ 6,943 para R$ 6,918, o que representa uma redução de 0,4%. Na semana anterior, o preço do combustível alcançou o maior valor nominal desde que a ANP passou a fazer levantamento semanal de preços, em 2004, atingindo um patamar recorde. O balanço desta semana mostrou também que o preço do litro da gasolina passou de R$ 7,275 para R$ 7,252, queda de 0,3%. Por fim, o valor do etanol recuou 0,7%, para R$ 5,186 o litro.
Em entrevista exclusiva ao SETE DIAS, Alexandre Finamore, Coordenador do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindpetro/MG) explica o motivo de oscilações no preço dos combustíveis:
RL: Por que o preço da gasolina, mesmo com leve recuo, está tão alto?
AF: Os preços dos combustíveis praticados nos postos de gasolina refletem o impacto dos aumentos praticados pela Petrobrás nas refinarias. Os aumentos abusivos que temos visto são decorrentes da política de preços adotada pela Petrobrás no governo Temer e que continua no governo Bolsonaro. Dessa forma, os aumentos acompanham a variação do dólar e preço do petróleo no mercado internacional.
Mesmo não ocorrendo aumento imediato nas refinarias da Petrobras, existem
desdobramentos dos aumentos anteriores e reflexos da privatização da refinaria da Bahia, que agora tem o preço da gasolina mais alto no Brasil.
Além disso, essas oscilações do preço do dólar e do Petróleo, que a Petrobras passa para o consumidor, só chega no posto quando é para aumentar; quando é para reduzir, tanto a distribuidora quanto o posto de gasolina transformam em margem de lucro.
Quando a BR distribuidora era estatal, era possível repassar a redução que ocorre na refinaria para o consumidor, com ela privatizada, e sem um ator que possa minimizar esse problema, o livre mercado da distribuição repassa os aumentos e acumula margem de lucro quando a refinaria reduz o preço.
RL: Muitos acreditam que a disparada dos preços da gasolina, assim como do etanol e gás de cozinha, foi causada pela alta demanda do consumidor. Procede?
AF: Essa informação está incorreta. A ANP sabe que a Petrobras está tabelando o preço atrelado ao Barril de petróleo internacional e ao dólar. Hoje o barril de petróleo está custando próximo de 100 dólares; mesmo aqui no Brasil o petróleo sendo extraído próximo de 7 dólares, a Petrobras vende a gasolina como se tivesse sido processada de um petróleo com o custo internacional. Claro, que os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia influenciaram diretamente a oferta de petróleo e com isso o aumento relativo do consumo de derivados como gasolina, etanol e gás de cozinha. Porém, isso é no cenário mundial, aqui no Brasil, que é um país exportador de petróleo, não deveríamos estar sofrendo esses efeitos. Isso só ocorre por decisão do governo e Petrobras em manter a política de preço da companhia, o PPI. RL: A política de Preço de Paridade Internacional (PPI) da Petrobras foi adotada em outubro de 2016, fazendo com que os preços dos derivados de petróleo no país fossem calculados com base nas variações no mercado internacional. O que isso significa na prática?
AF: Vou dar um exemplo simplório e prático: vamos supor que o petróleo no pré-sal, hoje extraído por 7 dólares, fosse totalmente transformado em gasolina (o que na prática não é possível, porém é uma simplificação para entender o problema) ao um custo hoje médio nas refinarias brasileiras de 2 dólares. Ao invés de usar esses custos de produção como referência, a Petrobrás usa o valor de uma gasolina produzida na Europa ou Estados Unidos, considerando o Petróleo usado com o custo de 100 dólares, somado aos custos de transporte dessa gasolina da Europa ou Estados Unidos para o Brasil, acrescido ainda das taxas de importação.
Ou seja, quando se compra a gasolina da Petrobras, produzida com petróleo nacional barato e refinado em baixo custo nas refinarias nacionais, você paga o valor de uma gasolina produzida em outro continente, mais transporte e taxas de importação. Absurdo!
RL: Existe a previsão/possibilidade de que os preços dos combustíveis desacelerem ou a tendência é elevar cada vez mais?
AF: Na forma que a Petrobras é gerenciada hoje, na lógica de mercado, é impossível afirmar isso. Nós ficaremos totalmente vulneráveis a qualquer crise externa, guerra, pandemia ou até mesmo interesses da OPEP. Para termos uma previsibilidade e maior conforto para o consumidor e a indústria nacional, é necessário que se altere a política de preços da Petrobras e que a empresa volte a trabalhar com objetivos nacionais.

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