Nossa História

A NOSSA HISTÓRIA: Carta ao Sô Neném! (II)

“Sô Neném: Escrevo-lhe para dizer que aprecio muito o seu jornal, o qual leio com frequência. Sou do Rio de Janeiro, Capital, e também aprendi a amar Sete Lagoas, como o senhor benquer a sua Tabuleiro Grande, atual Paraopeba.

24/02/24 - 08:00

Por Amauri da Matta

Sei das dificuldades em manter a circulação da Gazeta de Paraopeba e por isso pago a minha assinatura em dia. Fiquei feliz ao saber da compra de uma nova impressora para a sua oficina gráfica e do contrato firmado com a Prefeitura. Bom saber, também, que por alguns dias as matérias foram impressas em Sete Lagoas, na Tipografia Cosmos (08-07-1934). Continue firme, pois o seu jornal é muito importante para a cidade e para a região. Não fraqueje diante das ameaças e perseguições daqueles que não aceitam críticas e são contra a liberdade de imprensa. Suas críticas, sempre oportunas, são redigidas com o devido respeito. Sua imparcialidade e compromisso com a verdade, a bem do interesse coletivo, ninguém pode negar. Muito triste foi a notícia de que assaltaram e empastelaram o seu jornal, conseguindo que ele deixasse de circular por três semanas (25-11-1922). Para que os seus leitores não fiquem em dúvida, informo – citando JOAQUIM ANTÔNIO SIMÕES EDMUNDO, na bela biografia por ele escrita – que “empastelar um jornal era um recurso criminoso, que consistia em revirar, misturar, embaralhar os tipos e outros materiais de uma oficina gráfica, perpetrado a mando de pessoas que se sentiam ofendidas pelo posicionamento adotado pelo periódico contra elas, às vezes por elas próprias, o que, obviamente, impedia que ele continuasse a ser impresso. Os trabalhos necessários a se colocar novamente a gráfica em condições de trabalho eram árduos e penosos, durando dias, do que resultava a saída de circulação do periódico por um certo tempo” (Manoel Antônio da Silva: o homem, o jornalista, pág. 101. Belo Horizonte: R&S Comunicação Visual, 2023). 


Saiba que a população, especialmente os mais pobres, tem grande admiração pelo senhor, por fazer caridade, inclusive na farmácia de seus filhos, ao prescrever remédios e ao aviar receitas. Sei, inclusive, do gesto de vingança praticado contra a sua pessoa, ao denunciarem-no por exercício ilegal da medicina. Mas, como era de se esperar, a ação criminal foi em vão, pois tudo era feito de graça. Acompanhei, aí em Paraopeba, a festa que a sociedade fez ao saber de sua absolvição e a bela apresentação da Banda União dos Artistas, regida pelo saudoso maestro Bernardo de Figueiredo, que, altiva, desfilou e tocou pelas ruas da cidade (10-02-1924). Recordo-me, ainda, da exibição de gala feita pelo Coral Santa Cecília, na solenidade de entrega dos diplomas aos formandos da primeira turma do Ginásio Padre Augusto Horta (23-12-1955), noticiada em seu jornal (1º-01-1956). Outro momento de alegria foi saber que o Dr. Ezequias Paulo Heringer, diretor do Horto Florestal, visitou Paraopeba e iniciou as atividades no local (27-09-1953). Certamente o senhor se recorda, pois o seu jornal também divulgou (16-11-1947), ter sido o nosso estimado Deputado Vasconcelos Costa quem apresentou, na Câmara Federal, o projeto de lei criando o Horto Florestal, hoje transformado na belíssima Floresta Nacional de Paraopeba (FLONA), localizada bem no centro da cidade. Enfim, a classe dos jornalistas de Sete Lagoas, e os seus leitores assíduos, sentiram muito a sua morte, na virada do ano de 1956 (31-12-1955). Sentimos, ainda mais, por saber que a edição seguinte do jornal, feita em sua homenagem, seria a última (1º-01-1956). Guardo comigo, até hoje, a matéria que noticiou a presença do Dr. Alonso Marques, Dr. Marcelo Viana, Prefeito de Sete Lagoas, João Herculino, Deputado Estadual, e o Sr. Moacir de Melo Moreira, da Rádio Cultura, vindos de Sete Lagoas para prestar-lhe uma última homenagem (Obra citada, pág. 471). Lembro, ainda, que, num feliz improviso, o Dr. Marcelo Viana “referiu-se aos laços de amizade que o prendiam ao diretor deste jornal, a quem levava, em nome do povo de Sete Lagoas, a sua oração de despedida” (Obra citada, pág. 469). Nossa gente, citada ao longo desta carta, tem pelo amigo grande consideração. Assim, triste, despeço-me. Descanse em paz! – Homenagem póstuma feita por este colunista ao Sr. Manoel Antônio da Silva, Diretor da Gazeta de Paraopeba.

Amauri da Matta

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