Educação e tecnologia: como a Inteligência Artificial está mudando a sala de aula

O Sete Dias ouviu diretores de três importantes instituições de ensino da cidade — Ivan Andrade (Faculdade Sete Lagoas), Roseane Vinte (Maple Bear) e Wilson Moraes (Unopar) — que falaram sobre os desafios de conciliar o processo de ensino-aprendizagem com o advento da Inteligência Artificial na Educação

Ivan Andrade (Faculdade Sete Lagoas), Roseane Vinte (Maple Bear) e Wilson Moraes (Unopar)

Por Celso Martinelli

Mais da metade dos professores brasileiros afirma já ter incorporado a Inteligência Artificial (IA) à rotina de trabalho. É o que mostra uma pesquisa divulgada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) no início de outubro: 56% dos docentes no país usam a tecnologia para preparar aulas e buscar novas formas de ensino — um índice 20 pontos percentuais acima da média dos países desenvolvidos.

O dado reforça como, mesmo em um cenário de desigualdade tecnológica, a IA foi rapidamente absorvida em práticas educacionais. No entanto, o avanço vem acompanhado de obstáculos: 64% dos professores afirmam não ter o conhecimento nem as habilidades necessárias para usar ferramentas de IA, e seis em cada dez dizem que as escolas carecem de infraestrutura adequada para lidar com esse tipo de tecnologia.

Ainda que os dilemas sobre o uso da IA na educação sejam reais, é inegável que ela oferece oportunidades para reinventar práticas pedagógicas e fortalecer o aprendizado. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre inovação tecnológica e a dimensão humana da educação, garantindo que a tecnologia complemente — e não substitua — o olhar crítico e sensível do professor.

Nesse contexto, o papel do educador torna-se ainda mais estratégico: mais do que competir com as máquinas, é preciso atuar como mediador crítico, orientando os estudantes a utilizar as ferramentas de maneira ética, consciente e criativa.

Para compreender melhor como o setor educacional de Sete Lagoas tem lidado com essa transformação, o portal ouviu diretores de três importantes instituições de ensino da cidade, que compartilham suas percepções sobre o impacto da IA e os desafios do estímulo à leitura em tempos digitais.

O SETE DIAS ouviu diretores de três importantes instituições de ensino da cidade, Ivan Andrade (Faculdade Sete Lagoas), Roseane Vinte (Maple Bear) e Wilson Moraes (Unopar), que falaram sobre os desafios de aliar o processo de ensino-aprendizagem com o advento da Inteligência Artificial na Educação

Ivan Andrade – Diretor Acadêmico e de Marketing da FACSETE (Faculdade Sete Lagoas)

A Inteligência Artificial e as novas tecnologias vêm transformando o modo de ensinar e aprender. De que forma a rede particular tem se apropriado dessas ferramentas e você enxerga a integração entre inovação e educação?
“As transformações tecnológicas têm redefinido profundamente os processos de ensino e aprendizagem, exigindo das instituições de ensino superior uma postura dinâmica, adaptativa e orientada à inovação. Desde a pandemia de 2020, que impôs uma rápida transição para o ensino remoto, as instituições precisaram incorporar metodologias digitais e ferramentas tecnológicas que garantissem a continuidade e a qualidade da educação. Esse movimento consolidou a percepção de que a integração entre tecnologia e educação é um caminho irreversível.

Na FACSETE, compreendemos que a Inteligência Artificial não veio para substituir o papel do professor, mas para potencializar o processo educativo, ampliando as possibilidades de personalização do ensino e otimização da gestão acadêmica. Hoje, coordenadores e docentes utilizam ferramentas de IA para apoiar o planejamento pedagógico, a elaboração de planos de aula, materiais complementares, e-books, apresentações e instrumentos de avaliação formativa.

Além do campo pedagógico, a IA tem contribuído significativamente para a gestão institucional, apoiando a geração de relatórios gerenciais, indicadores de desempenho e análises preditivas. No setor de marketing e captação, estamos implantando um agente inteligente de atendimento, capaz de oferecer respostas personalizadas e humanizadas a alunos e candidatos. Essa integração demonstra que a inovação tecnológica, quando orientada por objetivos pedagógicos claros, é capaz de transformar a experiência educacional e fortalecer o compromisso da instituição com a excelência e a modernidade.”

Como a faculdade tem trabalhado para estimular o hábito da leitura e fortalecer a formação intelectual dos estudantes, em meio a tantas distrações digitais?
“De fato, as novas gerações apresentam um perfil cognitivo e comportamental diferente: são mais imediatistas, interagem melhor com estímulos visuais e preferem conteúdos curtos e objetivos. Diante desse cenário, a FACSETE tem desenvolvido estratégias pedagógicas que conciliam o uso das tecnologias digitais com práticas que estimulem a leitura, a reflexão crítica e a construção colaborativa do conhecimento.

Nos cursos da instituição, mesmo nas disciplinas presenciais, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é utilizado como uma extensão do espaço de sala de aula. Nele, os alunos acessam conteúdos complementares, realizam leituras orientadas e participam de atividades interativas. A Inteligência Artificial é integrada de forma responsável, incentivando o estudante a utilizá-la como ferramenta de apoio para compreender conteúdos, sanar dúvidas e aprimorar a produção escrita.

