Crônicas

Élida Gontijo - Súplica

29/05/21 - 09:20

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Não consigo aceitar o que está acontecendo logo ali, perto de mim, de você, perto de quem não quer ver. Há mães chorando, onde abrigar seus filhos? O útero já não pode sustentar tão grande amor. Tudo construído em um espaço vazio, muitas barracas, vistas aos olhos de quem precisa de um simples teto, como uma mansão. Muitas pessoas desempregadas, doentes, mas há entre eles amor, partilha, carinho, a lei da boa vizinhança. São pessoas sem voz, numa sociedade tão cruel , que exclui ,onde querem leva-los? Jogar nas ruas? Mas não vivem falando que é preciso tirar os necessitados das ruas? Não entendo o desenrolar deste grande novelo, meu peito sangra. Alguém pode me explicar? Recorro ao livro sagrado e lá me deparo com os dizeres do mestre maior: 

    _ Deixai vir a mim as criancinhas.

Elas foram, em busca da garantia da permanência ali, naquele lugar. Levaram flores, plantadas por eles ou seus pais. Encheram os vasos do adubo da compaixão, do amor, da súplica. Levaram nas mochilas próprias para levarem à escola, cartinhas com letras enormes, implorando para que possam ficar. Já defendem seus argumentos adquiridos na escola dura da vida, como não chorar diante de tão comovente cena? Imploram as autoridades competentes, coitadinhos acham que as coisas são bem mais simples, mas sabem muito bem o que é uma mãe desesperada, chorando. 

imagem

Há representantes de Deus, pessoas de diversas profissões em defesa desses nossos irmãos , mas há quem critique , sem nunca ter chegado nem perto de toda história construída ali. O tempo corre e a palavra da vez é tirar, desabrigar, peço ou melhor suplico: _ Deixai ficar as crianças e suas famílias, busquem melhorias na política pública !

Sonho em ver essas crianças crescendo numa sociedade mais justa, onde plantarão seus jardins cheios de sonhos, alegrias, saúde. Deixem onde precisam e possam estar com pelo menos as condições básicas de sobrevivência e que no amanhã não precisem carregar em suas mochilas cartinhas implorando moradias, mas livros, cadernos, sede de conhecimento.

Abram os corações, deixem as armas de lado, sejamos parte desta ciranda sem distinção de raça, cor, poder aquisitivo. Deixem nascer um fio de esperança em meio as barracas, deixem estes pequenos seres terem um pouco de paz!

Élida Gontijo- maio de 2021.

Élida Gontijo

Élida Gontijo