Da Redação
A partir da pandemia Covid-19 os cuidados com a saúde mental passaram a ter mais atenção, não só por parte das autoridades, mas das pessoas em geral, que antes pouco tocavam no assunto.

O auge da pandemia foi de 11 de março de 2020 a 5 de maio de 2023, quando a Organização Mundial de Saúde – OMS -, declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional – ESPII.
Em 2021 o Brasil registrou uma taxa de 11,22 óbitos por suicídio por 100 mil habitantes, conforme o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.
Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 11.502 internações relacionadas a lesões com intenção deliberada de infligir dano a si mesmo, resultando em uma média de 31 casos por dia.
Em Minas Gerais, entre 2018 e 2023, a taxa de suicídios aumentou 25%, passando de 7,37 para 9,23 óbitos por 100 mil habitantes. Neste mesmo período, foram registradas 10.753 mortes por suicídio no estado. Em 2018, a maior concentração de suicídios estava entre pessoas de 40 a 49 anos. Em 2023, a faixa etária mais afetada foi a de 30 a 39 anos. A maioria das vítimas, do sexo masculino, representando aproximadamente 77% dos casos. Entre pessoas com 80 anos ou mais, a taxa aumentou 45,9%, passando de 6,61 para 9,64 óbitos por 100 mil habitantes.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP -, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM -, desenvolvem a maior campanha anti estigma do mundo: o Setembro Amarelo, que começou, na prática, em 2015, idealizada pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A cor amarela simboliza valorização da vida, esperança e atenção à saúde mental.
O dia 10 de setembro passou a ser, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, com ações de alerta e prevenção ocorrendo durante todo o ano. Em 2025, o lema é: “Se precisar, peça ajuda!”.
O jornal SETE DIAS entrevistou o Dr. André Luiz Barbosa Rocha, um dos mais conceituados psiquiatras de Sete Lagoas, membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria, que se atualiza anualmente em participações em congressos e encontros de psiquiatria e psicologia no Brasil e no exterior.
Ele aborda temas como o preconceito e resistência ao uso de medicamentos chamados psicotrópicos ou psicofármacos, ao contrário de quando o tratamento é para outros problemas, também crônicos de saúde, como diabetes, tireoide, hipertensão e tantas outros. “As pessoas ainda tem resistência ao uso de psicotrópicos muito por culpa das medicações de um passado não muito distante, que causavam muitos efeitos colaterais, que chegavam até a incapacitar a pessoa”, diz. “Hoje as medicações estão muito mais toleradas e com efeitos colaterais mínimos. As pessoas devem encarar o tratamento psiquiátrico como qualquer outra doença”, prossegue o Dr. André.

FATORES DE RISCO
“Não existe um único fator que, isoladamente, determine que alguém vá tirar a própria vida, são vários os fatores. A história de tentativa prévia de suicídio é o preditor isolado mais forte de um futuro suicídio ou nova tentativa. Fatores importantes são transtornos mentais principalmente a depressão, abuso de álcool e drogas, fatores psicossociais agudos como perda recente (emprego, relacionamento), isolamento social, violência, abuso, problemas financeiros.”
DEPRESSÃO/ALERTAS
“Sim. É um dos principais gatilhos, já que a depressão tira a vontade de viver e a expectativa de futuro. Alguns sinais de alerta emocionais e comportamentais podem sugerir que a pessoa possa estar na iminência da tentativa de suicídio: falar sobre querer morrer ou se matar, comentários como “seria melhor se eu não existisse” ou “quero sumir”, Interesse repentino em testamentos ou assuntos de morte, Isolamento social súbito ou afastamento de amigos/família, Perda de interesse em atividades antes prazerosas, Tristeza profunda, desesperança ou sentimento de vazio, procurar meios para se ferir, doações ou despedidas incomuns, comportamentos autodestrutivos ou imprudentes.”
AUTOLESÕES
“Autolesões podem ser manifestações de várias patologias psiquiátricas inclusive um sinal de que a pessoa está na iminência de cometer tentativa de auto extermínio.”

TABUS/ESTIGMAS
“Falar sobre suicídio é sempre um tabu. O estigma do suicídio é um dos maiores obstáculos para a prevenção e o cuidado com pessoas em risco. Ele envolve preconceitos, julgamentos e tabus que dificultam falar sobre o tema, buscar ajuda e oferecer apoio adequado.
Envolve culpa ou vergonha, medo de julgamento social, leva à desinformação e perpetua mitos, como “quem fala sobre suicídio quer chamar atenção” ou “quem tenta suicídio é fraco”.
ACOLHIMENTO
“É fundamental. A maioria dos suicídios ocorre em contexto de sofrimento psicológico ou transtornos mentais não tratados, por isso a intervenção adequada pode salvar vidas. O acesso à saúde mental pode fazer com que ocorra a identificação precoce dos riscos, durante o atendimento com a equipe multidisciplinar, psicólogos, psiquiatras e todos os outros profissionais que compõem a equipe. O tratamento adequado consiste não só em tratar o doente como dar suporte emocional, acolhimento e orientação de familiares, amigos e colegas de trabalho.”
SETEMBRO AMARELO
“É a principal campanha de conscientização sobre prevenção do suicídio no mundo, com ações em diversos países para informar sobre prevenção e apoiar pessoas em risco.
Os objetivos são conscientizar a população sobre a gravidade do assunto, estimular o diálogo aberto sobre sofrimento emocional e saúde mental, divulgar canais de apoio, como o CVV (188), disponíveis 24 horas, promover políticas públicas e educação, incentivando escolas, empresas e comunidades a abordar o tema. Desde a sua criação, conta com ampla participação de instituições públicas, privadas e mídia social.”
AUTOMEDICAÇÃO
“A automedicação é o grande problema. Nem sempre o remédio que faz bem ao vizinho, amigo, parente vai ser bom sendo necessário uma avaliação especializada individualizada.”
RISCOS
“A automedicação pode causar efeitos colaterais graves inclusive a morte principalmente quando a pessoa que se automedica tem outros problemas de saúde e faz uso de outras medicações por causa das interações medicamentosas”