Chuvas não são o bastante para salvar produção agrícola

25/10/21 - 11:00

Região de Capão Furado, em Santana de Pirapama: onde a mata está verde é porque tem curso de água; o resto é muita seca. Foto: Fernando Piancastelli/CBH Velhas
Região de Capão Furado, em Santana de Pirapama: onde a mata está verde é porque tem curso de água; o resto é muita seca. Foto: Fernando Piancastelli/CBH Velhas

Celso Martinelli

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Velhas) mobiliza moradores e produtores rurais de sub-bacias localizadas, principalmente, em Jequitibá e Santana de Pirapama. Mesmo com o início do período chuvoso, a escassez hídrica que se estendeu mais do que o esperado minou a produção de famílias que dependem da agriculta para gerar renda. “As chuvas que estão ocorrendo são espaçadas e concentradas em determinadas regiões. A questão é que a maior parte desta água não fica retida para ser posteriormente utilizada”, afirmou Poliana Valgas, presidenta do CBH Rio das Velhas.

Na semana passada, foi apresentada na comunidade de Perobas, em Jequitibá, proposta de aplicação das metodologias Zoneamento Ambiental e Produtivo (ZAP) e Indicadores de Sustentabilidade em Agro ecossistemas (ISA) da região. O objetivo é detalhar as informações sobre as áreas a fim de proporcionar melhoria da atividade econômica de forma sustentável nas propriedades, a sua preservação e, principalmente, o aumento da quantidade e qualidade da água nos córregos locais.

A área de atuação do estudo abrange aproximadamente 24 mil hectares das sub-bacias Riacho Riachão e Córrego das Abelhas, formadas pelos córregos Vargem Formosa, da Estiva, das Perobas, da Lapa, Riachão, dos Moreiras, das Abelhas e Riacho do Barro.  A região pertence a Unidade Territorial Estratégica (UTE) Peixe Bravo, no Médio Baixo Rio das Velhas. A presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, considera que a iniciativa é de extrema importância para a economia da região e para o meio ambiente de maneira geral. 

“É uma região de produção agrícola, onde há muitos agricultores familiares e a demanda hídrica é muito grande. Preocupados com a situação de escassez de água, em 2017 essa proposta de estudo foi levada ao Comitê da bacia e agora vai sair do papel. Vamos identificar problemas e potencialidades para pensar em um plano de recuperação dessas áreas. É o primeiro passo de uma longa caminhada, de cinco a 10 anos, para que no futuro tenhamos nessas microbacias água em quantidade e qualidade para a produção agrícola destas famílias e das novas que virão”, afirmou Poliana.

Muitas famílias dependem da produção para gerar renda, visto que a maioria fornece uma variedade de hortifrúti para o Ceasa, em Contagem. “Hoje, na região de Perobas, existe uma cooperativa de produtores que agrega vários pequenos agricultores da região de Santana de Pirapama e Jequitibá. As pessoas dependem dessa água para produzir e o município das atividades funcionando de forma cíclica, já que são elas que geram grande parte da receita destas cidades”, completou a presidenta do CBH Rio das Velhas.

A maioria dos produtores fornece uma variedade de hortifrúti para o Ceasa, em Contagem. As comunidades cultivam atualmente, em grande escala, quiabo, abóbora, milho, jabuticaba, tomate, dentre outros. Geraldo Magela, produtor rural em Perobas, espera aprender mais sobre a região onde está inserido e como melhorar a disponibilidade hídrica. “Sem água, a situação é crítica. Hoje produzo quiabo, abóbora, tomate e horticultura em geral. A nascente é uma só para atender uma rede de produtores dependem dos córregos. É muita bomba extraindo água dos cursos e é nítido que os mesmos estão secando. Nós fornecemos para o Ceasa, dependemos da água para produzir. Porque sem produção não temos renda”, contou.

O prefeito de Jequitibá, Luiz Carlos Pinheiro (Luiz da Ambulância), participou da apresentação da proposta de estudo. Para ele, a falta de água é um problema real. “Sem barraginhas ou preservação das nascentes, a situação da escassez hídrica tende a piorar. Hoje tenho um desafio muito grande, que é levar água a 21 comunidades rurais que integram Jequitibá. Infelizmente, todas elas estão sofrendo com a falta d’água. Este trabalho é uma esperança e a Prefeitura de Jequitibá está à disposição do CBH Rio das Velhas e dos executores do projeto”, garantiu.

Segundo o prefeito, em todas as comunidades não é cobrada a utilização da água. “Infelizmente, alguns produtores ficam prejudicados quando, infelizmente, há abuso e má utilização dos recursos hídricos por outros, desperdício mesmo. Estou pensando em instalar hidrômetros nas propriedades, porque a situação está ficando insustentável. Fui criado nadando nos córregos de Jequitibá, mergulhando e pescando, era possível fazer isso. Hoje você atravessa todo um córrego a pé”, lamentou o prefeito.

Serão visitadas e cadastradas 100 propriedades por pessoal devidamente identificado. O Zoneamento Ambiental e Produtivo (ZAP) é o estudo que irá avaliar as características de relevo e paisagens da região, uso e ocupação do solo, e a necessidade e disponibilidade de água na área.  Tem como um dos resultados mapas indicando as melhores áreas para produção, conservação e recuperação.

Já o Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossistemas (ISA) é um estudo que será aplicado em algumas propriedades rurais. Mais detalhado, permitirá avaliar as atividades produtivas desenvolvidas na propriedade e as possibilidades de adequações para ganhos na produção e melhoria das condições ambientais.

PRODUÇÃO DE ÁGUA
Mas quem planta colhe. E, nesse caso, a colheita é de água e o que ela proporciona. Em pleno auge do período de estiagem, o Projeto de Melhorias Ambientais em Microbacias na UTE Peixe Bravo, promovido pelo CBH Rio das Velhas ainda em 2018, tem trazido resultados importantes na preservação de localidades onde a recuperação ambiental já é realidade. 

Foi em Santana de Pirapama, nas terras de Alcides Goulart (75 anos) e da esposa Maria as Graças Goulart, a Dona Naná (71 anos), que foi possível visualizar água retida em meio a uma sequidão agravada pela estiagem prolongada. “Se não fossem as duas barraginhas que foram feitas no meu terreno, o poço já era. Sempre minou água por aqui, mas com a escassez de chuvas o curso de água quase morreu”, afirmou Alcides, que mora com a esposa na comunidade de Capão Furado.

Visando contribuir para uma maior disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos no território, foram construídas mais de 700 bacias de captação de águas pluviais (mais conhecidas como barraginhas), promovido o cercamento de áreas de proteção, plantio de 24 mil mudas nativas, instalação de bigodes isolados, construção de terraços em gradiente, além da mobilização social da comunidade local.

Sobre esse último aspecto, Alcides Goulart conta que foi grande seu empenho na mobilização de vizinhos para a cessão de terras para construção das barraginhas e execução das demais benfeitorias. “Todos abraçaram a ideia e só na minha vizinhança, na região dos Moreira, foram cerca de 30 produtores rurais empenhados. Centenas de barraginhas foram abertas, o que evitou que a água da chuva descesse direto para o rio sem qualquer retenção”, completou Alcides.

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