Será que não estamos passando dos limites?

Por Mariana Leão – Advogada. Gestora jurídica. Especialista em Privacidade e Proteção de Dados Pessoais

Estive em Ouro Preto no último final de semana com meu filho. A intenção foi proporcionar a ele um passeio cultural, de maneira a apresentá-lo um pouco da origem de nossa história.

Como programação para a noite, escolhi levá-lo a um restaurante tradicional da cidade. Sentamos. Na mesa ao lado estava um jovem casal. Nas outras duas seguintes, um grupo de amigos. Prestei atenção naquele casal. 

Assim que o atendente os serviu, ele tirou do bolso uma caixinha preta, fez o pedido com a aliança posta e ela, imediatamente, pegou o celular que estava sobre a mesa, o apontou para a caixinha e desfilou a sessão de fotos com consequente postagem nas redes sociais. 

Confesso que, naquele momento, eu confirmei a necessidade que as pessoas têm de estarem sempre conectadas. Pensei que aquele era um momento tão único para um casal que deveria ser aproveitado em êxtase, ele e ela. Mesmo assim, o compartilhar da situação na rede social foi demais importante.

sse fato demonstra um comportamento hoje considerado normal em uma sociedade que vive com o celular na mão, prontas para o próximo “like”. As pessoas param de fazer tudo para postar. Aguardam as curtidas como se elas fossem um indício de autoafirmação, de aprovação social, de conformidade e pertencimento a uma vida constantemente feliz, sempre bela e sobretudo, desejada pelos outros. 

Penso realmente que estamos deixando de viver a realidade para entregá-la aos portais do digital, sejam aos poderosos criadores das redes sociais ou ao seu vizinho curioso que passará a ser seu seguidor e irá assistir a todos os episódios da sua vida como se fosse um seriado da Netflix, porque você assim permite.

Lembram-se das mesas mais adiante com o grupo de amigos? Pois então! Todos com os celulares nas mãos, conversando com o mundo e esquecendo-se de conversar entre si! Será que não estamos realmente passando dos limites e não utilizando de nosso tempo com a qualidade que a vida nos permite? Mas este é um papo para os nossos próximos encontros! Até lá!