Por Élida Gontijo – Escritora
Tempo passa devagar, não corra assim! Quero segurar meu neto pelas mãos mostra-lo tantas coisas que na infância atual ficou desvalorizado. Nada de tênis, sandálias, sapatos, iremos descalços explorar a natureza. Sentir as pedrinhas que cobrem as estradas de terra. Escutar o canto dos pássaros. Apanhar flores nos campos, soprar os dentes de leão. Colher manga no pé , lambuzar o rosto todo, a roupa. Lavar o rosto com água do rio ,logicamente um rio sem poluição.
Cantar e dançar músicas de roda, desenhar amarelinha no chão e com caco de telha marcar a casa que estamos durante a brincadeira. Dormir em colchões no chão, em casa sem forro, quem sabe dê uma chuvinha e tenha goteiras pingando em nossas cabeças.
À noite iremos procurar vagalumes, por toda parte, piscando ali, aqui. Eletricidade? Nem pensar ! Usaremos as lamparinas que usei em minha infância na casa da minha avó. Comeremos comida feita no fogão a lenha, com verduras colhidas na horta, frango caipira que dará trabalho para sua captura no terreiro e para completar um quiabo com aquele angu, feito do milho da lavoura. Faremos bolinhas de sabão, tendo como canudo talo de mamão.
Trarei toda beleza da minha infância para a dele, faremos estilingue ou bodoques como alguns denominam, com forquilhas tiradas de algum galho seco de árvore. Correremos para casa se aparecer algum redemoinho, pois quem sabe tem saci por ali? Sem televisão ou qualquer tela, nossos olhares e ouvidos estarão ocupados na contação de histórias esquentando fogo na beirada do fogão enquanto o sono chega. Brincadeiras com fogo não pode , perigoso queimar e fazer xixi na cama, conselhos da minha avó.
Quando conseguir mostra-lo tudinho da beleza simples, do sonho, da fantasia, tomarei firme suas pequenas mãos e rezaremos juntos com Deus e Nossa Senhora, aí sim poderemos voltar , mas pedirei a ele que conte as outras crianças como era a infância de sua avó e que valorize o bonito da vida.
Texto dedicado ao meu neto: Marcos Gontijo Brognaro, no mês das crianças.
