Cresce número de dependentes químicos com a pandemia da Covid-19

Com o isolamento, o consumo de substâncias lícitas ou ilícitas - e seus exageros - vem se dando na residência do próprio usuário, afetando a ele e, também, a sua família. Leia entrevista com a presidente do Conselho Municipal de Políticas Sobre Drogas de SL, Taysa Silva

05/03/21 - 15:58

Taysa aguarda diagnóstico situacional de Sete Lagoas em 2019 e 2020 para saber quantos são os assistidos
Taysa aguarda diagnóstico situacional de Sete Lagoas em 2019 e 2020 para saber quantos são os assistidos

Celso Martinelli

O uso e aumento da dependência química do álcool e outras drogas durante a pandemia da Covid- 19, sobretudo o crack, preocupa as autoridades locais. Com o isolamento, o consumo de substâncias lícitas ou ilícitas - e seus exageros - vem se dando na residência do próprio usuário, afetando a ele e, também, a sua família. Com as dificuldades impostas pela Covid, as autoridades locais tentam, dentro das limitações, daro apoio necessário ao dependente químico e suas famílias, tratando o assunto com uma demanda de saúde pública e social.

“Diversos estudos têm discutido o efeito do álcool, crack e outras drogas na saúde mental durante a pandemia, por se tratar de substâncias que podem atuar no SNC (Sistema Nervoso Central) de três formas: depressoras estimulantes ou perturbadoras, provocando alterações fisiológicas e comportamentais, pois o consumo pode desencadear episódios de depressão e ansiedade. A dependência virá com o uso regular e a quantidade consumida a longo prazo”, afirmou Taysa M.Silva, presidente do Conselho Municipal de Políticas Sobre Drogas (Comad).

Pós-graduada em Saúde Pública, Perita Judicial e Grafotécnica, com certificação em Auriculoterapia, Florais de Bach e Necropsia Forense, Taysa M. Silva está à frente do Comad de Sete Lagoas desde 2019. Para ela, mesmo com todos os desafios, o balanço das ações executadas do Comad é positivo. Confira a entrevista:


Qual balanço das ações do Conselho Municipal sobre Droga (COMAD) desde que  tomou posse como presidente?
A Gestão 2019/2021 tomou posse no dia 19 de dezembro e quando começamos a nos organizar, deparamos com a pandemia da Covid-19 e os desafios oriundos dela, impossibilitando as reuniões presenciais. Mesmo com todos os desafios, o balanço das ações executadas é positivo, pois em maio de 2020 a secretaria municipal de Saúde atendeu a solicitação do COMAD e disponibilizou os testes rápidos para a Covid COVID-19 em uma de suas Unidades de Saúde para possibilitar o acolhimento dos usuários nas comunidades terapêuticas. Nesse momento os nossos esforços estão em buscar a readequação do COMAD através da alteração na Lei de Criação do Conselho (Lei n º 8214 de 19 de novembro de 2012) realizando articulações com o Legislativo.

Quantas são as pessoas/famílias assistidas em Sete Lagoas e que tipo de assistência é prestada?
O Conselho não tem função de assistencialismo, pois trata-se de é um órgão de articulação e fiscalização. Ele é um órgão deliberativo e, no caso do COMAD, sua função consiste na formulação, acompanhamento, gestão e articulação da Política Municipal sobre Drogas, em sintonia com as políticas Estadual e Nacional. O município de Sete Lagoas conta com o CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e com a UAA (Unidade de Acolhimento Adulto) para tratamento, acompanhamento e acolhimento de dependentes. Os atendimentos realizados são: no Hospital Municipal, em leitos de desintoxicação, pelos grupos do A.A. (Alcoólicos Anônimos) e N.A. (Narcóticos Anônimos), grupos de auto e mútua ajuda, amor exigente e comunidades terapêuticas. Solicitamos de alguns órgãos o diagnóstico situacional de Sete Lagoas dos anos 2019 e 2020 justamente para termos os números de assistidos, mas ainda não obtivemos as respostas. Justamente a secretaria de Saúde não nos respondeu. Desde dezembro estamos mandando ofício para lá e nada ainda.

Quais as drogas mais afetam e preocupam o conselho atualmente, na realidade local? Por quê? 
A pior droga é aquela que a pessoa está usando de maneira abusiva no momento, pois é essa que a está prejudicando. Todos os tipos de drogas preocupam e requerem atenção, já que o COMAD deve orientar a política local na educação e prevenção ao uso de álcool, crack e outras drogas que possam causar dependência física e/ou psíquica.

Na pandemia, o número de usuários e dependência aumentou?
Sim, aumentou. O enfretamento à pandemia da COVID-19 requereu medidas de isolamento social, diferentes estratégias foram adotadas e o domicílio passou a ser o local escolhido devido as restrições de funcionamento dos bares, casas noturnas, restaurantes e espaços públicos. No início da pandemia, uma série de notícias falsas circularam nas redes sociais de que consumir álcool traria algum tipo de proteção contra a COVID-19, notícia que foi desmentida pela OMS (Organização Mundial de Saúde) advertindo o contrário: o álcool pode prejudicar a resposta imunológica. Diversos estudos têm discutido o efeito do álcool, crack e outras drogas na saúde mental durante a pandemia, por se tratar de substâncias que podem atuar no SNC (Sistema Nervoso Central) de três formas: depressoras estimulantes ou perturbadoras, provocando alterações fisiológicas e comportamentais, pois o consumo pode desencadear episódios de depressão e ansiedade. A dependência virá com o uso regular e a quantidade consumida a longo prazo.

O alcoolismo também é uma problemática que é abraçada pelo Comad?
Sim, o álcool é a substância permitida, promovida e socialmente aceita, pois é aceita e consumida em proporção maior em todo mundo. Trata-se de uma substância depressora do SNC (Sistema Nervoso Central) e estudos revelam que o consumo excessivo de bebida alcoólica está vinculado a mais de 230 doenças e agravos. O álcool em uso excessivo causa dependência química e tem o seu enfrentamento dirigido dentro da política sobre drogas.

Quem quer ajuda, onde procurar? Quais são as referências, seja para o dependente ou família?
O COMAD buscou compilar todos os grupos de apoio e comunidades terapêuticas que atuam no apoio/acolhimento dos dependentes e seus familiares através do contato com a Central dos Conselhos (Rua João Pessoa,234- Canaã ou pelo telefone 3771-9099) e em breve através de informativos e redes sociais do COMAD. 

A estrutura hoje do COMAD é suficiente para o tamanho da demanda local? O que precisam para qualificar e potencializar o trabalho?
Como conselho sim, o COMAD atende a requisitos de formação e designação, sendo uma formação paritária com representantes de órgãos públicos, sociedade civil e usuários. Para qualificar e potencializar o trabalho seria importante a reorganização e reativação da SUMAD (Superintendência Municipal Sobre Drogas) que é o órgão executor da política sobre drogas no município. Neste ano é fundamental que o COMAD, a Frente Parlamentar de Políticas Sobre Drogas da Câmara de Vereadores, o Executivo, a Defensoria Pública e Ministério Público se alinhem objetivando esta retomada e a construção de uma rede integralizada de apoio ao dependente químico e suas famílias com uma demanda de saúde pública e social.

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