Com 84,91% dos votos a Dra. Dayanne Giacomini de Figueiredo foi eleita em novembro do ano passado, presidente da 46ª Subseção da OAB/MG para o período 2025/2027. A posse administrativa foi no dia 20 de dezembro e a posse solene será em fevereiro, em dia ainda a ser marcado.
Primeira mulher a comandar a Ordem dos Advogados da cidade nos 53 anos de existência da instituição.
Como ela mesmo diz, é a “… filha do meio do Antônio Carlos e Anilda…”. Irmã do Carlos Winicius e William e casada com Leandro Vieira.
Conhecida pela especialização no Direito Cível/Trabalhista e pelo espírito de liderança forte e iniciativas, demonstradas na primeira vez em que entrou na sede da entidade em Sete Lagoas, no começo da carreira: em 2016 foi pleitear melhores condições de trabalho para a categoria, pois sentia que a advocacia local não era devidamente valorizada. A sua argumentação foi tão convincente que lhe valeu convite da diretoria para integrar a comissão de valorização da advocacia e prerrogativas profissionais, iniciando assim a sua trajetória na OAB/SL até chegar à presidência.
Coincidentemente outra importante instituição do judiciário mineiro, a Amagis (Associação dos Magistrados Mineiros), deu posse no último dia três, à primeira mulher presidente em seus 70 anos de história: a juíza Rosimere das Graças do Couto, formada na Fadom, em Divinópolis, tendo atuado nas comarcas de Morada Nova de Minas, Três Marias, Pompéu, Teófilo Otoni, Divinópolis e Belo Horizonte. Vai comandar a Amagis também até 2027.
São as mulheres ocupando postos cada vez mais importantes no país, nas mais diversas áreas de atividade. Dra. Dayanne Giacomini falou ao SETE DIAS sobre estes assuntos, sua trajetória e sobre seus planos na presidência da OAB/SL.
SETE DIAS: Quando chegou a hora de decidir qual curso superior fazer, só pensou no Direito ou havia outras opções?
DRA. DAYANNE:
Inicialmente já pensava no curso de Direito como opção. Meu pai era graduado em Direito e apesar disso nunca exerceu, mas sempre conversávamos em casa sobre as diversas oportunidades do curso. Na época de escola sempre era escolhida como chefe de classe e já desenvolvia jornais informativos, o que ao final me deixou em dúvida acerca do Direito ou Publicidade. Mas o sangue da advocacia já corria nas veias, segundo meus pais, desde a infância haviam atitudes que demonstravam a tendência combativa e com um senso de justiça já diferenciado dos demais da minha idade.
SD: Como foi a caminhada até chegar à posição de uma das advogadas mais conceituadas que você tem hoje?
DRA. DAYANNE: Acredito que é o resultado de uma trajetória construída com muito trabalho, dedicação e ética. Desde o início da minha carreira, me comprometi a estudar cada caso, ouvir com atenção meus clientes e buscar soluções jurídicas que fossem justas e eficazes. Além disso, sempre procurei me atualizar constantemente, acompanhando as mudanças nas leis e nas demandas da sociedade. Acredito que a confiança e o respeito que conquistei ao longo dos anos vêm desse compromisso em atuar com responsabilidade, humanidade e paixão pela advocacia
SD: Como começou a sua história com OAB Sete Lagoas?
DRA. DAYANNE: Em 2016 fui até à OAB Sete Lagoas pleiteando melhores condições de trabalho pois via a advocacia local desvalorizada. Recebi o convite para integrar a comissão de valorização da advocacia e prerrogativas profissionais onde iniciei meu trabalho em prol da advocacia. Acredito que pelo resultado de minha atuação que perdura junto a comissão até hoje, fui convidada pelo Dr. Adriano Cotta para compor a chapa que disputaria as eleições para a gestão 2019-2021 reeleita para 2022-2024.
SD: Você já pensava em incentivar uma maior participação das mulheres tanto na OAB quanto na sociedade como um todo?
