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A primavera sempre vem
Entramos em meados de outubro e de estalo veio a lembrança de que começou a primavera, estação que ocupa o lugar do inverno, preparando o espaço para o verão, a estação mais quente e alegre do ano.
“Primavera” vem do latim, primo vere, ou "primeiro verão". Ela está ali no meio dos estremos. Depois do frio, da aridez e da falta das cores e antes do calor, da altivez e do sol pleno.
Zona intermediaria onde acontece o renascimento das flores, do verde das plantas, volta as chuvas para regar a sequidão e a doce brisa das temperaturas amenas. Os animais que hibernavam saem das tocas com os filhotes.
Na chegada da estação das flores, nas suas primeiras vinte e quatro horas, o dia e a noite têm exatamente, sem diferença de tempo, a mesma duração. E no decorrer, como que em preparativo para a chegada do verão, os dias que seguem, gradualmente vão se tornando mais longos e as noites, mais curtas. A luz, com o passar do tempo passa a ocupar o lugar da escuridão.
Temos neste momento único do ano o recado certeiro da natureza. Da duração dos ciclos. De que as dificuldades, as escassezes e as mazelas trazidas pelo inverno, não são permanentes. Que podem durar, machucar, incomodar, parecerem intermináveis, contudo em algum momento, elas acabam.
Mas que antes dos da plenitude e da exuberância do verão, obrigatoriamente temos o período da transição. Da vez de ressurgir, do renascimento, de restabelecer o equilíbrio entre a falta e a abundância. De molhar, regar e florescer, para depois dar os frutos.
Em prosa, certa vez disse Cecilia Meireles:
“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. (...)
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.” (Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.)
Porque não estender a analogia das estações a ao nosso cotidiano? Para muitos, os últimos meses podem parecer terem sidos os piores e de fato podem terem sido. Mas eles não vão durar para sempre. Eles vão passar. Do mesmo jeito que os seus efeitos, desde que estejamos atentos para a troca das estações.
Para ver o raio do sol, é preciso sair do abrigo. Para sentir o frescor da brisa, tem que respirar o novo ar. Não há como esperar pela colheita se não houver a volta ao plantio.
A troca de ciclos é certa e permanente. Ela vai acontecer. Assim como a primavera, que para que prevaleça a normalidade e o equilíbrio, não importa o quão devastador foi o inverno, SEMPRE VEM.