Ao mesmo tempo, a prática pedagógica presencial continua sendo valorizada, especialmente nas dinâmicas em grupo, debates e apresentações orais, que estimulam o pensamento crítico, a comunicação, a argumentação e a liderança. Essa abordagem híbrida, que une o uso ético e inteligente da tecnologia com a valorização das interações humanas, tem permitido formar profissionais mais autônomos, reflexivos e capazes de se adaptar às exigências de um mundo em constante transformação.”

Roseane Vinte – Diretora da Maple Bear Sete Lagoas

(Pedagoga pela UEMG, bibliotecária pela UFMG, mestre e doutoranda em Administração com foco em Liderança Escolar pela PUC Minas)

 A integração entre inovação e educação
“Na Maple Bear, entendemos que a tecnologia — incluindo a Inteligência Artificial — é uma aliada do processo de ensino-aprendizagem, desde que utilizada de forma ética, crítica e humanizada, o que vai ao encontro de nosso compromisso em formar cidadãos globais capazes de transitar entre diferentes culturas, acessar oportunidades em qualquer lugar e contribuir para transformar o mundo com uma perspectiva crítica, criativa, colaborativa, ética e inovadora.

A IA pode ampliar as possibilidades pedagógicas, oferecendo velocidade e personalização, mas é o professor quem apoia esse processo de maneira que nossos alunos continuem no centro do processo educativo. Os professores transformam dados em experiências significativas, identificam emoções, despertam curiosidade e cultivam o pensamento crítico — aspectos que nenhuma máquina pode substituir.

A verdadeira inovação acontece quando unimos o que há de mais eficaz na tecnologia ao que há de mais valioso na inteligência humana: flexibilidade, emoção e visão de futuro. É nesse equilíbrio que a Maple Bear aposta: ferramentas digitais e recursos inteligentes são utilizados para enriquecer o aprendizado, sem perder de vista o olhar humano, o afeto e a empatia que caracterizam nossa metodologia canadense.”

O desafio da leitura em tempos digitais
“Na Maple Bear, o incentivo à leitura é parte essencial da rotina escolar desde a Educação Infantil. Entendemos que ler vai muito além de decodificar palavras — é um ato de descoberta, imaginação e construção de sentido. Por isso, cultivamos o prazer pela leitura em ambientes acolhedores, com espaços de leitura, bibliotecas nas salas de aula e livros literários contextualizados com as temáticas que despertam o interesse genuíno dos alunos.

Nosso currículo bilíngue favorece a imersão em dois idiomas, ampliando repertórios culturais e linguísticos, e fortalecendo a compreensão leitora de maneira natural e contextualizada. Os professores atuam como mediadores desse processo, conectando o conteúdo das histórias às emoções, valores e experiências de vida das crianças.

Em um tempo marcado pelas telas e pela distração, nossa proposta é priorizar as relações humanas e os valores formativos. O livro físico, a conversa sobre as histórias e o vínculo afetivo entre professor e aluno continuam sendo o coração do aprendizado. Mais do que formar leitores competentes, queremos formar leitores sensíveis, críticos e curiosos, capazes de compreender o mundo e transformá-lo com base no conhecimento e nos valores que constroem dentro da escola.”

Wilson Moraes – Diretor Administrativo da Unopar Sete Lagoas

A integração da IA no ensino superior
“A revolução tecnológica das últimas décadas tem remodelado profundamente o cenário educacional, e o ensino superior está no centro dessa transformação. A chegada da Inteligência Artificial, das plataformas adaptativas e das metodologias digitais vem redefinindo o modo como estudantes aprendem e como professores ensinam.

Nas faculdades e universidades particulares, esse movimento tem se traduzido em experiências acadêmicas mais dinâmicas e personalizadas, que estimulam o protagonismo do aluno e ampliam o alcance do conhecimento. O docente assume o papel de mentor, guiando o estudante na construção do pensamento crítico e na aplicação prática do saber.

Mais do que incorporar ferramentas tecnológicas, a missão do ensino superior é formar mentes criativas e éticas, capazes de usar a inovação a serviço do desenvolvimento humano e social.”

O estímulo à leitura e à concentração
“No ambiente universitário, o estímulo à leitura é um pilar essencial da formação intelectual. Entretanto, pesquisas recentes indicam que os estudantes têm enfrentado maior dificuldade de concentração e menor interesse por leituras aprofundadas, reflexo do ritmo acelerado e das distrações digitais que marcam a atualidade.

Ciente desse cenário, a faculdade tem investido em programas de incentivo à leitura, projetos interdisciplinares e metodologias ativas que conectam o conteúdo acadêmico às realidades do mundo contemporâneo. A proposta é transformar a leitura em um exercício de descoberta e reflexão, fortalecendo a autonomia intelectual e a capacidade de análise.

Em meio às novas tecnologias, o desafio é formar não apenas profissionais, mas pensadores capazes de compreender, questionar e transformar a sociedade por meio do conhecimento.”