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Fatos & Fakes: o preço da ignorância

12/03/21 - 08:51

Dr. Silvio de Sá, colunista do SETE DIAS
Dr. Silvio de Sá, colunista do SETE DIAS

Por Silvio de Sá

DR. SILVIO DE SÁ

Certa vez Umberto Eco, famoso escritor italiano, disse o seguinte: “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”. É claro que a afirmação supracitada causou um grande rebuliço pelo mundo. Muitos saíram em defesa das redes sociais e outros apresentaram críticas às mesmas. 

Entretanto, o que pretendemos apresentar aqui não é um discurso contrário ou favorável em relação às redes sociais, mas argumentar sobre a importância que tem cada indivíduo em “filtrar” a informação telemática, pela via das suas faculdades mentais: racionalidade, crítica, argumentação, educação e elucidação. 

Em tempos atuais as pessoas repassam uma informação recebida pelo WhatsApp em questão de segundos. Na grande maioria das vezes o indivíduo não se preocupa em pesquisar, perquirir ou arguir se a informação é verdadeira ou falsa. Se o assunto corresponde aos interesses pessoais do indivíduo já é suficiente para que a informação, ainda que falsa, seja repassada para milhares de pessoas. 

O compartilhamento de Fake News é a face mais deletéria de um povo que carece de educação e racionalidade até mesmo para “filtrar” uma simples informação. Enfim, as Fake News estão umbilicalmente ligadas a ignorância humana, ou seja, quanto menor for a capacidade de raciocinar do indivíduo, mais ele será um fantoche a serviço dos agentes das notícias falsas. 

Contudo, o combate às Fake News não é uma questão que depende simplesmente da distinção entre o verdadeiro do falso. Ora, se um assunto é comprovadamente falso a questão é simples, cabe a pessoa de bom senso não apenas deletar a informação, mas também denunciar sobre a sua falsidade. Entretanto, se a notícia é verdadeira a situação se torna um pouco mais complexa, aqui entra o papel da educação individual versus a ignorância coletiva. 

Dito de outra forma: nem tudo que reluz é ouro, de modo que aquilo que se apresenta como verdade pode não ser verdadeiro, daí a importância de o indivíduo arguir (interrogar) a notícia que recebe. Entretanto, para que isso seja possível é imprescindível que o ser humano seja portador de uma racionalidade. 

O problema é que os indivíduos não são portadores inatos de uma racionalidade, ou seja, eles não nascem com ela. A racionalidade é uma tarefa da humanidade, ou seja, é um processo de elucidação constante e permanente que visa deixar um mundo melhor para as futuras gerações. A educação funciona como uma corrida de revezamento em que os indivíduos, nossos antepassados, procuram deixar uma pouco mais de conhecimento seguro para seus descendentes. É claro que jamais encontraremos a verdade, entretanto só conseguiremos nos aproximar dela pela via do conhecimento, nunca pela ignorância. 

Depreende-se que a finalidade da educação é reduzir o nosso grau de ignorância e deixar um pouco mais de terra firme para nossos descendentes. Não é por acaso que a educação é considerada um direito fundamental essencial para o exercício de outros direitos fundamentais como: saúde, trabalho, vida e liberdade. A propósito, nenhuma nação do planeta conseguiu elevar o bem estar e as potencialidades individuais de seu povo senão pela via da educação.    

A disponibilidade de uma educação de qualidade é o caminho mais eficaz, não apenas contra as fake News, mas também contra qualquer outra forma de dominação já inventada pelo homem. É pelo conhecimento racional que podemos reduzir nosso grau de ignorância sobre um determinado assunto. 

A ignorância gera o caos e o conflito, a educação provoca o diálogo e o consenso onde há dissenso entre os humanos. Ainda que seja estabelecido limites às redes sociais, é sempre o indivíduo que poderá dar um fim e denunciar a fake newS, pelas vias de sua própria racionalidade. 

Portanto, ao repassar uma informação falsa sobre aquilo que se apresenta como verdadeiro, o indivíduo não contribui em nada para o progresso do conhecimento humano, mas, ao contrário, ele gera o caos, provoca o conflito e alimenta intolerância entre seus próprios semelhantes. Por isso, o problema central das fake news não está nas redes sociais em si, mas na capacidade de cada indivíduo em distinguir e denunciar aquilo que é ignorância, daquilo que é conhecimento. 

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Silvio de Sá

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