Eleição disputada terminou com uma reviravolta política

24/11/23 - 14:20

O Sete Dias nasceu no momento em que a política estava em ebulição na cidade. Sete Lagoas possuía grupos tradicionais tendo como líderes o ex-prefeito Afrânio Avelar, o então prefeito Sérgio Emílio e o então deputado estadual Marcelo Cecé. Esses três davam as cartas em todos os níveis definindo composições partidárias, chapas de vereadores, dobradinhas para a Prefeitura e até influenciavam em eleições de instituições privadas como Clube Náutico e Cooperativa dos Produtores Rurais (Coopersete).

 

Depois de sair vitorioso de uma acirrada disputa contra Afrânio Avelar, em 1988, Sérgio Emílio fazia um mandato bem avaliado, mas em entrevista concedida ao Sete Dias (edição de 3 de janeiro de 1992) revelou que não disputaria mais eleição: “Política hoje está muito mudada, por isso vou deixar a vida pública. Você vê notícias de corrupção a todo instante e às vezes e até obrigado a se relacionar com esse tipo de gente para obter benefícios. Não é meu estilo. Me sinto uma ovelha desgarrada desse rebanho e o político tem que saber a hora de parar”, justificou.

 

A saída de uma das principais lideranças políticas do páreo deixou o cenário indefinido dando início a um intenso jogo de articulações. Afrânio Avelar e Marcelo Cecé seriam os postulantes naturais, mas um grupo de partidos liderados por Leone Maciel, Antônio Valace e Rodrigo Paiva escolheu o desconhecido Múcio Reis Júnior, empresário dono da Marialva Construtora, como candidato.

 

O grupo de partidos indicou Leone Maciel como vice na chapa de Múcio Reis. A chapa adversária foi encabeçada pelo empresário Antônio Pontes que teve Marcelo Cecé como  vice. Uma curiosidade é que Cecé confirmou que, em caso de vitória, não assumia o posto de vice e retornaria para suas funções de deputado estadual.

 

A partir das definições, Sete Lagoas uma das eleições mais disputadas de sua história. A militância foi para a rua e as duas chapas demostram grande poder financeiro no pleito.  Faltando pouco mais de uma semana para a eleição, o Sete Dias publicou pesquisa Vox Populi que apontava Múcio Reis com 34% das intenções de voto e Antônio Pontes com 27%. Esta virada ocorreu exatamente na reta final da campanha.

 

A eleição ocorreu no dia 3 de outubro de 1992 e a previsão da pesquisa foi confirmada. Múcio Reis/Leone Maciel conquistaram 33.683 votos contra 27.613 de Antônio Pontes e Cecé, uma diferente 6.070 ou 7,3%.

 

RENOVAÇÃO DE 70%

Não foi só a grande votação de Múcio Reis que surpreendeu. A mudança na Câmara Municipal superou todas as expectativas. Dos 17 vereadores, apenas seis foram reeleitos: Caio Valace, João Batista Santana, Paulo Maciel, João Pena, Fábio Cabral e Raimundo Batata.

Os novos eleitos foram: Eduardo Lanza, Balu, Paulinho Lambe-Lambe, Ronaldo Canabrava, Maurício Campolina, José Roberto de Souza, Elson Barbosa, Carlos Alberto de Souza, Chicão, Luiz Carlos Oliveira e Betinho do Posto.

 

PARTE 2

 

De uma fase conturbada a uma

estabilidade até então incomum

 

Para realizada uma análise do quadro político de Sete Lagoas nos últimos três anos é preciso fazer um recorte entre 2006 e 2019. Isso porque esse foi o período mais conturbado da história política da cidade. Em apenas 14 anos, a cidade teve sete prefeitos (Ronaldo Canabrava, Leone Maciel, Mário Márcio Maroca, Márcio Reinaldo, Leone Maciel, Cláudio Caramelo e Duílio de Castro). Um cenário marcado por processos de cassação, renúncia e governos muito mal avaliados.

 

Antes chegar nesta fase estável, Sete Lagoas viveu uma das situações mais conturbadas quando Leone Maciel renunciou o cargo no dia 7 de março de 2019 alegando a inviabilidade administrativa pela falta de repasses do Governo de Minas que, naquele momento, totaliza R$ 125 milhões de recursos retidos. Automaticamente, o cargo foi assumido pelo vice-prefeito Duílio de Castro que exerceu as funções por apenas 15 dias já que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) cassou seu mandato por meio de um processo movido pelo ex-candidato Emílio de Vasconcelos, 2º colocado na eleição de 2017, sob alegação de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. 

