A bicharada convocou uma reunião esta semana, quem ficou encarregada de escrever os convites foi Dona Coruja, já que é muito sábia. A ideia partiu do Macaco, pois seus parentes comunicaram que a floresta que moravam estava pegando fogo, tiveram como fugir e encontraram um cantinho bem longe para se abrigarem. Em pleno início da primavera saber que no Pantanal, Amazônia, Cerrado o fogo alastra tirando a vida dos animais, das plantas, é de chorar muito –pensou o Ipê Amarelo escutando a conversa dos bichos. A notícia espalhou, todos receberam o convite para reunião no domingo de manhã ,debaixo do Sr Jacarandá, árvore mais velha, digna de respeito e tradição.
No dia combinado nem todos os bichos compareceram, assim como no mundo dos humanos no dos animais têm bichos acomodados, que não lutam por ninguém , estilo a música do Zeca Pagodinho” deixa a vida me levar, vida leva eu..”’ , mas levar para destruição? Para as labaredas?
A primeira a falar foi Dona Onça, perdeu todos os seus parentes que moravam no Pantanal, entre cada palavra uma lágrima molhava suas lindas pintas. O Elefante tentava consolar, mas chorava também. Cada um deles falava, chorava e tentava buscar uma solução, mas percebiam que não era algo fácil de solucionar, pois dependia de uma série de fatores. Mas infelizmente a conclusão era uma só, o causador de tudo era o homem ganancioso que esqueceu completamente que precisava da floresta, dos bichos, do ar, da vida. O Ipê Amarelo escutava tudo ali ao lado do Sr Jacarandá, de repente não conseguiu segurar e deu a ideia de convocarem Sr Vento e Dona Chuva para deslocarem para estas florestas e tentarem ajudar. O Coelho falou que eles não estavam atendendo nenhum pedido, queriam que os homens recebessem um castigo, mas nesta hora o Beija-Flor deixou a delivcadeza de lado e falou nervoso:
_ Mas os animais que não têm culpa vão ser sacrificados? Vamos todos na casa do Sr Vento e Dona Chuva, vamos gritar: SOS Pantanal! SOS Cerrado! SOS Amazônia!
O cachorro melhor amigo do homem resolveu fazer a defesa, explicou que não podiam generalizar, existem homens bons que lutam em defesa da flora e fauna e que estes coitados têm sido mortos, entre eles os índios que amam a terra em que vivem. Além das queimadas lutam com um vírus cruel, o tal Coronavírus. A Seriema morreu de rir , amou o tal vírus, mais uma vez o Cachorro fez a defesa: onde está com a cabeça minha amiga, se deseja o mal ele volta para você. E conversa vai, conversa vem resolveram procurar o Sr Vento e Dona Chuva, a princípio nem receber os animais eles queriam, mas como os bichos gritavam demais, faziam mais barulho que vendaval e trovões em uma grande tempestade, o jeito foi atendê-los. Com muita conversa e negociação partiram para as florestas que pediam socorro. Sr Vento prometeu ter cuidado para não espalhar as labaredas e sim junto com Dona Chuva tentar acabar com o tenebroso Fogo. Os animais agradeceram, bateram palmas cada um se pronunciou na sua língua. De longe Ipê Amarelo sorria e espalhava flores, formando um tapete florido para os animais passarem. Sr Jacarandá ficava calado, não acreditava muito, já tinha decepcionado demais com a atitude dos homens, muitos dos seus haviam se transformado em móveis.
De repente um vento forte foi tentando apagar aquelas labaredas sem muito sucesso, resolveu tirar os animais dali empurrando para longe. Nuvens grossas choravam ao ver tantos bichos queimados, árvores destruídas , molhavam, molhavam chamas ardentes. Um cheiro de terra queimada, galhos misturados com fumaça , espalhava o triste cheiro para longa distância. De longe escutava-se um barulho, algo que tentava acordar alguém, quem seria? Ou melhor o que seria? Nada mais, nada menos que uma sonhadora cronista que acordou chorando, pois percebeu que tudo não passou de um sonho. Então achou melhor passar isto para o papel, quem sabe muitas pessoas lendo seu texto se convenceriam que é preciso defender nossa fauna e flora. Segue a vida, segue o sonho, a esperança...
por Élida Gontijo - Setembro 2020.
