Crônicas

Élida Gontijo - Meu amigo girassol

19/06/20 - 18:15

Por Élida Gontijo

A pandemia trouxe muitos ensinamentos para minha vida. Já citei muitos em meus textos, mas um deles que ainda não falei é a questão do ter tempo para as coisas que gosto. Entre elas plantar, cuidar dos vasos, gosto muito de plantas, acho mágico o desabrochar de uma flor. Amo flores, ver a casa florida enche meu coração de alegria.

 

Um dia nem recordo qual, pois agora os dias se parecem, só identifico melhor olhando os horários das minhas aulas online .Nesse tal dia recordo que estava tratando dos meus amados periquitos, na verdade são da minha filha e acabei por adotá-los. De repente achei umas sementes de girassol misturadas no alpiste. Fiquei pensando se plantasse brotaria, não pensei duas vezes e parti para o plantio, fiquei igual criança quando faz a experiência de plantar o feijão. Todo dia conferia se havia brotado e nada, pensei que não iria pra frente. É o pensamento ansioso , achar que tudo é pra ontem, mas a natureza não é assim, anda no ritmo dela, sem pressa. Parei de olhar aquele pequeno vaso coberto com uma ótima terra, bem adubada e um belo dia vejo lindos pontos verdes saindo. Fiquei emocionada , não sabia se ria ou chorava , queria que minhas filhas vissem os brotos, lembrei-me das telas de Van Gogh. Amo o amarelo, vida, coragem, energia.

 

Agora depois de completar 3 meses sem adentrar uma sala de aula, espaço que amo, ambiente do meu trabalho, apesar de tudo estou uma pessoa melhor, mais calma um pouco, tentando aprender todas as lições que este tempo trouxe. o girassol continua desenvolvendo, toda manhã após abrir meus olhos e agradecer a Deus o dom da vida, levanto antes mesmo de fazer o café vou à varanda olhar o vaso do meu querido amigo .Está cheio de botões , um já começa a desabrochar e eu junto com ele tento florir a vida das pessoas que estão longe de mim, mas que amo tanto. Sinto que posso ser semente que germina nos corações sem esperança, em um mundo cheio de conflitos, mortes e de um vírus que ceifa tantas vidas. Através da minha escrita levo um pouco de alento aos corações, me fortaleço quando alguém comenta que identificou com minhas palavras. Assim como o girassol busco os raios do sol para me manter de pé e florindo.

 

 Estou com muitos vasos que completam minhas horas de folga do computador, dos afazeres de casa, sento no chão, encho as unhas de terra, sinto o cheiro dela acariciando meu nariz, carrego água e mato a sede de cada uma. Acho que o girassol ficou meio enciumado, mas já expliquei sua importância no meu desabrochar. Contei pra ele que seria personagem dos meus textos, me pediu que esperasse florir para colocar junto sua foto para comprovar que não era fake news.

 

Fico pensando quando acabarem suas flores, como vou ficar? Meu pai um grande jardineiro das plantas e do amor, me disse que é uma planta frágil, sensível, por isto identifiquei tanto. Falou que tem seu tempo, quando as flores acabam, seca e que é preciso replantar.  Grande lição aprendi com meu pai e o girassol, já estou preparando para quando chegar a hora replantar e seguir um novo ciclo aprendendo a me refazer com os obstáculos.

 

Élida Gontijo- junho de 2020.       

 

Élida Gontijo

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