Como aprender e não esquecer?

É possível assimilar novas informações de forma permanente

19/04/22 - 15:33

Foto: ilustração
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Acontece com quase todo mundo: a escola é o nosso primeiro contato com algum grau de frustração. É nela que percebemos, pela primeira vez, que precisamos aprender para não esquecer. O que deveria ser regra nem sempre é tão simples, uma vez que o nosso cérebro é único e reage de diferentes maneiras aos estímulos que recebemos.

De acordo com a neurocientista Livia Ciacci, podemos resumir a aprendizagem como a capacidade de adquirir e armazenar dados para pensar e agir. Essa capacidade está intimamente ligada a outra habilidade cognitiva essencial, que é a memória.

A todo momento temos contato com o mundo e recebemos milhares de estímulos e informações pelos canais sensoriais, como durante a leitura, por exemplo, onde por meio da visão é possível codificar frases e interpretar o sentido. 

Essa é a primeira fase do processo: a aquisição da informação. “Após o primeiro contato, esse conteúdo fica na memória de curto prazo e pode ser recuperado de horas a alguns dias. Para um conteúdo sair da memória de curto prazo e se tornar memória de longo prazo, é necessário acontecer um processo neurofisiológico conhecido como consolidação”, afirma a neurocientista. 


Como fazer para que o cérebro aprenda e não esqueça mais 

A primeira coisa que temos que entender neste processo é que o cérebro só consolida as informações que considera mais relevantes, e existem duas maneiras de “mostrar” para ele que aquilo que queremos aprender é relevante: 

1.    Repetição - Ou seja, voltando ao conteúdo várias vezes, pensando sobre ele e procurando fazer conexões com outros conhecimentos já consolidados; 

2.    Impacto emocional e/ou sensorial - Pois nós sempre vamos registrar com mais facilidade aquilo que gera apelos emocionais ou que ativam intensamente nossos sentidos; 

“Imagine que você estuda dois assuntos, um que não se interessa tanto e outro que gosta bastante. Será muito mais fácil consolidar as memórias do assunto que se gosta, por causa do emocional estar mais envolvido, potencializando a atenção. Mas não é impossível aprender mesmo sem ter muito interesse, aí nesse caso a repetição é uma boa estratégia”, destacou Livia Ciacci.

Os segredos para aprender um conteúdo para sempre são: se envolver com o assunto, procurando ter interesse suficiente para pensar profundamente sobre ele, focar bastante a atenção e repetir sempre!

E depois que aprendeu, como não esquecer mais? 

E por que algumas coisas ficam em nossa memória para sempre? Para entender isso, novamente precisamos falar sobre memória. 

No cérebro, a memória declarativa (aquela que expressamos por meio da linguagem) de longo prazo é ilimitada, ou seja, tudo que passar pela consolidação ficará disponível para evocação ao longo de anos. 

Por outro lado, se o aprendizado aconteceu em um momento e a pessoa passa muito tempo sem utilizar aquilo ou sem pensar de novo sobre o assunto, quando ela quiser retomar, o esforço será bem grande e talvez não consiga lembrar de tudo. 

Imagine que você guardou um caderno, mas quando foi buscar, já tinha uma pilha de outros cadernos e livros por cima, o esforço será grande para achá-lo lá no fundo.

“Isso acontece porque o cérebro tem mecanismos de ‘limpeza’, apagando memórias que ele percebe que já não são acessadas ou usadas. Então nós temos, sim, a capacidade de memorizar algo para sempre, mas é necessário retomar essas informações vez ou outra para reforçá-las!”, pontuou a neurocientista. 

Aprender para não esquecer: quem aprende mais fácil? 

Somos capazes de aprender em todas as idades, mas, de fato, as crianças conseguem aprender mais rápido que adultos e idosos, pelo fato de terem a neuroplasticidade trabalhando intensamente, afinal, é um cérebro que está aprendendo a lidar com o ambiente para conseguir sobreviver. 

“Nos adultos, o cérebro já está organizado e já faz um gerenciamento da plasticidade, como se direcionasse mais ‘recursos’ para aquelas áreas que são mais exigidas. Por exemplo, um guitarrista usa muito a percepção auditiva e a motricidade das mãos, então ele tem essas áreas no cérebro mais desenvolvidas e com mais facilidade para aprender uma música nova ou um movimento novo”, destacou Livia Ciacci.

É importante entender que as preferências, profissões e estilo de vida influenciam muito no tipo de aprendizado de longo prazo que a pessoa terá mais facilidade na vida adulta e idosa. “Os idosos também têm capacidade de aprender, mas provavelmente com uma menor velocidade de processamento das informações, que é algo natural do envelhecimento ou também devido à problemas nos órgãos dos sentidos, como a visão ou audição. Nessa fase da vida é importante não parar”, concluiu a especialista. 
 

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