DRA. DAYANNE: Quando passei a fazer parte da comissão vi que o universo jurídico era muito masculino e isso me incomodou muito. A partir de então sempre enxerguei a necessidade de fortalecer a participação feminina, tanto na OAB quanto na sociedade em geral. As mulheres trazem perspectivas valiosas e competências fundamentais para a construção de uma advocacia mais justa e representativa. Ao longo da minha carreira, sempre procurei não só dar exemplo através da minha atuação, mas também incentivar outras mulheres a ocuparem espaços de liderança e voz ativa, promovendo igualdade e diversidade. Acredito que uma sociedade mais equilibrada depende de um esforço coletivo para garantir que as mulheres sejam ouvidas e valorizadas em todas as esferas.
SD: Como você se sente como a primeira mulher a ocupar a presidência da OAB em Sete Lagoas?
DRA. DAYANNE: É uma honra imensa e uma responsabilidade igualmente grande ser a primeira mulher a ocupar a presidência da OAB em Sete Lagoas. Esse marco não é apenas pessoal, mas também coletivo, pois reflete os avanços que temos conquistado em prol de uma advocacia mais inclusiva e representativa. Sinto-me profundamente grata pela confiança depositada em mim e determinada a abrir ainda mais portas para que outras mulheres possam trilhar esse caminho. Espero que minha atuação inspire jovens advogadas e demonstre que é possível ocupar espaços de liderança com competência, ética e sensibilidade. Estou comprometida em trabalhar para fortalecer nossa classe e garantir que a OAB continue sendo um espaço de diálogo e transformação.
SD: Você já passou por constrangimentos na profissão pelo fato de ser mulher?
DRA. DAYANNE: Infelizmente, como muitas mulheres, já enfrentei situações de constrangimento ao longo da minha trajetória profissional, simplesmente pelo fato de ser mulher. Essas experiências variaram desde questionamentos sobre minha competência até a necessidade de provar meu valor em ambientes predominantemente masculinos. No entanto, sempre encarei essas situações como um lembrete da importância de seguir firme no meu propósito, mostrando com trabalho, ética e resultados que a capacidade profissional independe de gênero. Além disso, essas experiências me motivaram ainda mais a lutar por igualdade e respeito na advocacia, para que as mulheres não precisem mais passar por isso e possam exercer suas profissões plenamente.
SD: Como você avalia os momentos turbulentos que vivemos no país, em que o nosso Poder Judiciário tem sido tão contestado por parte da sociedade?
DRA. DAYANNE: A OAB desempenha um papel crucial na defesa da democracia e das instituições republicanas, especialmente em momentos de turbulência como os que vivemos. É natural que, em uma sociedade democrática, o Poder Judiciário e as decisões por ele tomadas sejam debatidos e, em alguns casos, questionados. No entanto, é essencial que essas manifestações ocorram dentro do limite do respeito às instituições e à ordem constitucional.
Acredito que a OAB tem o dever de atuar como uma ponte entre a sociedade e as instituições, promovendo o diálogo, esclarecendo a importância do equilíbrio entre os Poderes e defendendo a independência do Judiciário. Sem um Judiciário forte e respeitado, a própria democracia corre riscos. É nosso papel, como advogados e como instituição, reafirmar o compromisso com o Estado Democrático de Direito e combater qualquer tentativa de deslegitimar as instituições de maneira injustificada ou autoritária.
SD: E em Sete Lagoas? Como você avalia o funcionamento da justiça como um todo?
DRA DAYANNE:
Como em muitas outras cidades do Brasil, o funcionamento da Justiça enfrenta desafios relacionados à celeridade dos processos e ao atendimento das demandas da sociedade e dos profissionais do Direito. Sabemos que a morosidade processual é um problema recorrente e que afeta tanto os cidadãos quanto os advogados, que muitas vezes se deparam com dificuldades para garantir uma tramitação ágil e eficiente.
Apesar disso, também é preciso reconhecer os esforços que vêm sendo feitos por parte do Judiciário e dos servidores para melhorar esse cenário, mesmo com as limitações de estrutura e recursos. Como presidente da OAB em Sete Lagoas, vamos manter o diálogo entre a advocacia e o Poder Judiciário, buscando soluções conjuntas que possam beneficiar toda a comunidade jurídica e, principalmente, a população.
Acredito que, com mais investimentos em tecnologia, ampliação do quadro de servidores e uma gestão mais integrada, podemos avançar na construção de uma Justiça que seja mais célere e eficaz, sem perder de vista o respeito aos direitos fundamentais e à qualidade das decisões.