Sempre tive a ideia que as coisas poderiam ser no meu tempo, tudo na hora que achasse melhor. Mero engano, na correria nunca parei para pensar esse detalhe, mas fui amadurecendo com o passar dos anos e de repente a pandemia chegou e gritou: _ Pare agora! Parei mesmo, tenho falado sempre sobre o aprendizado nestes sete meses, nenhuma universidade consegue ensinar tanto conteúdo num tempo tão pequeno se formos analisar com cautela. Claro considerando quem quer aprender, para falar a verdade tenho notado que alguns desaprenderam neste período. Tenho atravessado muitos questionamentos , analisado demais, mas na verdade como todo cronista fiz uma volta para chegar onde queria. Quero contar sobre um dos cursos sobre o tempo, fiz recente, não precisei me inscrever no Youtube, Instagram, sites, bastou desviar o olhar , mudar o foco.
Há mais ou menos dois anos, comprei um casal de periquitos australianos para minha filha mais nova, ela tinha já um periquito de uma raça diferente, presente de uma prima, um casal , mas infelizmente a fêmea fugiu, ganhou outra e o mesmo aconteceu, não sei se o macho queria viver sozinho e insistimos numa convivência ou se a gaiola era fraca e possibilitava a fuga , mas ficou triste e resolvi presenteá-la. O vendedor me garantiu que rapidinho teríamos mais periquitos e que poderia levar a produção para negociarmos, não preocupei com a negociação queria mesmo que reproduzissem, afinal nada mais alegre que bebês em casa. Cheguei em casa com o presente e foi muito bom, apesar que o casal de periquitos teriam como vizinho de gaiola o razinza Quito, grita muito, bate a vasilha de água quando está vazia, participa das minhas aulas online , já quebrou a perna de fazer estripulias na gaiola , forte candidato para o Circo de Soleil.
O casal de periquitos foi batizado com os nomes : Zeca e Ritinha .Nomes dos personagens da novela da época e que agora está passando novamente, na pressa de comandar a vida deles sempre olhava se Ritinha já havia botado, mas nada de ovos. Chamei todos especialistas em periquitos para analisarem o casal, pensava que poderia ser dois machos ou duas fêmeas , quem sabe o vendedor tinha me passado pra trás, mas bobagem seria bom para ele aumentar a espécie , traria lucro. Todos especialistas me garantiram que era um casal, houve alguém que me disse que poderia ser a gaiola,quem sabe em um viveiro , mais espaço poderiam reproduzir. Eles por sua vez ignoravam toda essa movimentação típica dos humanos que sempre estão cobrando alguma coisa como: namoro, casamento, filhos etc. Namoravam tranquilos, às vezes brigavam com a torcida do vizinho ranzinza, gritando ao lado.
Zeca e Ritinha seguiram a vida no ritmo deles, há uns vinte dias achei Ritinha mais quietinha, entrando na caixinha comprada para ser ninho, mas não dei muita atenção isso já havia acontecido milhares de vezes, mas quando à tardinha fui guardar a gaiola no quartinho dos fundos, fui surpreendida , por uma fresta da caixa vi um ovinho lindo, emocionei e chamei minhas filhas, logo vieram mais três ovos. Aí os cuidados com a grávida dobraram, alimentação especial etc .Fiquei encantada com o carinho do Zeca levando comida e colocando no bico dela para não ter que sair do ninho, quanto amor, delicadeza, pureza. Muitos acharão a coisa mais comum, mas para mim teve uma beleza magnífica, senti ali a presença de Deus, no mês de São Francisco a minha casa ganhou mais vida, mais um curso para meu currículo da vida.
Hoje cedinho minha filha mais velha escutou piadinhos no ninho, temos bebês nascendo, deixei quieto, aprendi que o tempo é deles, na hora certa conhecerei os filhotes. Se quiserem enriquecer o olhar adquiram um animal, quem sabe um casal de periquitos, posso garantir que a vida de vocês terá outro brilho. Depois conto mais sobre o casal Zeca , Ritinha e seus filhos, fica para outra crônica.
Élida Gontijo - Outubro 2020
