Nossa História - Quem bebe dessa água...

29/03/22 - 11:06

Amauri Artimos da Matta

Ao assumir como agente executivo, em 1892, o Dr. Avellar obteve do ministro do Interior do Governo Provisório a dotação DE 20:000$000 (20 contos de réis) e promoveu o primeiro abastecimento de água potável da cidade. Era modesto, mas ajudava os que não podiam furar cisternas e os que podiam pagar penas de água para receber em suas casas, pelas torneiras. A população de Sete Lagoas era de, aproximadamente, quatro mil pessoas; e para ela foi canalizada, inicialmente, a água potável gratuita por cinco chafarizes e duas cisternas públicas, colocadas nas ruas e nas praças principais; e havia dez penas de água para as pessoas que podiam pagar uma contribuição” (LÚCIA VICTORIA DE AVELLAR, Dr. Avellar na Sete Lagoas antiga, pág. 171. Belo Horizonte: Editora Mosaico, 2019. 244 páginas). 

O Prefeito naquela época era chamado agente executivo. Só os ricos podiam contratar o fornecimento de água junto à municipalidade. Em 1898, pagavam-se, pelo arrendamento de uma pena d’água, cento e dois mil réis, a título de joia, no ato da contratação, e trinta mil réis anuais, em janeiro. Ao pagar a “joia”, o consumidor, ao que parece, era tido como “sócio” do empreendimento. O usuário arcava, ainda, com o custo do serviço de encanamento e só tinha direito à indenização se faltasse água por mais de dez dias. A solução, para a maioria da população, era furar a própria cisterna ou buscar água nos chafarizes e cisternas públicas. Conta JOVELINO LANZA que “em Sete Lagoas foram instalados seis (6) chafarizes, sendo: no início da rua Sebastião Mascarenhas; na frente da Matriz de Santo Antônio; na rua Direita; nas imediações da Estação da Estrada de Ferro Central do Brasil; na Avenida Antônio Olinto e, finalmente, um na hoje rua Monsenhor Messias, quase em frente à casa de João Geraldo Dias de Avellar” (História de Sete Lagoas, Subsídios, pág. 153. Editado pela Prefeitura de Sete Lagoas, em 1967). Em relação a esse último, o autor relembra ter sido inaugurado às pressas, durante a visita de um Secretário de Estado, quando, o município, sem tempo de construir um suporte apropriado para o chafariz, teve o seu cano “amarrado em uma das achas de aroeira”. Esse fato gerou muitas piadas na cidade, a ponto de Juquinha Campos ter escrito: “Sete Lagoas não é o que se diz, toco de pau virou chafariz”. 

O segundo abastecimento de água ocorreu no mandato do Prefeito Augusto de Moura, que conseguiu captar a água vinda do alto da serra, já adquirida do dono da “Fazenda da Serra” - onde havia a nascente - por seu antecessor, o Dr. João Avellar. Deu-se mais um passo para ampliar a distribuição do produto à população. A obra de canalização foi inaugurada no dia 30-03-1913, e o empreiteiro responsável pela sua execução foi Francisco Xavier Larena, saudoso italiano, que muito fez pela nossa cidade. Foi ainda na gestão do Dr. João Avellar que foram perfurados os primeiros oito poços artesianos na cidade e adquiridos oito moinhos de vento para a captação de água no subsolo e o abastecimento da cidade. É a energia obtida pela força do vento, que acionava as bombas para retirar a água do subsolo, levá-la aos reservatórios e distribuí-la à população. Energia eólica, posteriormente substituída pela elétrica, e que hoje volta a ter importância em nosso país. Daí surgiu o bairro Papa-Vento, cujo nome foi dado em homenagem aos moinhos de vento ali instalados. E a poesia deste grande benfeitor registra mais um capítulo de nossa história: “Este letreiro se bote lá no moinho de vento: - Que me poupe D. Quixote ao seu terror violento! (J. A. Avellar, 10/5/1908). Assim, seguimos com o abastecimento de água da população através de poços artesianos e por captação no Rio das Velhas, iniciada recentemente.

AMAURI ARTIMOS DA MATTA é Promotor de Justiça aposentado, diretor do Grupo Mão Amiga e presidente do Coral Dom Silvério

Veja Mais