ROBERTA LANZA E CELSO MARTINELLI
Aos poucos, a vida vai voltando ao normal em Sete Lagoas, mesmo com a pandemia da Covid-19 ainda estar fazendo vítimas país afora e casos ainda sendo registrados na cidade. A semana foi de alívio em Sete Lagoas, visto que na quarta-feira (8), a taxa de ocupação da UTI Covid estava em 20%, menor índice de todo esse ano. Até o fechamento desta edição (9/9), eram 13 os internados, sendo oito em UTI e cinco em enfermaria. Somando-se todos os leitos UTI Covid na cidade, tanto públicos quanto particulares, a taxa de ocupação era de 22,8%. Com a melhoria dos índices e a vacinação em andamento, a arte respira.
Assim como em todos os outros segmentos da mesma ordem, o teatro vem sofrendo com os reflexos da pandemia, procurando se reinventar. “A ordem é essa: primeiro a vida, depois o resto. Então o teatro, que é uma arte essencialmente presencial, teve que fechar”, observa João Valadares, um dos principais expoentes culturais de Sete Lagoas e um dos fundadores do Centro Cultural Nacional Preqaria, que completou 15 anos em 2021. Em 2020, foram interrompidas as apresentações dos espetáculos do Centro Cultural, as aulas da Escola Livre de Artes, os festivais (como a Temporada de Teatro de Sete Lagoas e o Curta Teatro) e as apresentações do grupo em teatros, escolas e empresas. Todas as atividades presenciais pararam. “Claro que imediatamente passamos a fazer ações on-line. Migramos as aulas para o ambiente digital e, claro, nem todos os alunos conseguiram os meios técnicos para tanto, aí a tecnologia, os aparelhos e a internet, foi excludente. Só depois de 15 meses retomamos as aulas presenciais tomando todos os cuidados”, explicou João.
Durante a pandemia, surgiram três novos projetos on-line: Quarentena PoetiQa, com vídeo-poemas postados em suas redes sociais e plataformas on-line. O retorno positivo do público nos meios digitais levou a Preqaria a um movimento subsequente, um encontro presencial para declamar poesia on-line por vídeo conferência. Assim, nasceu um segundo projeto que recebeu o nome de Sarau PoetiQo e que, desde então, acontece todos os domingos, às 19h. E, por fim, esse trabalho trasbordou em um espetáculo poético-visual totalmente on-line chamado Sarau da Palavra Expandida, vencedor do edital de Ocupação do Memorial Minas Vale, que estreou no dia 28 de agosto nos canais do Memorial.
“Em 2020, foi realizada a 7ª edição da Temporada de Teatro de Sete Lagoas on-line e a adesão foi bem bacana. A 8ª Edição vai começar em setembro e também será totalmente on-line, com grandes nomes das artes cênicas nacional, como Denise Fraga e Camila Pitanga, retomando o patrocínio via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, da grande parceira do grupo nos últimos anos que é a Cimento Nacional”, antecipou João Valadares.
Além disso, os cursos do projeto “Arte Concreta: Ações de Formação em Sete Lagoas” estão de volta. Gratuitos para crianças e jovens de baixa renda, nestes seis anos de projeto, já foram formados mais de 2100 alunos.
Para João Valadares, o movimento dos governos estadual e municipal, principalmente em 2020, fez acontecer a publicação de alguns editais emergenciais para a Cultura, dentre eles a Lei Aldir Blanc, com recursos federais. “O aporte financeiro foi grande e deu a oportunidade a diferentes atores da cultura a lançar mão de uma verba inédita e sobreviver. Trata-se de um fundo da loteria esportiva que sempre foi para a Cultura, mas que acabava destinado para outros lugares”, afirmou. Segundo Valadares, a atual mesa diretora da Câmara não teve interesse em abrir novo edital do Viva a Arte em Casa, publicado ano passado.
Para Paulo Henrique de Souza, o Paulinho do Boi, os editais e o recursos da Lei Aldir Blanc foram fundamentais para a classe artística, mas a peso de muita luta para saírem do papel. “Se depender do potencial artístico local e das manifestações tradicionais de nossa cultura voltaremos com força total. Porém, ainda precisamos da aplicação de políticas culturais mais assertivas. A Lei Municipal de Incentivo à Cultura seria um norte esperançoso para o setor cultural”, considerou. Gestor do espaço Quintal Boi da Manta, Paulinho conta que o grupo sobreviveu e conseguiu concluir dois cursos que já estavam sendo realizados em 2020 com financiamento do Fundo Estadual de Cultura (FEC).
