Crônicas

Primeiro dia 

13/09/21 - 10:31

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Estava estes dias recordando o meu primeiro dia de trabalho, parece que foi ontem, mas já faz bem tempo. Era uma jovem com 19 anos, uma menina, estagiária em uma escola pública. Recebi o convite para substituir uma professora, a sensação que tive foi inexplicável, sonhava em trocar de papel de aluna para professora. Pediram que começasse no dia seguinte, os preparativos para estreia foram enormes, treinei de frente ao espelho, falava com entonações diferentes. Montei uma aula interessante, logicamente sem os milhares de recursos que temos hoje. Os alunos eram humildes, interessados, buscavam o conhecimento, para muitos deles o tempo na escola era descanso dos afazeres domésticos, a maioria ajudava os pais.

Daria aula às 7 horas da manhã, à noite já separei a roupa, os acessórios como faço até hoje. Procurei uma roupa simples e bonita, camisa branca, calça jeans, colar e brincos bem coloridos, um tênis bem confortável. Naquela época dormia no mesmo quarto da minha irmã, então não poderia acender luz muito cedo para não acordá-la. Não dormi direito acordava achando que estava na hora de levantar, nunca gostei de despertador e além do mais a emoção e ansiedade me dominaram. Levantei bem antes da hora,  arrumei, tomei café rapidinho , peguei os materiais e fui realizar meu sonho. Fui andando, como já falei em outro texto não dirijo, não conseguia enxergar ninguém pelo caminho, só pensava nas aulas.

Chegando à escola fui muito bem recebida como todos os dias, mas agora era a professora que entrava em cena, as turmas eram de 5ª série, hoje 6º ano. Fui recebida com muito carinho, ficaram felizes por de repente a estagiária que procurava ajuda-los nas atividades tornar-se a regente da classe. Depois de um tempo de aula percebi que me observavam diferente, alguns pareciam querer rir, mas não comentavam nada, naquela época os alunos eram mais tímidos e respeitavam mais aos seus mestres. Fiquei pensando o que seria , quando de repente percebo que fui trabalhar com a camisa do lado avesso, não aguentei ri muito e liberei a turma para rirmos juntos. Até hoje não consigo entender como consegui abotoar a camisa, na rua todos devem ter rido também , mas não me interpelaram , meus olhos e o caminhar estavam muitos felizes para gerar qualquer constrangimento.

Foi a melhor estreia, mostrou claramente meu jeito alegre de viver. Ainda continuo com entusiasmo apesar de todas as barreiras profissionais que encontro, ainda gosto de arrumar para trabalhar, no primeiro dia sempre tem o frio na barriga, a expectativa. Peço a Deus que nunca me deixe perder o amor por meu trabalho. Gratidão a todos que passaram por minha sala de aula.

Élida Gontijo - Setembro de 2021.

Élida Gontijo

Élida Gontijo