Coluna Espírita

Culto externo

02/05/21 - 08:36

Por Aloísio Vander

Aloísio Vander

A maioria dos adeptos do Espiritismo são oriundos de outras correntes religiosas e não são poucos os que têm dificuldades para entender e aceitar que a Doutrina Espírita dispensa completamente qualquer tipo de liturgia.

Dirigentes espíritas são convidados a realizar os mais diversos “cultos”: de núpcias, aniversário de casamento, batismo e até funerário, tudo em nome da Doutrina Espírita. Eu mesmo já recebi alguns convites. Declinei-me de todos eles educadamente, porém, não sem esclarecer ao solicitante os postulados doutrinários.

Na obra “Nos Bastidores Da Obsessão” (do Espírito Manoel Philomeno de Miranda), capítulo 16, “Compromissos Redentores”, um jovem, neófito na Doutrina Espírita, prestes a casar-se, pergunta ao experiente dirigente José Petitinga, “qual a solenidade religiosa que deveria haver por ocasião do seu consórcio”, uma vez que ele não pertencia mais ao Catolicismo. E ainda acrescenta: “Não seria justo que houvesse no Espiritismo uma cerimônia qualquer, lavrada nas lições evangélicas, para comemorar os grandes acontecimentos da vida?”

Petitinga, “prudente e lúcido, sorriu e esclareceu”: “Foi por adotar as práticas do Paganismo em crepúsculo que o Cristianismo nascente sofreu as adulterações que redundaram na sua paulatina extinção. (...) O Espiritismo é a Doutrina de Jesus, em Espírito e verdade, sem fórmulas nem ritos, sem aparências nem representantes, sem ministros. É a religião do amor e da verdade, na qual cada um é responsável pelos próprios atos, respondendo por eles, conforme o conhecimento que tenha da Imortalidade, dos deveres. (...) Não, não há qualquer culto externo no Espiritismo e se houvera teríamos a sua morte anunciada já para breve.”

Não plenamente satisfeito, o moço insistiu: “E não poderíamos formular uma oração de ação de graças em momentos que tais?”

Petitinga, com a paciência de quem sabe ensinar, elucidou: “Sim, orar, podemos fazê-lo, porém, na intimidade dos corações, no silêncio do quarto. Uma oração pública requer sempre alguém mais bem adestrado (...). Assim, iremos transferindo para outrem o que nos cabe fazer. (...) E como orar é banhar-se de luz (...), devemos fazê-lo, nós mesmos, cada um, em particular. (...) Evitemos hoje que a nossa emoção e a nossa festividade sejam transformadas amanhã num culto exterior (...). O Espiritismo é a religião que religa (...) a criatura ao Criador, interiormente... Que tenhamos mais atitudes do que palavras!...”

 Mais claro e lógico que isso...

Aloísio Vander