“No ano de 2021 paralisamos as ações formativas e mantivemos apenas os trabalhos com o grupo teatral Carroça Teatral e os contadores de histórias Boi da Manta. Mesmo em meio a pandemia, o Carroça Teatral conseguiu participar de um Festival Virtual de Teatro, em Passos (MG), e do Festival de Folclore Jequitibá Virtual, com os contadores de histórias Boi da Manta colocando seu repertório a serviço de algumas escolas. O Carroça Teatral ainda viaja esse ano, em novembro, para uma turnê de intercâmbio cultural no vale do Mucuri e na Bahia. Estamos planejando o pós-pandemia e contamos com a Lei Federal de Incentivo à Cultura para continuarmos com as ações formativas. Ainda estamos arrecadando fundos através de vaquinhas virtuais e colocando anúncios de possíveis patrocinadores em nossos trabalhos e iniciativas. Estamos abertos a propostas de trabalho para nos mantermos”, conclui Paulinho. A próxima apresentação será um sarau poético e musical, o Flores e Versos, dia 26 de setembro, às 17h30, pelo Google Meet.
PROGRAMAÇÃO PREQARIA
- 11 de setembro – Palhaços, às 19h. Espetáculo do grupo, de forma híbrida e live ao vivo com espectadores no CCN Teatro Preqaria (Youtube).
- 18 de setembro - Galileu Galilei, com Denise Fraga, às 20h. Somente online e bate papo ao vivo com os atores.
- 25 de Setembro - Nosso Estranho Amor, às 19h. Espetáculo do grupo, de forma híbrida e live ao vivo com espectadores no CCN Teatro Preqaria (Youtube).
- 9 de outubro - TARTUFO'S 80, às 19h. Espetáculo do grupo, de forma híbrida e live ao vivo com espectadores.
Quem é João Valadares
João Paulo Valadares Coimbra (39) é casado com Piera, pai de Gabriela e filho da Dona Luzia. É mestre em teatro pela UFMG, formado no Curso Técnico de Ator do Palácio das Artes, e um dos fundadores da Preqaria Cia de Teatro, onde há 15 anos dirige, escreve e atua em diversos espetáculos. Desde 2014 é professor de interpretação da Escola Livre de Artes - Arena da Cultura (Prefeitura de BH) e desde 2009 é coordenador e professor da Escola Livre de Artes de Sete Lagoas. Em 2013 foi Professor Substituto da Graduação em Teatro da UFMG. Desde 2014 é coordenador da “Temporada de Teatro de Sete Lagoas” que até aqui teve mais de 50 mil espectadores, e do “Curta Teatro – Festival de Cenas Curtas de Sete Lagoas”.Como jornalista, apresentou em 2013 e 2014 o programa “Ligado na Ciência”, na TV Rede Minas.
“Sou um homem de teatro. Meu Registro Profissional é de ator, mas dentro do teatro eu faço um pouco de tudo. Sou diretor, bilheteiro, iluminador, dramaturgo, faxineiro, professor, produtor, motorista, carregador, sonoplasta, divulgador, cenotécnico e, até ator... Antes do teatro, eu fui técnico em Eletrônica, me formei em Jornalismo, trabalhei também no cinema e na TV como produtor, ator e diretor. Também me aventuro na literatura, lancei os livros de poesia “Hipoteca” (2005) e “Respiro de Gaia” (2020) e estou preparando o lançamento de meu primeiro livro de contos chamado “Atlântida XXI”, este pela Editora Urutau de São Paulo”, contou. (RL)
Preqaria Cia. de Teatro faz 15 anos
A Preqaria Cia de Teatro foi fundada em Belo Horizonte com a estreia do espetáculo "Qorpo Santo" em 14 de julho de 2006. De lá pra cá, realizou 12 espetáculos e três curtas metragens, conquistou vários prêmios e fez parcerias com artistas de renome internacional. Em 2009 foi fundada em Sete Lagoas a “Escola Livre de Teatro”, rebatizada em 2019 como Escola Livre de Artes, que vem transformando a realidade teatral e artística da cidade.Desde 2014, a Preqaria Cia de Teatro vem realizando a “Temporada de Teatro de Sete Lagoas”, festival que dura oito meses e vem formando público e uma rede de produção e divulgação compartilhada na cidade. Até aqui, foram mais de 390 artistas participantes de várias partes do país, mais de 40 mil espectadores presenciais e 12 mil virtuais assistindo espetáculos de diferentes linguagens.
O trabalho foi reconhecido pela Prefeitura Municipal de Sete Lagoas que concedeu ao grupo o título de Utilidade Pública Municipal. Desde 2015, a Preqaria realiza também o "Curta Teatro – Festival de Cenas Curtas de Sete Lagoas" que recebe anualmente 12 Cenas Curtas de vários estados do país em espaços culturais da cidade. Desde 2018, o grupo é produtor local da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Sete Lagoas.
Também em 2018, o grupo inaugurou em Sete Lagoas o “Centro Cultural Nacional – Teatro Preqaria”, que se tornou a sede do grupo. Através de parceria longeva de sete anos com a Cimento Nacional, através da Lei Estadual de Incentivo a Cultura, a cia. fica na rua Aleixo Lanza, N° 41 - Canaã (RL)
