Ainda falando do Oscar - Algumas escolhas são impossíveis de entender

06/04/22 - 14:29

*Por Wellberty Hollyvier D´Becker

Que o Oscar é controverso todo mundo já sabe, mas, como crítico, não posso me calar e fingir que foi tudo bem. É inadmissível a vitória de O Som do Coração como melhor filme. Eu, antes de escrever estas linhas, revi todos os 10 filmes indicados na categoria melhor filme, e TODOS os outros nove filmes são superiores ao vencedor. Eu não sei o que se passou na cabeça dos votantes, queriam premiar os “coitadinhos” surdos, dar uma voz a quem não pode falar, mas nem isso justifica a estatueta ganha pelo filme. É claro que é sempre bom ver uma minoria com certa representatividade, mas o filme é fraco. 


Vou falar um pouco sobre o filme para vocês entenderem: um casal de surdo mudos tem dois filhos, o mais velho também surdo mudo, a mais nova é a única da família que ouve e fala normalmente. A família tem um barco e vive da pesca, a mais nova é que resolve os problemas burocráticos da família, como o preço dos peixes para quem vai vender e as negociações com o sindicato. Lógico que ela sobre bullying na escola sobre a família e sobre o fedor dos peixes, mas a moça tem uma bela voz e resolve entrar para uma peça da escola. E, claro, o rapaz mais popular da escola também é cantor e se apaixona pela moça. Não podemos deixar de falar que a voz da moça é maravilhosa a ponto do professor de música se encantar com ela e inscrever a moça na mais renomada faculdade de música da América.


Pronto, o conflito do filme é só esse, os pais não aceitam perder a voz da moça, o irmão se revolta com a situação por ciúme, o namorado claro, entende, e o professor fazendo pressão na moçoila. Gente, não passa disso, um roteiro fraco, meloso, com diálogos dignos High School Music de tão vexatório. É um filme que não empolga em momento nenhum, não há personagens cativantes o suficiente para gerar nossa torcida ou simpatia.


Eu me senti envergonhado pela academia, a campanha da Prime Vídeo deve ter sido fabulosa, os votantes devem ter sido convidados para jantares nababescos, recebido champagne em casa da melhor safra, presentes caríssimos, e devem ter assistido a várias vezes o filme. Este tipo de conduta é comum em Hollywood, porém uns fazem melhor que outros. 


O filme Ataque dos Cães, grande favorito da noite, indicado a 12 estatuetas, só levou uma, de melhor direção para Jane Campion. O fato do filme não ganhar na principal categoria da noite é fácil de explicar, o filme perdeu muita gordura, foi lançado no início de 2021, e é difícil manter a condição de favorito durante tanto tempo. O filme perdeu por um erro de cálculo da Netflix, ou talvez a própria empresa no começo não acreditasse no potencial do filme. 


Mas tirando Ataque dos Cães e O Som do Coração tínhamos outros oito filmes aptos a saírem vencedores na noite, e repito TODOS ELES melhores. A academia tem sofrido muito com minorias nos últimos anos, negros, asiáticos, latinos, mulheres... é pressão para todos os lados, então neste Oscar deram o prêmio de melhor ator para um negro, o de ator coadjuvante para um surdo mudo, o de melhor atriz coadjuvante para uma latina, e a melhor direção para uma mulher. Tava bom, para que estender a representatividade à categoria de melhor filme. O politicamente correto está matando Hollywood, todos que se acham descriminados se sentem no direito de exigir seu espaço, e estão certos, claro, mas tudo com parcimônia. Se for para levar ao pé da letra, a academia vai ter que arranjar prêmios para o gordo, para o careca, para o anão, para o albino, e por aí vai.


Calma, o caminho não é esse, tem que haver igualde sim, mas tudo com respeito, e a academia ao premiar o Som do Coração desrespeitou todos os envolvidos nos outros filmes. Quis lacrar e deu um tiro no próprio pé. Vou ressaltar aqui uma cena do filme que é belíssima: na audição para entrar na faculdade de música a moça canta, e de repente a família chega para “ouvir”, mas como não podem, ela canta fazendo a linguagem de libras, é a única cena a se destacar no filme.

E esse foi meu desabafo.


 

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