Por Élida Gontijo
Crônicas
O tapete voador
Élida Gontijo
Resolvi tecer um tapete, tecer também é um tipo de texto, as linhas substituem as palavras, a cada ponto vão formando os desenhos, cheios de cor. Tinha muitos restos de cordões coloridos e então nada melhor que aproveita- los para um lindo trabalho.Não segui receita, nem gráficos, a minha imaginação foi me guiando. Misturei as cores para dar um colorido, encher de luminosidade a minha casa. Achei melhor tecer um tapete redondo, como uma mandala, ponto a ponto foi se formando, tentei combinar as cores da melhor maneira.
De repente o bichinho da imaginação entrou no meio dos pontos e embarquei na fantasia. Comecei a imaginar se aquele tapete tivesse o poder de voar em qual local me levaria? Acho que iria primeiro no Vale do Jequitinhonha conhecer os artesãos e artesãs que fazem aquelas bonecas lindas. Opa! Já estou chegando! Que lindeza o barro transformando em lindas imagens! Mãos sofridas, lutadoras, misturam e moldam o barro, mais um texto para interpretar.
Tapete voador não esquenta lugar, já começou a levantar voo, próximo destino a Basílica de Aparecida, queria forrar o caminho dos peregrinos que chegavam para pagarem promessas. Que delícia sentir os pés e joelhos que se dobram em louvor a nossa mãe negra: Nossa Senhora Aparecida. Escutamos os romeiros rezando e novamente hora de alçar voo!
Vamos para o nordeste, olha lá embaixo os repentistas! Hora de descer! Fomos parar numa grande feira, muito movimento, graças a Deus todos de máscaras, menos os repentistas logicamente, um desafiando o outro com lindos versos. A dureza do clima faz fertilizar grandes poetas, fico boquiaberta com a criatividade dos versos. Alguns casais dançam no ritmo das violas , começo a movimentar meu corpo quando vejo meu tapete já levantando , vamos embora. De repente um silêncio chama minha atenção: onde estou? Na minha casa, em minha sala, tecendo um tapete, dando o último ponto, está prontinho!
Foi muito bom viajar na imaginação, encheu minha cabeça de sonhos. Achei que ficou bonito, está aí a foto dele, agora enfeita minha sala. Quem sabe qualquer hora desta fazemos mais um passeio? Segue a vida, tece o fio, tece o texto.
Élida Gontijo- setembro 2021.
Élida Gontijo
Élida Gontijo