 

O então presidente da Câmara Municipal, Cláudio Caramelo, assumiu a Prefeitura no dia 22 de março. Porém, o TRE marcou eleição suplementar para o dia 2 de junho quando foram candidatos: Emílio de Vasconcelos, Cláudio Caramelo, André Longo, Ramsés de Castro e Mestre Tranquilo. A campanha foi acirrada, mas a cinco dias do pleito um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) provocou uma verdadeira reviravolta no cenário político. Por unanimidade, o colegiado reverteu as decisões de primeira e segunda instâncias da Justiça Eleitoral mineira. Duílio foi reconduzido ao cargo no dia 30 de maio para concluir o mandato de 19 meses.

 

A partir deste momento, um novo cenário político foi formado. Duílio de Castro era um candidato natural a reeleição, mas tinha como principal adversário o deputado estadual Douglas Melo que exercia seu segundo mandato na Assembleia Legislativa e era considerado a principal liderança política da região.

 

A campanha foi pesada e ocorreu na primeira fase da pandemia da Covid-19. Um período crítico onde ainda não existia vacina contra a doença. Mesmo assim, os candidatos foram pra rua quando também estava na disputa: Emílio Vasconcelos, Saulo Calazans Ramsés de Castro e Claudinei Dias.

 

Assim como em 1992, houve uma grande virada no quadro eleitoral. Douglas Melo arrancou com mais de 40% da preferência do eleitorado e Duílio de Castro tinha menos de 15%, segundo pesquisas. Porém, no dia 15 de novembro de 2020 Duílio de Castro venceu com 60.240 votos (54,90%) contra 32.783 (29,88%) de Douglas Melo. Uma vitória convincente que deu origem a uma fase sem traumas da política sete-lagoana.

 

Com um governo estável, Duílio de Castro é a principal liderança de um grande grupo político, mas para a eleição do próximo ano deve encontrar dificuldades para indicar um sucessor. Sua principal aposta continua sendo ele mesmo. Isso, porque seus assessores jurídicos tentam ganhar o direito de disputa sob alegação de que o atual prefeito exerceu apenas um mandato. Já a oposição tem como principais nomes Doulas Melo e os vereadores Júnior Sousa e Carol Canabrava, resta saber se ela vem unida ou fragmentada.

 

 

 

 

PARTE 3

Presidente da Câmara Municipal

ganhava 83 salários mínimos

 

Uma série de reportagens do SETE DIAS, publicadas nos primeiros meses de 1992, abordava uma movimentação interna na Câmara Municipal tendo como foco o salários dos vereadores. Naquela época, Sete Lagoas já tinha 17 parlamentares e o que desperta curiosidade é o valor de seus vencimentos fazendo um comparativo com o salário mínimo vigente de
Cr$ 96.037,33.

 

No dia 27 de fevereiro de 1992, em reunião extraordinária, os vereadores aprovaram um reajuste de 75% no próprio salário. Com isso, cada parlamentar passaria a receber Cr$ 4,8 milhões por mês, que cairiam a Cr$ 3,6 milhões com o desconto de 25% do Imposto do Renda. Porém, o presidente, Raimundo Batata, tinha o vencimento dobrado e, com o mesmo desconto, receberia de salário Cr$ 7,2 milhões mensais.

 

Outra curiosidade era um incentivo que os parlamentares recebiam para participar das reuniões extraordinárias. Cada comparecimento garantia um jetom de Cr$ 124 mil. Como, em média, eram 4 sessões por mês estaria garantido o reforço de Cr$ 496 mil, neste caso, sem desconto do “leão”. Assim, o presidente receberia a tentadora cifra Cr$ 8,1 milhões, cerca de 83 salários mínimos.

Vereadores da época

André Lupiano, Antônio Lambreta, Caio Valace, Ovídio Amorim, Eduardo Gomes, João Batista, João Pena, José das Graças, Paulo Maciel, José Marciano, Leone Maciel, Maria José, Vicente Natividade, Fábio Cabral, Raimundo Batata, Ronaldo João e Zelito Amaral.

 

De 83 para 10 salários

Obviamente a moeda brasileira é muito mais forte na atualidade, mas vale comparação dos valores dos vencimentos dos 17 vereadores atuais com os de 30 anos atrás. Hoje eles, inclusive o presidente, têm vencimento bruto de R$ 14.309,82, pouco mais de dez salários mínimos. Com os descontos de impostos o montante cai para
R$ 10.660,13.

Uma grande diferença da atualidade é a estrutura de trabalho dos parlamentares. Cada um tem mais de R$ 36 mil para contratar assessores e ainda a disponibilidade de um veículo de aluguel para exercer seu trabalho político.

Veja Mais