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“O peixe apodrece pela cabeça”

10/09/22 - 09:00

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Esse é o início de um dos sermões do filosofo, escritor e missionário barroco Padre Antônio Vieira, um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória.
A frase é bastante usada nas leituras negociais e voltadas para a gestão empresarial, ao aludir questões sobre a influência hierárquica na linha organizacional das instituições.
Mas uso-a por outro viés. Assim como os peixes, a nossa primeira parte que sucumbe é a cabeça. A diferença é que isso normalmente acontece ainda em vida, o que nos transforma em meros espectadores da existência alheia.
Talvez por instinto de defesa ou mero comodismo, paramos de inovar, inventar, transformar ou querer modificar o nosso ambiente. É mais seguro e tranquilo simplesmente aceitar as coisas e pensar demais pode ser arriscado.
Usar a cabeça nos leva a questionamentos, que nos tiram do lugar confortável e afronta o velho com coisas novas, por vezes ainda não experimentadas.
Está aí outra situação arriscada: conviver com os velhos, principalmente as pessoas velhas. Essas, por estarem com as cabeças por inteiro putrificadas, devem ser mantidas a distância, evitando o risco de contagio. 
Por questão de sobrevivência e lucidez, afaste-se das pessoas velhas!
Contudo, não confunda velhice com idade, porque o quesito de velhice não é a cronologia dos anos vividos e sim daqueles perdidos. 
Velhos e idosos são grupos distintos.
Tenho amigos jovens que já passaram dos setenta anos, do mesmo jeito que tenho amigos velhos na casa dos trinta.
Aproxime dos idosos! Eles vão acender a sua chama.  São experts na façanha de manter a cuca oxigenada, levando frescor para todo resto do corpo e da alma.
Tem uma vida ativa, fazem o que gostam e ao mesmo tempo que preocupam em contribuir para os do arredor, não dão a mínima para os que descordam da maneira como levam a vida. Eles existem e isso é o que importa!
Por conta partida, afaste-se dos velhos. Por não aceitarem o novo e estarem enraizados no mesmismo, encobrirão o que existir do seu ânimo com críticas, reclamações e apontamentos.
É compreensível a entrega à velhice mental, pois como bem disse Guimarães Rosa, viver é perigoso:
“Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difí¬cil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.”
Não é nada fácil ter “um saber definido o que quer e ter o poder de ir até o rabo da palavra”, afinal de contas, a vida é curta. Os mais afortunados terão setenta e cinco, oitenta anos no máximo.
Para que perder tempo com suposições, ao invés de dedicar-se ao que “deu certo”, como trabalhar excessivamente na juventude, acumular riquezas, não constituir família cedo, pautar no individualismo, construir carreiras sólidas, tudo conforme determina a cartilha do sucesso?
A repostas é que apesar de curta, a vida não precisa ser rasa. e pode transbordar, ir além da borda.
No leito de morte é indiferente a “roupa” que usamos. Tanto faz se estivermos vestidos de médicos, políticos, milionários, famosos ou do que você quiser.
Geralmente, nos instantes finais, para uns o que passa pela cabeça são os beijos inesquecíveis, os abraços apertados, as risadas prolongadas e um monte de outras coisas que não tem preço, só valor.
Para outros, os beijos não dados, os abraços não recebidos, as lágrimas pelo que não foi feito e um monte de outras coisas que não puderam ter sido adquiridas.
Como pode tantos rodeios simplesmente para falar da cabeça podre de um peixe?
Mas já que o assunto mudou, e você, o que tem feito do pouco tempo que lhe resta?

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