Crônicas

Sou água

24/05/21 - 09:46

Por Élida Gontijo

Élida Gontijo

Sou água corrente, navegando em um rio, passando entre pedras e árvores. Muitas vezes tenho vontade de parar um pouco, mas sou impedida pela correnteza. Levo de tudo em meu dorso, folhas, galhos,  flores, muitas vezes animais que caíram no rio e não conseguiram sair.

Quando a nascente enche, minha força é inigualável, muitas vezes transbordo; preciso colocar o excesso pra fora. Doa a quem doer, água é como fogo, vai tomando conta de cada espaço. É preciso molhar as terras secas, matar a sede das plantas rasteiras, que são saciadas só nas enchentes. Passam por mim barcos pequenos, grandes, pescadores em busca do sustento tão difícil. Garças com suas lindas plumagens enfeitam as margens procurando saborosos peixes. 

Sou acalanto para fazer dormir os passarinhos, navegando quando estou calma, aquele barulhinho gostoso deixa qualquer um de bico calado e olhos fechados. Sou despertar no corpo quente de alguém que quer lavar sua alma, refrescar. Sou gelada em alguns meses do ano, na época do verão, já muda tudo, água fria é a melhor escolha.

Posso levar fartura para o plantio, mas em excesso acabo com a plantação, quanta emoção quando sinto ser pisada por pés de crianças. Sou fonte de prosperidade, fartura, colheita, sou clara, muitas vezes escureço, quando parece chover. Sou vida, sou luz, caminho, passagem, obstáculos em algumas situações.

Vou navegando tentando chegar ao mar, onde o doce e o salgado se misturam, nada melhor que variar o tempero, o doce sempre enjoa é preciso um pouco de sal. Sigo buscando caminhos mais leves, seguros, cheios da luz do mestre maior, durante o dia ele me acaricia com os raios de sol, a noite manda a lua cheia , clarinha, iluminar meu percurso. Se quiserem molhar seus pés em minha fonte, não se reprima, estou logo ali, basta procurar. Há rios ainda nos nossos caminhos, há luz, esperança, poesia.

Élida Gontijo - Maio 2021.

Élida Gontijo

Élida Gontijo