Crônicas

Memória /Saudade

08/11/21 - 15:41

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Sou encantada com as palavras, elas enfeitam os meus dias. Algumas trazem uma certa leveza, outras significados nem sempre agradáveis,  mas necessários. 

Quero realçar em especial duas lindas palavrinhas: Memória e Saudade. Uma não existe sem a outra, são irmãs de alma. Quando a Memória vem visitar, pode estar certo a Saudade chega em seguida.


Gosto de recordar momentos, sem um saudosismo doentio, aquele que vira lamento. Recordar é fazer valer a pena, ver novamente cenas marcantes.  Através de um cheiro de uma comida gostosa ou quem sabe de uma recordação que chega de repente, quando escutamos uma música que compõe a trilha sonora de um momento especial. Pode vir com um cheiro de um perfume que alguém usou e marcou para sempre.

Tem dias que a Memória fica tanto comigo, as recordações se espalham por todos os cantos, o coração fica apertadinho, mas com gosto, cheiro e toque de Saudade. Quantas recordações guardo em meus arquivos divididos por grau de importância. No arquivo da infância tenho um excesso de material, bem mais que os arquivos da adolescência e da maturidade. Penso que a criança que existe em mim  não cresceu.

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Quando sinto um cheiro de canela, chego a salivar, relembro dos mingaus de fubá que minha mãe fazia, principalmente quando estávamos gripados, com canela, pedacinhos de queijo e muito amor.

Músicas religiosas trazem a presença da minha avó materna, mulher de grande fé , seguidora de Nossa Senhora. Escuto o balbucio dela rezando o terço, palavras fortes , pronunciadas tarde da noite , agradecendo mais um dia. São lembranças temperadas com Saudade, essa época do ano abrem muitos arquivos escondidos no meu coração. Natal em família, primos, tios, avó, avô, férias na roça, depois na praia de Lagoa da Prata, com os parentes paternos. A lagoa para mim era um mar imenso, nada de Disney, viagens aéreas, era carro apertado, meu pai com quatro filhos ainda chamava mais alguém, carro modelo coração de mãe.

Tudo era esperado, idealizado, o pouco era muito, vivíamos de alegrias pequenas, simples. Ai Memória com M maiúsculo, aperta o peito, coloca para fora toda Saudade com S maiúsculo, estouram os arquivos, tanto amor envolvido!

Não falávamos a frase típica das crianças de agora: “ Não tem nada para fazer!”. Tínhamos um mundo a desbravar, éramos meninos caipiras, aventureiros, de joelhos ralados, piolhos, histórias para contar.

Qualquer hora vou fazer uma live, tão em moda, reunindo essa geração caipira, então contaremos nossas peripécias, nossos sonhos de apostar com o osso do frango para ver quem tinha sorte.

Termino meu texto com a doçura da Saudade e a gratidão a todos que fazem parte dos arquivos da minha Memória.

Élida Gontijo - Novembro 2021.

Élida Gontijo

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