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Democracia e Memória

Após as eleições presidenciais de 2022 assistimos à organização de acampamentos em frente aos quartéis do Exército Brasileiro.

15/11/22 - 14:00

Por Silvio de Sá

Aos gritos os acampados clamam, ora por uma Intervenção Militar ora Intervenção Federal. 
Muito bem, o pedido de intervenção militar é uma alucinação coletiva, porquanto não existe esse termo na Constituição de 1988. Já o artigo 142, chamado pelos acampados “Intervenção Federal”, nem mediante a interpretação de um “rábula proeminente” implicaria a possibilidade de afastar o regime constitucional democrático. 
Em sede de regime democrático as Forças Armadas não atuam de ofício ou a pedido, em oposição à ordem Constitucional. Infelizmente é preciso dizer aos “líderes” e àqueles que foram convocados para os acampamentos que jamais haverá Intervenção Federal para suprimir as regras constitucionais. Ora, a constitucionalidade do artigo 142 da CF/88 tem finalidades e objetivos específicos que poderíamos detalhar em outra oportunidade. 
Entretanto, o que me deixa intrigado não são os devaneios dos acampados, mas sim a ausência de memória de quem menospreza a Democracia. É interessante relembrar aqui o que disse certa vez Winston Churchill “a democracia é o pior dos regimes, a exceção de todos outros”. Karl Popper, por sua vez, afirma que a “democracia é o único regime político que permite ao cidadão livrar-se dos seus ‘demônios’ (políticos ou governos), sem necessidade de derramamento de sangue”. 
Não acredito que todas as pessoas que votaram no candidato derrotado desconhecem o valor supremo de uma Democracia. E assim definiram o voto porque possivelmente não estavam de acordo com o perfil ou com o plano de governo do candidato vencedor. Ou seja, muitos votaram sem serem influenciados pelas falácias das fakes news no sentido de que o candidato vencedor poderia “fechar igrejas”, implantar “banheiros unissex nas escolas” ou “transformar” o Brasil em uma “Venezuela”. 
Nesse momento, é preciso separar o “joio do trigo”, e isso significa reconhecer que pode haver argumentos racionais entre os cidadãos que votaram no candidato derrotado. Conheço muitas pessoas que assumem posturas totalmente contrárias ao fechamento de estradas ou acampamentos com o propósito de pleitear uma mirabolante intervenção na Democracia, esses devem ser ouvidos porque estão abertos ao pensamento divergente. 
Aqueles que conseguem estabelecer diálogo apenas dentro de sua bolha são extremistas, quer dizer, não reconhecem como legítimo o diferente, mas exclusivamente aquele que se apresenta como sua própria imagem. O extremista se fecha em si mesmo, é intolerante e violento, impugna toda e qualquer visão de mundo diferente daquilo que acredita ser a verdade. 
Por fim, em uma democracia, conforme manifestou Ulisses Guimarães, respeita-se o resultado das urnas de modo que o regime democrático permaneça incólume. Em uma democracia aqueles que não assistiram a vitória das ideias dos seus candidatos não organizam acampamento em frente a quartéis ou fecham estradas, mas, ao contrário, organizam-se politicamente e democraticamente para ser oposição.
 

Silvio de Sá

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